Por Wally Soares
| Data: 22/10/2009
De acordo com Michael Bay, diretor de Transformers: A Vingança dos Derrotados, o tom de seu filme é uma fusão entre Ben-Hur e Apocalypse Now. Engraçado, não? Hilariante, na verdade. Existe, sem dúvida alguma, um público para o filme de Michael Bay. O primeiro filme, que foi ótimo entretenimento apesar das falhas, com certeza conquistou um grande número de seguidores. Mas esta sequência é um fiasco extraordinário como obra da sétima arte. E ler um comentário tão vergonhoso do cineasta colocando seu filme no mesmo nÃvel que obras importantes e belas como as de William Wyler e Francis Ford Coppola me faz questionar não só a capacidade de Bay como cineasta, mas sua saúde mental. Estaria ele tão convencido de seu trabalho que se vê no direito de compará-lo com dois filmes que, em suas respectivas forças, elevarem-se de seus gêneros, se transformando em obras de grande influencia e repercussão? Se Transformers: A Vingança dos Derrotados influencia o gênero da ficção-cientÃfica de alguma forma, é esmiuçando este à pura irrelevância.
Na história de A Vingança dos Derrotados, Sam Witwicki (Shia LaBeouf) está partindo para a faculdade e deixando para trás os pais e sua namorada, Mikaela (Megan Fox). Mas seu inÃcio de ano em Princeton é adiado quando, em acidente, toca em pedaço do cubo que fora destruÃdo no filme anterior. O toque envia um excesso de informações e códigos à sua mente que, nas mãos erradas, pode trazer a tona o fim do mundo. Enquanto isso, os robôs Autobots continuam trabalhando para o governo para encontrar Decepticons espalhados pelo mundo, mas se tornam o alvo quando o lendário Derrotado planeja retorno à terra, atrás de Sam para encontrar uma fortaleza que reuniria sua espécie e tomaria a terra.
Desde os primeiros segundos do filme, não tem como apagar aquele sentimento irritante de que a simples existência desta sequência é um fator desnecessário. Inspirado levemente no cinema de Spielberg, o Transformers original só pecou mesmo por trazer aqueles tiques exacerbados de Michael Bay e por, na hora final, esquecer totalmente de contar uma história para registrar plena ação. O longa trazia a tona humor delicioso e, ao lado dos efeitos incrÃveis, elevava entretenimento de forma incontestável. Tudo nesta continuação, porém, está elevado à potência. A duração é mais longa, os personagens estão mais bobos, os diálogos mais patéticos, o drama mais forçado, o artificialismo mais potente e a falta de percepção cinematográfica, mais gritante. Sem contar que a ação toma por assalto a metragem de inÃcio ao fim. Filmes cheios de ação são ótimos, quando coerentes e bem compostos. Aqui, é tudo uma bagunça. É pura correria e estilização. Não há momento para respirar ou brecha para pensar. A cada segundo, nossos sensos são atacados. Seja pelo excesso de ação bombástica ou o senso indecente de humor.
Acima de tudo, A Vingança dos Derrotados é um filho de Michael Bay, um diretor que já cansa por, em todos os seus filmes, realizar os mesmos planos, focos e destaques. Seja a forte iluminação do sol, o fetiche pelo exército americano, a incansável destruição de bases militares ou as mesmas perseguições idênticas com helicópteros inevitáveis... Enfim, este “é†um filme de Bay, e traz consigo todos os defeitos que poderÃamos esperar. O diretor, por sua vez, já errou muito, mas admiro seu Transformers original e A Ilha, que é uma boa ficção-cientÃfica. O que ele fez em “A Vingança dos Derrotadosâ€, porém, é algo que vai muito além de seus filmes mais pobres. Aqui, ele assume a completa mediocridade. Não há uma cena de seu filme que não tenha um ar burocrático ou um senso artificial. O drama humano, que seria o contraponto aos robôs, é forçado e exagerado no humor dispensável.
Quando o foco muda para os robôs, não sentimos interesse ou apego. Passado a primeira hora de duração, que é estranhamente envolvente, o filme começa a cansar e desgastar por nos submeter à elementos óbvios de formas inconsequentes. Fãs da ação contÃnua que estiverem disposto a entreolhar os detalhes provavelmente serão divertidos. E a dedicação de Bay em termos visuais garante isso. Os efeitos especiais são impecáveis e possuem uma desenvoltura técnica impressionante. Eles são quase deslocados ao ser inseridos em um filme que, por sua vez, garante o bocejo e o riso involuntário.
O mais trágico no filme, no final das contas, é aguentar duas longas horas em antecipação por um clÃmax cheio de emoção e ser depravado deste simples prazer pela incapacidade do diretor em fazer com que sua história tome um rumo plausÃvel. A meia hora final ganha um ar de anti-clÃmax, com ação irregular e mal filmada, onde a história já desandou e você nem sabe, de fato, o que está acontecendo em tela. E, aÃ, de uma forma abrupta, o filme termina. Depois de se exceder em todos os aspectos possÃveis, o longa encontra seu desfecho de forma patética (com o óbvio gancho para inevitável terceiro capÃtulo). Os quase US$900 milhões arrecadados mundialmente justificam por completo uma sequência, mas não espelham o que o filme tem a entregar como cinema. Elenco fraco, trilha peculiar, cenas constrangedoras e um diretor que, em seu frenesi, não consegue realizar uma tomada que tenha mais de 30 segundos. Tudo é rápido, ágil e mastigado, totalmente orquestrado com base em estilização de efeitos digitais. A montagem, em sua overdose de adrenalina, pode provocar sérias dores de cabeça. Um analgésico é obrigatório ao término do filme.