Crítica sobre o filme "Kapo - Uma História do Holocausto":

Eron Duarte Fagundes
Kapo - Uma História do Holocausto Por Eron Duarte Fagundes
| Data: 07/09/2009
O italiano Gillo Pontecorvo foi um realizador cinematográfico bastante discutido nos anos 60 que dividiu as opiniões de então, que oscilavam entre o fascínio por sua forma rigorosa de filmar e as simplificações políticas contestáveis de seus roteiros. Como outro artista italiano, o escritor Primo Levi, Pontecorvo teve fortes interesses políticos que condicionaram sua obra e se interessava por química (aliás, Levi foi um conceituado químico; creio que Pontecorvo não chegou a tanto, somente estudou a matéria).

Kapo (Kapo; 1960), roteirizado por Pontecorvo e Franco Solinas, tem, segundo o próprio cineasta, uma inspiração não episódica no livro É isto um homem? , de Levi, isto é, Solinas e Pontecorvo criaram um roteiro que se esforçasse por captar o processo de humilhação do ser humano nos eventos do século XX. No centro da ação político-histórica de Kapo, mulheres judias num campo de concentração nazista; uma destas judias, protagonista, se torna uma kapo, isto é, uma calaboradora das malvadezas nazistas. Sinuosamente, a personagem de Susan Strasberg desliza pela narrativa, em suas contradições, e vem a apaixonar-se por um judeu russo ali preso, vivido magnificamente por Laurent Terzieff. O caso de amor entre os dois (o que foi motivo inicial de discórdia entre Pontecorvo, que queria algo essencialmente político, e Solinas, que inseriu o enleio amoroso) suaviza (talvez demais) o rigor documental de Kapo.

Uma das grandes sequências de Kapo é aquela em que a personagem de Emmanuelle Riva (a mesma de Hiroshima, meu amor, 1959, do francês Alain Resnais) corre campo afora fugindo dos olhares nazistas para, suicidando-se, desabar na cerca elétrica do campo; toda a magnífica composição de cena de Pontecorvo está inteira nestas imagens de Kapo, que, de qualquer maneira, está bastante longe de trabalhos como A batalha de Argel (1965) e Queimada (1969), os mais referidos de Pontecorvo. (Eron Fagundes)