A formidabilidade de se testemunhar o futuro está diretamente ligada à concepções artísticas, criativas e textuais. Ao menos no cinema. Volta e meia, nos deliciamos com obras que densamente exploram o que pode vir a ser o futuro da humanidade. E o que vemos em O Exterminador do Futuro: A Salvação é, em parte, uma experiência assoladora. De fato, o pessimismo do mundo retratado e a decadência humana de uma era consumida pelas máquinas traz um desconforto irremediável. Então, eis aqui um filme que instiga e causa uma impressão sem necessariamente ser virtuoso. O mundo aqui construído nasceu de uma idéia já concebida em outras obras, remanescente na femonenal obra de ficção-científica de James Cameron, O Exterminador do Futuro, e posteriormente em sua sequência impecável. O que o diretor McG imagina, já havia sido concebido como idéia e pretexto. Em outras palavras, O Exterminador do Futuro: A Salvação deve muito à saga que o antecedeu, da mesma forma que McG deve muito á James Cameron. Até certo ponto, McG até parece honrar a noção pessimista e, mesmo rodeada de máquinas, humana, criada por Cameron. Mas seu filme sucumbe facilmente ao burocrático e se perde no mecânico antes que almeje cravar suas garras na audiência. Como obra de entretenimento, o filme funciona. Mas suas pretensões não o levam mais adiante que esta noção hollywoodiana.
A data é 2018. O mundo pós-apocalíptico prevido nos filmes anteriores está consolidado. As máquinas agoram dominam a humanidade e a única esperança parece residir com John Connor (Christian Bale, de Batman: O Cavaleiro das Trevas), líder da resistência que pretende destruir a Skynet e sua legião de exterminadores. Quando Marcus Wright (Sam Worthington) surge, porém, tudo para o qual Connor havia se preparado é desafiado. Wright acorda em 2018 com a lembrança vaga de estar no corredor da morte e esconde consigo uma revelação aterradora. O lado humano de Wright, porém, o leva a se juntar à Connor em sua guerra. Connor, por sua vez, precisa lidar com o surgimento de seu pai e o perigo que pode leva-lo a nunca concebe-lo. O enredo pode soar básico, mas a experiência de se assistir à O Exterminador do Futuro: A Salvação pode trazer detahes sórdidos. Me aplico, neste caso, aos detalhes que surgem em consequência dos outros filmes da saga. São três filmes anteriores que precisam ser levados em conta, incluindo o A Rebelião das Máquinas, mesmo que tenha sido mais um filme de ação (ótimo) do que um complemento desejável. Em outras palavras, relembre (ou reveja) os outros, antes de embarcar nesta nova aventura.
O filme já começa nos introduzindo ao personagem de Marcus Wright, interpretado de forma extremamente natural e virtuosa por Worthinton, surgindo como uma forte revelação. Wright é um presidiário, assassino, prestes a ser executado. Ele assina um contrato para seu corpo poder ser usado. Este conceito, que coloca a humanidade à prova da mecanização, acaba sendo uma das virtudes do filme. E, durante a projeção, é perceptível a densidade que Worthington traz ao papel e faz este tema prevalecer. O problema é que os aspectos mais emocionais e crus da obra nunca parecem vir a torna e quando surgem, soam artifíciais. Isso faz todo o tema humano da obra se esvairar. Portanto, quando chegamos ao clímax e Worthinton encontra-se cara a cara com a verdade absoluta e a fragilidade do mundo como o vemos, não denotamos urgência, emoção e poder, mas uma certa leveza lamentável empregada. Um desleixo fatal que faz com que tudo o que McG tenha arquitetado em termos estéticos e técnicos fique em segundo plano, dando lugar à decepção.
Mas nem tudo é decepção. O Exterminador do Futuro: A Salvação vem com a tacada de erros que poderiamos ter prevido, mas chega também com uma surpresa em termos da abordagem de McG, que só enfraquece totalmente mesmo depois da primeira hora inicial. Nesse meio tempo, adentramos um mundo sujo, sombrio e devastador. A fotografia nervosa e suja é perfeita, os movimentos de câmera, conquistadores, e toda a parte técnica impressiona. Desde os efeitos sonoros monstruosos, passando pela direção de arte eficiente e se consolidado pela edição ágil. As sequências de ação são ótimas, os efeitos especiais impactantes e tudo parece funcionar maravilhosamente. Você quase fica convencido de que está vendo algo brutal. A brutalidade cinematográfica, porém, não resiste à fraqueza de um roteiro recheado de boas idéias e terríveis inconsistências (não ajuda o fato do script de ter sido re-escrito milhares de vezes). No final das contas, o crédito ficou por conta de apenas dois roteiristas. Nenhum deles Jonathan Nolan (colaborador do irmão Christopher Nolan em seus melhores filmes), infelizmente.
A síntese acaba sendo a de que O Exterminador do Futuro: A Salvação termina de forma azeda, mas ainda guarda inúmeras virtudes que não merecem ser esquecidas. Todo o clímax artificial e desfecho forçado não combinam com o resto, que realmente apresenta alguma espécie de virtuosismo como cinema. McG acertou nas referências, buscou as influências certas, trabalhou bem com a câmera, mas pecou no quesito humano. Enfraquecedor? Totalmente. Detrator? Não. Eis aqui bom entretenimento e cinema recheado de belos momentos. As tomadas que focam os pés dos personagens, por exemplo, é uma bela homage à marca registrada de James Cameron. Não só isso, mas temos incontestáveis boas atuações. Worthington rouba a cena do protagonista, Christian Bale, que faz bem apesar das limitações. O outro triunfo no elenco, porém, fica por conta de Anton Yelchin (Star Trek). E esses fatores positivos trabalham entre si para garantir que o filme não seja só decepção. É curto, divertido e lamentavelmente frustrante. Mas podemos tentar entreolhar suas vis derrapadas e concentrar no que ele traz de bom.