Crítica sobre o filme "Eu Te Amo, Cara":

Wally Soares
Eu Te Amo, Cara Por Wally Soares
| Data: 21/08/2009
Eu Te Amo, Cara é uma comédia surpreendente em diversos aspectos. Não por ser um longa revolucionário ou particularmente original. Na verdade, o roteiro tem seus momentos previsíveis. O que o difere do "resto" é a forma refrescante com a qual aborda a fórmula habitual, e a dedicação especial que tem pelos seus personagens. É o tipo de comédia deliciosamente engraçada e oportuna que vem surgindo desde que Judd Apatow tomou o gênero pelos rédeas, ao produzir Superbad – É Hoje e dirigir Ligeiramente Grávidas, duas comédias originais que expandiram o gênero cansado a outros horizontes. É inevitável, alias, procurar o nome de Apatow nos créditos ao final da sessão. Desta vez, porém, o cineasta serviu apenas de inspiração. Capitaneado por John Hamburg (Quem Vai Ficar com Polly? ) e roteirizado por Larry Levin (Dr. Dolittle 2), o projeto também é uma (grande) surpresa tendo em vista o repertório de seus criadores.

O longa é um autêntico buddy film (ou filme de camarada, em português), narrando a história de Peter Klaven (Paul Rudd), um homem cuja vida gira em torno do trabalho e de Zooey (Rashilda Jones), que acaba de pedir em casamento. Com o surgimento das preparações para o casamento e o envolvimento das amigas de Zooey, Peter começa a perceber que nunca teve um amigo de verdade. Depois de caçar desesperadamente por alguém para chamar de camarada, Peter descobre Sydney (Peter Segel), um cara sincero e divertido, que começará a desempenhar o papel de amigo de verdade. Em boas circunstâncias, e em más. E aí se segue a fórmula de bons momentos, a grande decepção e, ao final, o grande reencontro. O roteiro é, em si, um aborrecimento. Com a diferença de que não é. Levin escreve com os contornos batidos, mas insere pompa nas entrelinhas que entrega ao filme uma novidade graciosa.

O grande propulsor do filme é, vale dizer, a dupla ótima formada por Rudd (Faça o que Eu Digo Não Faça o que Eu Faço) e Segel (Ressaca de Amor), que não só criam uma química esplêndida, mas oferecem desempenhos únicos repletos de camadas e grande personalidade. Parte do refresco que a obra entrega vêm desta energia proposta pelos atores. O timing cômico, o descompromisso e o sentimento são características virtuosas que almejam entregar aos papéis. O elenco ainda encontra prazeres pequenos nas participações de Jon Favreau (Homem de Ferro), Andy Samberg (Hot Rod – Um Louco Sobre Rodas) e J.K. Simmons (O Suspeito). O elenco feminino, por outro lado, não deixa uma boa impressão. Provando de vez que Eu Te Amo, Cara é assumidamente um filme sobre o mundo dos homens (e dos camaradas).

Eu Te Amo, Cara oferece então os ingredientes imprescindíveis que fazem uma comédia alçar vôo e, mesmo que encontre seus clichês e seus exageros típicos nos moldes das comédias mais "duronas" sobre amizade entre homens (como as piadas mais exacerbadas e nojentas), ele possui o suficiente para não só divertir, mas realmente marcar em termos cômicos e dramáticos, semeando a identificação em meio à audiência e atingindo um entretenimento bem exemplificado. Você ri e, logo depois, não sente vergonha por ter rido. As piadas são boas, os personagens são ótimos e os diálogos, excelentes. Então, assistir ao filme pela segunda vez se torna não uma opção, mas uma obrigação. Para os amantes da boa comédia, ao menos.

Contando ainda com ótimo ritmo, edição ágil e uma direção segura, a comédia se torna um buddy film autêntico, seguindo a onda iniciada por Segurando as Pontas com garra e furor cômico. Talvez por não ter medo de errar, e estar constantemente atrelado a testar a comédia ao mais alto nível, "Eu Te Amo, Cara" se torna tão bem sucedido. Mas, mais que isso, sua força vem da sensibilidade. Aquela que vê no termo do título valores simbólicos de camaradagem. Então o filme te vence pela sua caracterização certeira do relacionamento platônico entre homens, como um modo de viver necessário. Aumentar a música ao último volume, dialogar livremente sobre sexo e ser sincero. O filme de Hamburg traz estes valores de amizade a tona, e os molda de uma forma genuína que faz com que até os momentos mais batidos e previsíveis do filme se tornam, de repente, refrescantes. Como aquele que traz uma certa reconciliação entre o casal principal. Durante um discurso mais que clichê e um clima ameno entre ambos, um certo homem passa por meio do casal soltando um arrogante arroto. É a forma do roteirista nos dizer: você já viu este filme mas, na verdade, você ainda não viu este filme. (Wally Soares – confira o blog Cine Vita)