Por Wally Soares
| Data: 10/10/2009
O timing de Trama Internacional é interessante. Seguindo a tendência atual de suspenses de espionagem, o filme trata-se de um banco, e traz esta grande corporação como a grande vilã da trama. Um aspecto no mÃnimo interessante (e urgente), dado o estado atual das coisas. Neste caso, ele une-se à obras como a excepcional Conduta de Risco, que mostrava que o terror era interno. Mas o que torna o timing de Trama Internacional realmente interessante é vê-lo aportar nos cinemas logo após a pior crise econômica da história dos Estados Unidos. Na verdade, o filme estava programado para estrear em Agosto de 2008 em solo estadunidense quando, ao ser exibido em sessões teste, foi levado de volta à sala de edição (o diagnóstico seria a falta de sequências de ação). A estreia foi então adiada para Fevereiro de 2009, o colocando no olho do furação de uma crise perigosa. E o fato de Trama Internacional retratar as conspirações e as sujeiras de um banco faz com que ele tenha uma intensidade e uma relevância quase palpável. Até certo ponto, sentimos como se fosse a obra definitiva sobre o gênero. Não delonga, porém, até que suas falhas se tornem visÃveis, e a força inicial começa a se desgastar em uma trama sem emoção.
O filme foi inspirado pelo escândalo do banco BCCI (ou Bank of Credit & Commerce International) nos anos 80 e 90. Na trama, o agente Louis Salinger (Clive Owen) e a promotora pública Eleanor Whitman (Naomi Watts) investigam um dos bancos mais poderosos do momento, decididos a encontrar provas que o destrua. Em uma expedição global que os levam de Berlim ao Milão, para Nova Iorque e até Istambul, não demora até que ambos tenham encontrado podres o suficiente para iniciar uma guerra. Mas, a busca por provas concretas que tragam a verdade à tona colocará a vida dos dois em risco, ao passo que o banco irá à extremos para continuar suas ilegalidades totalmente ancoradas em um senso inescrupuloso de ganância.
Sob o comando de Tom Tykwer, diretor alemão que havia impressionado com o espetacular Perfume: A História de um Assassino, o longa já inicia-se esteticamente interessante. Tykwer traz um pouco da vertigem visual de seu trabalho anterior, e transforma o longa em uma obra visualmente ambiciosa. A fotografia carrega consigo sempre os tons perfeitos, a edição nas sequências de ação são um primor e a trilha sonora possui momentos ótimos. No todo, é um trabalho técnico proveitoso. Uma cena em especial impressiona. A grande cena de ação da obra (que realmente possui poucas, se concentrando mais nas engrenagens da trama), a sequência traz um tiroteio intenso no famoso Guggenheim - museu em Nova Iorque - e realmente deixa uma forte impressão. Vale notar que as filmagens no museu de verdade foram impossÃveis (obviamente), então uma réplica em tamanho real do interior do museu foi construÃda. O trabalho de arte, impecável, garante minutos de verdadeira ação e, mais importante, valioso cinema. Tykwer possui talento com sua câmera.
O engodo de Trama Internacional está, basicamente, em seu roteiro. Totalmente concentrada na trama e em suas tecnicalidades, o filme perde rapidamente o calor humano, os personagens ficam em segundo plano e a audiência começa aos pouco a se desprender da experiência, que outrora poderia ter sido tão essencial. Por um lado, a sequência explosiva no Guggenheim teve timing perfeito e ofereceu uma quebra eficiente no que se diz respeito à narrativa mais técnica e lenta. No mais, Tykwer falha em oferecer maior dinamismo à trama, apesar da realização soberba em aspectos visuais. O que move Trama Internacional além de suas inibições é o talento do elenco, cujos membros oferecem o equilÃbrio que faltava para a narrativa encontrar seu pique mais dramática e necessariamente humano. Neste caso, Clive Owen (Duplicidade) surge como uma escolha fundamental e eficiente, transferindo segurança e consistência ao personagem. Sua motivação, e a relevância de um ataque dignificado à uma corporação revestida em sangue faz com que a audiência se identifique, e torna a experiência muito mais satisfatória.
Enquanto Owen comanda a narrativa, a sempre excepcional Naomi Watts (Violência Gratuita) definha diante de uma personagem muito mal aproveitada pelo roteiro. O sentimento que fica, ao fim, é de que várias de suas cenas foram cortadas, fazendo com que o trabalho da inestimável atriz se assemelhe ao de uma coadjuvante descartável (para dizer o mÃnimo). Outro grave problema ocorrida na sala de edição fica por conta da necessidade burocrática de acoplar o máximo de cenas de ação à obra. Individualmente, são bem arquitetadas. Mas, no plano geral, algumas soam irrelevantes. Em sÃntese, este não é um filme de ação. Um suspense sofisticado, cheio de urgência e detalhes sórdidos em sua visão de uma realidade corrompida, mas nunca uma obra de ação. Mas é irônico, portanto, ter que consolidar a sequência de ação no Guggenheim como o melhor momento do filme. Trama Internacional não te acompanha para fora da sessão. Seu discurso é frÃvolo e falta a dramaticidade. A experiência de assisti-lo, porém, é proveitosa, trabalha com elementos virtuosos e o entretém enquanto o efeito dura. Mas, em termos do retrato de um evento tão escandalosa, deixa a desejar.