Por Wally Soares
| Data: 07/10/2009
Dragonball Evolution baseia-se em cultuada mangá japonesa e em uma série animada que, desde 1986, tem feito fãs ao redor do mundo, conquistando com mitologias e personagens envolventes. Pessoalmente, sou um estranho para este mundo. E é indubitável que, de uma forma ou de outra, a experiência de se assistir à Dragonball Evolution, primeira adaptação cinematográfica do material, será diferente para os conhecedores do mundo retratado. Existe um valor nostalgia que pode se mostrar irrepreensÃvel, e fãs podem sair satisfeitos. A verdade incontestável, porém, é que o filme é cinema de mais baixo padrão. Tão pobre em aspectos relevantes que a simples experiência de se assistir ao longa duração pode se igualar em mediocridade até para aqueles que conhecem os personagens na palma da mão. Alias, já foi dito que, em suas diversas liberdades "criativas", é uma obra que se distanciou bastante de sua origem. E, se o material original de fato possui algum valor, é seguro afirmar que Dragonball Evolution esmiúça qualquer aspecto no mÃnimo plausÃvel.
O longa inicia-se com uma introdução, narrando sobre a batalha dos deuses nas estrelas, e o aprisionamento de uma tal força do mal. Como seria de se esperar, esta tal força irá se desprender de alguma forma, e assim a trama do filme tem inÃcio. Somos então introduzidos à Goku (Justin Chatwin), um jovem que acaba de completar 18 anos e vive com seu avô, que o treina nas artes de luta e o ensina à liberar seu "ki", uma força poderosa dentro de si mesmo. Mas Piccolo, o vilão que pretende libertar o mal sob a Terra, surge à procura de sete bolas de fogo (as tais "dragonballs" do tÃtulo). Goku precisa então juntar força com amigos e o Mestre Roshi (Chow Yun-Fat) para reunir as sete bolas antes que a eclipse solar ocorra e Piccolo traga a tona o apocalipse.
A partir daÃ, a história implausÃvel e imensamente superficial tem inÃcio, concentrando uma overdose de personagens fracos e uma trama que enfrenta a total irrelevância pela ausência total de elementos sedutores. Todo o desenvolvimento de Dragonball Evolution soa mal estruturado, nocivo e desinteressante. Os personagens nunca convencem, ao serem compostos por terrÃveis diálogos e uma caracterização inibida de personalidade. Alias, os figurinos são toscos, assim como toda a direção de arte. Nenhum cenário empolga e o futuro do filme é retratado de uma forma lamentavelmente preguiçosa. É incansável a procura por algum fator que se destaque e revele que, sim, este filme possui algo a entregar e um motivo para existir. A jornada pelo sentido da vida do filme, porém, é em vão. A sessão termina e, nada ali fez sentido, nenhum ato possuiu textura e a existência da obra se revela um fenômeno muito superestimado.
O grande problema aqui é que simplesmente não houve inspiração ou concepção. Os personagens, a ação e os elementos narrativos são jogados na tela sem qualquer fundamento. A mitologia da história soa fraca e imbecil, marginalizando o mangá e transformando aquele mundo em um palco para jogos infantis. O roteiro de Dragonball Evolution é interminavelmente simplório. Desde o inÃcio, cercando o envolvimento do personagem de Goku com a escola, até os minutos finais que beiram o absurdo, a obra parece se limitar ao desejo de agradar jovens na faixa dos dez anos de idade. E, quem sabe, talvez nesta tarefa eles tenham sido bem sucedidos. Os efeitos especiais são um fracasso, para dizer o mÃnimo, mas talvez as crianças não se importem. Talvez se divirtam com o senso excessivamente infantil da história, que coloca personagens bobos em uma trama oca, esperando que faÃscas sejam concebidas sem realizarem algum esforço notável. Mas a faÃsca nunca nasce, e o filme nunca vive, permanecendo enterrado sobre quilos de clichês, camadas de artificialidade e sensos deploráveis de estruturação de script . A todo momento, o roteiro sacrifica a plausibilidade de sua história para dar andamento à narrativa, o que resulta em uma metragem corriqueira e ocasionalmente intragável.
Entre a total falta de vida de sua estrutura, tentativas de humor fracassadas e efeitos especiais risÃveis, o elenco surge para tentar injetar alguma espécie de espÃrito à obra, mas falham ridiculamente. Justin Chatwin, como Goku, até surge cheio de carisma, mas assim que é requerido dele alguma dramaticidade , qualquer qualidade desaparece. Talvez os únicos momentos bem dirigidos do filme são aqueles em que, percebendo a falta de talento de Chatwin, o cineasta James Wong oscila a câmera para não enfraquecer ainda mais o longa. Ao lado de Chatwin, a ótima Emmy Rossum surge totalmente perdida e o ocasionalmente decente Chow Yun-Fat lida com a própria canastrice ao interpretar com energia em excesso. O personagem, claro, não ajuda. E, quando ele elogia uma idéia de Goku em certo momento da metragem, gritando um vÃvido "Impressionante!", a audiência por sua vez precisará relutar para não gritar "Intragável!" para a tela. Não existem elementos a serem apreciados aqui. A ação é leve e banal, a fantasia mal concebida e o divertimento tão nulo quanto o senso de aventura que obrigatoriamente teria que existir. Fãs do material original, desafio-vos a apreciar este pedaço desastroso de cinema.