Crítica sobre o filme "Mulher Invisível, A":

Wally Soares
Mulher Invisível, A Por Wally Soares
| Data: 21/10/2009
Com Se Eu Fosse Você, o cinema nacional abraçou um tema que faz sucesso em terras estadunidenses desde os anos 70. Uma união entre o fantasioso e a comédia que levou milhões às telas brasileiras em sucesso comercial bastante intimidante. O mesmo não se podia ser dito, porém, quanto à qualidade da produção como cinema. A continuação (que abaixou o nível ainda mais) chegou este ano aos cinemas de forma esmagadora e se tornou a maior bilheteria nacional desde a retomada. Com A Mulher Invisível, que almejou sucesso quase tão contundente, Claudio Torres traz a tona a idéia do filme de Daniel Filho, ao realizar uma comédia romântica que bebe da fonte de filmes do gênero americanos que trazem elementos sobrenaturais. A diferença é gritante: enquanto Daniel Filho fez um caça-níquel que funcionou pelo talento da dupla de atores, Claudio Torres realiza uma obra que, ainda que não seja de toda perfeita, faz rir sem apelações e, no caminho, constrói drama humano cheio de charme e esperteza. Um fracasso em termos cômicos quando o nome de Jorge Furtado se ausenta dos créditos, o gênero no mercado nacional finalmente começa a abrir as asas e evoluir à outros patamares.

O filme abre com uma especial dedicação de Pedro (Selton Mello, excelente), à sua mulher. Logo, cortamos para a chegada do marido em casa com flores na mão para agradar sua mulher. Na cena, ela revela que ele é o homem perfeito, mas não deixa de pedir o divórcio e dizer que está grávida (de gêmeos!). Pedro entra então em uma profunda depressão. Passado alguns meses, ele conhece Amanda (Luana Piovani), vizinha que nem sabia que existia. Ela é perfeita, em todos os aspectos. Ele então se apaixona por ela, sem saber que ela faz parte apenas de sua imaginação.

O enredo (divertido) dá lugar à algumas sacadas bastante espertas, que são usadas ao decorrer da metragem para trazer a tona um humor delicioso. Apesar das cenas que trazem Selton Mello contracenando consigo em espaços públicos serem muito engraçadas, o destaque fica por conta do próprio Mello, que realiza algo totalmente diferente que tudo que já fez. Ele cria um personagem singular e apaixonado. Uma fonte de energia e dinamismo para o filme que é simplesmente inegável. Nem todas as cenas funcionam, por sua vez. Várias passagens do roteiro soam fracas e, muitas vezes, certas situações surgem óbvias. Mas, a todo momento, a simples presença de Mello parece enaltecer as cenas à um nível idílico.

A química entre Luana Piovani e Mello nunca chega a soltar faíscas (como deveria), o que é uma pena, mas ambos realizam trabalhos decentes ao tornarem o romance imaginário em algo sólido. De fato, até a centralização da personagem de Vitória, que é interpretada por Maria Luisa Mendonça de forma correta, o filme não vai além da comédia. Com Vitória mais ativa no enredo, e a presença de Carlos, melhor amigo de Pedro interpretado por Vladimir Brichta com bom timing cômico, o filme começa a entrar em território mais inesperado. Em típicos filme do gênero (leia-se comédias românticas) nos tornamos acostumados à certos clichês. E, ocasionalmente, surgem alguns. Mas, na maior parte do ato final, Torres roteiriza de uma forma que desvie de caminhos convencionais. Como se assumisse uma estrada totalmente inesperada no meio do caminho. O caminho é absolutamente proveitoso e traz um tom muito sóbrio ao longa em termos dramáticos (e românticos), mas talvez não tenha sido conduzido por Torres da forma mais correta. O ato final soa estranhamento longo e excessivamente detalhado, como se trouxesse elementos de difícil digestão para um público mais convencional e tivesse que ser mastigado. Isto não evita, porém, que o filme ganhe pontos ao ser original e, no caminho, sincero na sua abordagem do amor e dos sentimentos humanos, tais como a solidão. No fim das contas, o sorriso é inevitável. A Mulher Invisível é o cinema nacional tentando elevar o gênero desgastado da comédia. Nada de propagandas gratuitas no meio da metragem ou tentativas de humor bestiais. Não é a perfeição, mas é a prova de que estamos chegando lá. Com a ajuda de nomes como Jorge Furtado e, agora, de Claudio Torres, podemos elevar nossas esperanças. Então, relaxe e aceite a diversão descomprometida que é A Mulher Invisível, que pode errar a mãos e insistir em certos erros, mas traz a tona virtudes que fazem valer a pena de uma forma quase absoluta. Seja na participação hilariante de Fernanda Torres, no rumo melancólico que adquire em seu retrato da solidão humana, ou na atuação impecável de Mello. É bom cinema, acima de tudo, deixando de lado qualquer sintoma novelesco. E, só por isso, Claudio Torres já merece certa salva de palmas.