Crítica sobre o filme "Veronika Decide Morrer":

Rubens Ewald Filho
Veronika Decide Morrer Por Rubens Ewald Filho
| Data: 28/11/2009
Lembro-me que quando li o best-seller de Paulo Coelho que deu origem ao filme pela primeira vez, fiquei encantada com a narrativa do autor, envolvente e inteligente, que me fez refletir pensar no porque uma jovem tida como normal tentaria o suicídio. Tinha apenas 15 anos na época (hoje tenho 21) e lembro que a moda era todos comprarem Maktub, aquele livrinho pequeno mas para muitos poderoso, com os ditos do escritor brasileiro mais famoso no mundo. E é mais do que curioso, que depois de tanto sucesso, apenas agora um de seus livros fora adaptado para o cinema (lembrando que “O alquimista†é um projeto engavetado há anos) e sendo que o mesmo nem é o seu livro mais famoso.

A história começa com a decisão de Veronika, jovem de 25 anos, em morrer. O inicio do filme é fenomenal, com a mesma narrando situações que ocorreriam com qualquer jovem normal em sua vida na terra. E por causa da mesmice do que seria sua vida, por este fato é que Veronika decide tirar sua própria vida, situação que resulta em fracasso, sendo que ela vai parar em uma clínica onde descobre que ela tem poucos dias de vida (o que na verdade se revela algo muito maior do que aparenta). E lá ela acaba recuperando o amor pela vida sob um outro foco, curando suas feridas internas e acreditando no milagre que é viver cada dia.

O filme, é dirigido por Emily Young, e tem Sarah Michelle Gellar no papel da protagonista, e, diga-se de passagem, ela está muito bem como a personagem principal, atuando de modo suave e bem preparado. Jonathan Tucker e David Thewlis também saem-se muito bem nos seus respectivos papéis, dando um “up†à produção. Outro destaque é a trilha do inglês Murray Gold, que consegue pincelar bem o seu “score†aos nuances da trama.

É um bom filme, baseado em um bom livro, que merece ser visto pelo menos por sua suavidade ao tratar de modo tão claro e inteligente temas tão profundos como a vida e a morte. Um filme baseado na delicadeza dos escritos de um “mago†cuja criatividade de contar histórias parece não ter fim. (Viviana Ferreira)

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Previsto para estrear nos EUA apenas em novembro, esta é a primeira adaptação de uma obra de Paulo Coelho para o cinema. Não de um texto muito fácil e consumível, já que conta a história de uma garota que, infeliz e entediada, resolve se matar. E faz isso exatamente no começo do filme. Ou seja, é basicamente um drama sério, sobre o que leva uma pessoa ao suicídio, e o que pode impedir o ato.

Como sempre, a imprensa brasileira faz restrições ao trabalho de Paulo, demonstrando que ainda não conseguiu se conformar com o fato de que ele é nosso único autor de sucesso mundial (sou testemunha do êxito dele inclusive no Festival de Cannes, onde todos o tratam com o maior respeito e admiração). Um best-seller absoluto. Mas, como sempre, ninguém é profeta em sua própria terra, ou santo de casa não faz milagres. Na sessão de imprensa o filme foi recebido com frieza.

Confesso que penso diferente. Eu gosto de Paulo Coelho, nos poucos contatos que tive com ele (sua biografia está na minha cabeceira, mas tenho o hábito de ler vários livros ao mesmo tempo!), o achei inteligente, educado e sabendo do que fala, é do ramo. Mas deixei de acompanhar seu trabalho, em parte porque tenho resistência a ler ficção, me fixando mais em biografias e não-ficção. Ganhei o livro na pré-estréia e, folheando, me pareceu que a adaptação é bastante fiel, ainda que com orçamento pequeno e rodado em Yonkers e arredores de Nova York (em vez da Eslovênia, como no livro, onde ela mora numa espécie de pensionato; aqui não se mostra muito onde vive). Sarah Michelle Gellar, a Buffy da TV, substituiu Kate Bosworth, e tem o trabalho mais sério e competente de sua carreira. A diretora inglesa fez antes um desconhecido “Kiss of Life†(2003), com Peter Mullan e não aparenta ter nenhum estilo particular.

Também o roteiro me pareceu engenhoso, seguindo a indicação do livro. Veronika já começa determinada a morrer, tomando pílulas. Mas é socorrida a tempo e levada para uma clínica alternativa, dirigida por um médico misterioso (o inglês David Thewlis, de “Naked“ e “Harry Potterâ€), onde lhe dizem logo ao recobrar os sentidos de que, infelizmente, foi afetada por um aneurisma no coração, e que pode morrer a qualquer momento. Isso, aos poucos, vai lhe devolvendo o interesse em viver intensamente cada momento, lhe dando vontade de viver, de tocar piano como quando criança, e se relacionando com um rapaz que, até então, se mantinha calado (Jonathan Tucker). É verdade que a história pode ser previsível, e os mais experimentados matarão a charada. Mas também sinto que, muitas vezes, é o cinismo da imprensa que faz com que se rejeite filmes que tenham alguma lição de vida, ou procurem dar exemplos positivos. Ou seja, simplesmente mais humanos. E louvem a baixaria, o grosso, o vulgar.

E no fundo é a isso que se propõe a história que, antes de tudo, é muito bem interpretada (inclusive por atrizes que, até agora, ainda não tinha convencido, como Erika Christensen, que faz uma das pacientes). Não sei se vai fazer sucesso, até pela aridez do tema, e a fala de glamourização da empreitada. Não é um filme obviamente comercial. Esperemos que o público do autor o aprove. (Rubens Ewald Filho na coluna Clássicos de 4 de setembro de 2009)