Crítica sobre o filme "Presságio":

Rubens Ewald Filho
Presságio Por Rubens Ewald Filho
| Data: 19/07/2009
O sentimento de poder sair de uma sessão totalmente surpreendido (e entusiasmado) diante de uma obra que não lhe prometia nada além da mediocridade é uma sensação incrivelmente poderosa. E o novo filme do imaginativo Alex Proyas (Eu, Robô) não só é um filme inesperadamente forte, mas um dos mais eficientes filmes-catástrofes à bater nos cinemas, reunindo uma narrativa interessante e uma parte técnica impecável para não só entreter, mas fulminar a audiência com uma grandeza intimidante. Sim, o enredo é bem implausível e irregular, e pode ser que a trama demore para engrenar. Mas mesmo quando o longa não parece ter muito o que mostrar ou dizer, é perceptível um senso de curiosidade crescente na direção focada e segura de Proyas, que imprime personalidade ao filme ao compor a experiência sempre cheia de referências, sejam estas mitológicas ou bíblicas, e nunca se consolidando a aceitar apenas um gênero. Presságio oscila entre o suspense, a ação, o drama e a ficção de maneiras muito intrigantes, transformando a experiência numa bem mais enriquecida e curiosa.

E são esses diferenciais narrativos – e o tour de force da direção de Proyas – que colocam Presságio muito além de um mero blockbuster, ao lhe imprimir uma imagem séria e realmente inteligente em seus detalhes e composições. O filme começa como todo filme do gênero começa, e vai rondando aqueles mesmos clichês e estereótipos até Proyas entregar total ritmo e energia à história, nos envolvendo e instigando diante de acontecimentos sempre fora do normal e detalhes visuais bastante intrigantes. E, quando percebemos, já estamos incorporadas à história e aos personagens de tal maneira que começamos a nos importar de verdade por seus destinos e pelo que está ocorrendo de fato ao mundo. Isso se torna ainda mais pungente na sublime cena cercando o trágico acidente de um avião. A cena é um plano-sequência virtuoso que, ao seguir o personagem de John pelos destroços do avião diante de gritos, sons ensurdecedores e imagens aterrorizantes, consolida o talento de Proyas em conduzir ação e emoção em apenas uma tomada, que ainda denota para um filme a prova de sua virtuosidade técnica – os efeitos visuais e sonoros perfeitos.

Depois desta cena, o filme alça vôo e não te larga, prendendo sua atenção ao conseguir inserir uma atmosfera muito bem arquitetada de paranóia e medo, entregando uma tensão ao filme extraordinária, que serve de atributo para duas cenas em especial que trazem a tona o talento de Proyas. E a trilha sonora reserva um papel essêncial na composição. De Marco Beltrami (Guerra ao Terror), a trilha nunca se submete ao usual e cria arranjos sinistros e tensos que fazem jus a aura que o filme abraça a certo ponto. E, claro, a escolha da música para pontuar a belíssima cena final não poderia ser melhor. A Sétima Sinfonia de Beethoven é a emblemática composição que marca os momentos finais (ousados) do filme com um brilhantismo chave. Alias, ao chegar ao fim, o filme nunca teme em abraçar o absurdo, e para isso é necessário que a audiência saiba que estão diante, de fato, de um filme de ficção-científica, com todas as bagagens. Mas é legal como a condução sombria e sinistra de Proyas sempre nos deixa adivinhando e curiosos diante do que ocorre.

O roteiro escrito á três mãos pode ter, então, algumas irregularidades e tropeços, mas reivindicam o valor assim que largam o usual para encaminhar a audiência por um tom bem mais desconhecido e curioso, e ainda conseguindo deixar tudo bem plausível e coerente. Mas os méritos maiores são de Proyas, que está sempre inspirado e aplica uma mão ora pesada e ora leve que oferece equilíbrio ao longa. Sua cena de catástrofe dentro de uma estação de metrô subterrânea é de impressionar, e é fascinante vê-lo arrancando uma atuação decente de Nicolas Cage (A Lenda do Tesouro Perdido – Livro dos Segredos), que finalmente fez algo bacana depois de cinco desastrosos filmes. Cage tem suas falhas, mas convence. Quem exagera às vezes é Rose Byrne (A Garota Morta), que por sua vez não tem uma personagem das mais coerentes. De qualquer forma, “Presságio†é um filme com méritos o suficiente para lhe garantir uma boa e segura recomendação mesmo para quem não é fã do gênero. Sua discussão acerca de Acaso e Destino pode não representar nada de novo, mas adiciona ao material, que vibra repleto de simbolismos e toques de emoção um tanto convincentes, que reverberam diante de um fim engajado de efeitos especiais. O equilíbrio é essêncial, o filme convence e entretem fervorosamente. Termina ainda com uma sutileza primorosa diante de algo tão absurdo. Isso é talento. (Wally Soares – confira o blog Cine Vita)

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Acredito que sou minoria, mas gostei e me envolvi com este Presságio, um filme que estreou bem nos EUA  e deve agradar àqueles que curtem histórias no estilo de A Última Profecia, com Richard Gere, ou O Mistério da Libélula. Ou seja, um filme de mistério, que envolve profecias, paranormalidade e mesmo um certo espiritualismo. É verdade que o tema apocalíptico pode assustar e o roteiro acaba fazendo uma melange de vários temas diferentes. O que importa é que o diretor Alex Proyas (O Corvo I, Cidade das Sombras, Eu Robô) conseguiu dar um tom convincente a uma história em que, ou você embarca, ou rejeita.

Ajuda muito a presença de Nicolas Cage, que já praticamente passou por tudo que é cara e penteado, mas acabou adquirindo autoridade e personalidade que o indicam para este tipo de aventura, que é ação, thriller, ficção cientifica e mistério. Ele faz John Koestler, professor de Física (será que o nome tem algo a ver com Arthur Koestler, autor anti-stalinista de "O Zero e o Infinito�), que desconfia que há uma ligação entre seu filho e uma garota que estudou na mesma escola. Ambos brincam com números (a lista dela foi descoberta numa cápsula do tempo, que foi enterrada na escola, e agora está sendo aberta, 50 anos depois). Ele vai estudar a lista e acaba descobrindo que é uma previsão de todas as catástrofes que vão acontecer (ou já sucederam na Terra naquele período). Prova disso, é que ele consegue estar justamente no lugar onde acontece um desastre de aviação (uma sequência muito bem realizada).

Dali em diante, ele se envolve com a filha e neta daquela profetiza, que também acha que algo está para acontecer. Começam a correr atrás de pistas, enquanto passam a ser perseguidos por figuras misteriosas, que podem ser mortos ou ETs. Bom, dali em diante não dá para contar muito mais. Haverá muitas cenas de efeitos especiais, bastante convincentes, e o filme tem uma conclusão doce-amarga; está longe de ser um ‘feel good’ daqueles.

Como eu disse, é questão de embarcar ou não, aceitar as premissas e curtir, ou rejeitar e ficar de fora. Só assim irão gostar mais deste Presságio. (Rubens Ewald Filho na coluna Clássicos de 13 de abril de 2009)

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Presságio (Knowing; 2008), o novo filme de Alex Proyas, é um dos muitos filmes norte-americanos que vieram a reboque dos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001; filmes assim materializam antes de mais nada o medo da América a certas catástrofes que estariam indicando o fim do mundo, especialmente o mundo conforme a visão ocidental tem disseminado há centúrias. De qualquer maneira, Presságio representa uma certa evolução formal no cinema de Proyas, que em Eu, robô (2004) já revelava seu gosto pelas situações pós-apocalípticas, mas ainda estava em estado muito embrionário e precário.

O problema de Presságio é que sua mirabolante história não tem poder de convencimento. É uma piada de terror que deriva para uma narrativa de catástrofe com toques de pieguice muito americana. Nicolas Cage é o astro talhado para esta bobagem bem feita à americana: sua cara de levar-se a sério e levar a sério todas as tolices pode fazer as delícias dos curtidores do gênero, mas não convence a não ser por um abaixar-se a uma ingenuidade excessiva; as relações da personagem de Cage com seu filho pequeno e com uma mulher que tem uma filha pequena que é descendente duma pequena e involuntária pitonisa dos anos 50 são superficiais, piegas, constrangedoramente pobres. Presságio é industrialmente bem feito, e só; o resto é trapalhada de roteiro.

Se FilmeFobia, o filme brasileiro de Kiko Goifman, identifica no diretor de cinema vivido pelo crítico Jean-Claude Bernardet a essência de terror do cinema, o possível horror buscado por um filme como Presságio é de outro naipe: passageiro, fácil, nunca se autoelaborando como em FilmeFobia. (Eron Fagundes)