Crítica sobre o filme "Segurança Fora de Controle, O":

Wally Soares
Segurança Fora de Controle, O Por Wally Soares
| Data: 23/09/2009
Eis aqui um filme difícil de aceitar. O Segurança Fora de Controle é duro, ríspido, raivoso, nojento, rancoroso, rude, baixo e todos os outros sinônimos que podemos encontrar para exemplificar pura indignidade. No cenário das comédias atuais, ele encontra seu lugar ao lado de tantas outras que apostam no humor mais pesado, almejando construir o cômico em cima de emoções mais baixas. Em vezes dá certo, em outras o grau de obscenidade simplesmente se eleva demais. E é nesta síntese que "O Segurança Fora de Controle" se aplica. A comédia é repleta dos momentos engraçadíssimos, com gags eficientes e piadas "dignas", mas mais do que o desejável costuma sucumbir ao mal gosto. Sua rentabilidade, portanto, estará totalmente relativa à tolerância de sua audiência. Não esperem moralidade deste filme. Na verdade, é a última coisa que se pode esperar dele. Que os conservadores fujam, pois o que temos aqui é um caso bruto de politicamente incorreto.

O filme segue a história de Ronnie Barnhadt (Seth Rogen), chefe de segurança de um shopping center que sempre leva seu trabalho muito mais a sério do que deveria, e acredita veementemente estar fazendo o papel de policial de verdade. Quando um pervertido começa a surgir no shopping mostrando sua nudez para os clientes, Ronnie se vê na obrigação de caçá-lo, ao passo que nutre uma paixão "especial" pela bela e fútil Brandi (Anna Faris). Com a chegada de um detetive para resolver o caso no shopping, Ronnie começa a sonhar em virar policial. Nesse meio tempo, insulta o máximo número de pessoas possíveis, comete todos os rancores disponíveis e age como um babaca.

A certo ponto do filme, você já está de saco cheio da idiotice de Ronnie. E a falha do roteiro é não deixar claro que ele sofre, na verdade, do transtorno bi-polar, que é uma psicose maníaco-depressiva que o faz cometer seus ultrajes. Tal fato só é apresentado muito adiante no filme, apesar de sabermos que ele usa remédios especiais. Com isso, aprendemos a aceitar a condição cancerosa de Ronnie em poluir o ambiente e causar cenas embaraçosas. O roteiro por muito tempo o trata superficialmente, mas aos poucos começa a empregar mais dimensão ao personagem, o que realmente contribui para a aceitação da audiência do personagem. Afinal de contas, como torcer para o personagem principal quando este é tão obsessivamente babaca? O ator Seth Rogen (Pagando Bem, que Mal Tem? ) costuma fazer o personagem desajeitado, grosso e irresponsável em seus filmes habituais, mas sempre esconde uma natureza afável. Aqui, ele despe de qualquer natureza cordial e mergulha no persona rude de seu personagem. O que vem a tona de início incomoda, e Rogen encara a canastrice. Mas logo percebemos a dedicação do ator, e a dureza do personagem resulta em uma inesperada virtude.

O diretor Jody Hill comentou que suas intenções eram a de realizar uma espécie de versão cômica para Taxi Driver e, de certo, alguns diálogos mais intensos de Travis podem ser aplicados ao próprio Ronnie do filme, sofrendo um grave tratamento cômico, claro. Então O Segurança Fora de Controle precisa aceitar seus exageros como uma comédia excessivamente babaca e impessoal. Mas não se pode rebaixá-lo pela simples vil natureza de seu personagem (que, afinal, tem um problema psicológico). O filme arranca seus risos fáceis e, uma vez ou outra, causa até algumas fortes gargalhadas. A presença de Anna Faris (A Casa das Coelhinhas) é sempre garantia de humor acertado. Todas as cenas com a atriz funcionam, e não tem como evitar o mero sorriso ao vê-la emplacar uma personagem com um humor tão perfeito em timing cômico. Destaco a cena de sexo entre sua personagem e a de Ronnie, resultando em uma cena absurdamente cômica e eficiente em sua proposta.

O filme foi rebaixado ao lançamento direto nas locadoras no Brasil, e não me surpreendo. A Warner Bros. havia censurado o filme quando este havia sido produzido, obrigando os criadores à fazerem algo mais leve. O problema é que, quando chegou a hora das exibições teste, a audiência gostou mais da versão barra pesada. E, de fato, a audiência atual está mais apta à abraçar um filme ultrajante como O Segurança Fora de Controle, que chega com sua censura máxima às locadoras brasileiras com ótimo elenco, personagem totalmente repreensível, piadas desreguladas e muita besteira. O filme nem sempre funciona graças ao seu roteiro demasiadamente sujo, que ainda é lotado de inverossimilhanças e eventos ilógicos. Mas a direção de Hill traz algo à mais, construindo algumas cenas intercaladas com vigor e outras que atingem o lirismo cômico graças à ótima utilização de música. A cena do clímax, ao som de "Where Is My Mind?", vem à mente. O filme é extremamente bobo. Mas não precisa ser bobo para se divertir e dar risos soltos com seu grau sempre elevado de absurdo. Às vezes, precisamos de algo rude para desabafarmos a raiva momentânea. Aqui, o personagem principal é nosso elo, ainda que o roteiro o mantenha sempre à certa distância.