Crítica sobre o filme "Tinha Que Ser Você":

Wally Soares
Tinha Que Ser Você Por Wally Soares
| Data: 25/09/2009
Quando Tinha que Ser Você encontra seu desfecho, com apenas noventa minutos de duração, o sorriso no rosto é quase inevitável. É uma raridade encontramos um filme que conecte tão bem com sua audiência, e o que ocorre aqui é uma simples e afetiva combinação de elementos virtuosos para compor uma história intimista e agridoce. Isso ocorre por dois motivos em especiais. Primeiro, a ternura de um roteiro que permite que não só os personagens relacionem entre si, mas que a audiência se relacione também, fazendo com que a experiência de se assistir à obra torne-se imensamente recompensadora. O segundo motivo é muito óbvio. Os dois protagonistas da obra são atores dos mais elevados padrões em termos de talento em Hollywood. Além de terem atingido elevado grau de popularidade, são dois atores que pavimentaram, com o passar do tempo, carreiras emblemáticas. Mas em Tinha que Ser Você eles se livram de qualquer bagagem, e partem para um envolvimento refrescante e novo em terreno desconhecido. Não há nada mais sincero que o desempenho de ambos.

Dustin Hoffman e Emma Thompsons são Harvey Shine e Kate Walker, respectivamente. Harvey é um músico nova-iorquino que anda tendo problemas com sua carreira graças à evolução do mercado, onde parece estar sendo substituído por jovens promissores e pela tecnologia. Ele parte para um fim de semana em Londres para o casamento de sua filha, Susan, com a preocupação de ter que voltar logo para Nova Iorque para não perder seu emprego. Chegando lá, se sente excluído e, em seguida, devastado ao ouvir de sua filha que ela queria ser levado ao altar pelo seu padrasto. Harvey então parte no dia do casamento ao aeroporto, onde perde o vôo e se vê preso em Londres. É quando ele começa a se relacionar com a triste e solitária Kate, que cuida de sua mãe e sofre de desilusões amorosas, não se relacionando com ninguém. Os dois iniciam uma amizade e começam a relacionar consigo mesmos de formas inesperadas e profundas.

O filme é uma jornada durante o fim de semana destas duas pessoas claramente perdidas e sufocadas em suas próprias vidas medíocres e que, em um choque súbito, encontram em si mesmos um refúgio emocional. Em outras palavras, do tipo de história que toca, comove e até emociona. O filme é feito com sensibilidade, os diálogos são sinceros e nada (absolutamente nada) soa falso. O que evita que Tinha que Ser Você se transforme em um drama intenso e memorável é a leveza exagerada com a qual é conduzido e a dedicação quase frustrante do diretor à elementos usuais. Desde a trilha sonora enfadonha às viradas previsíveis da trama, o filme nunca alça vôo porque se restringe demais ao habitual. O simples se torna simplista, e a leveza se torna enfadonha. Mas o incrível é a forma como a dupla de protagonistas almeja reacender qualquer fogo apagado. Mesmo quando o filme perde o fôlego, Hoffman e Thompson o entrega nova vida.

As cenas intimistas se tornam o destaque. Sempre quando adentramos uma cena focada nas emoções honestas de seus dois personagens e revestida pelas camadas de riqueza inserida pela força dos atores, não podemos evitar o encantamento. E o filme provoca o encanto diversas vezes justamente por deixar a porta aberta para a audiência se relacionar com o que é apresentado. Então, podemos nos identificar, consolar ou mesmo nos afeiçoar. E então rimos honestamente quando é engraçado, sorrimos quando é terno e emocionamos quando é comovente. A ação e reação aqui funciona. Ao menos quando o filme está se dedicando ao naturalismo genial que se inicia entre seus personagens. Um naturalismo que inunda a obra de sinceridade e realismo. Vemos a vida e o amor pelos olhos de duas pessoas tão distintas quanto próximas de nós mesmos. E o efeito é fascinante.

É o segundo longa-metragem de Joel Hopkins, que dirige e roteiriza. O roteiro, por sua vez, foi escrito especialmente para Hoffman e Thompson. E eles, de fato, se encaixam nos personagens como luvas. Hoffman encontra o papel perfeito para este momento em sua carreira, compondo com leveza e densidade. Ao seu lado, Thompson intensamente abraça sua personagem complexa. E, juntos, revestem Tinha que Ser Você de urgência e autenticidade. Enquanto isto, Hopkins oscila seu olhar para momentos desnecessários, e somos obrigados a oscilar nosso próprio olhar do relacionamento tão afetivo e genuíno que estava sendo articulado em outro quadro. É um belo romance que tenta ser um drama mais abrangente. Mas, o que Hopkins não percebe é que o filme "é" Hoffman e Thompson, e os dignos diálogos que fluem entre si mesmos. O resto, vira resto.