Previsto para estrear nos EUA apenas em novembro, esta é a primeira adaptação de uma obra de Paulo Coelho para o cinema. Não de um texto muito fácil e consumÃvel, já que conta a história de uma garota que, infeliz e entediada, resolve se matar. E faz isso exatamente no começo do filme. Ou seja, é basicamente um drama sério, sobre o que leva uma pessoa ao suicÃdio, e o que pode impedir o ato.
Como sempre, a imprensa brasileira faz restrições ao trabalho de Paulo, demonstrando que ainda não conseguiu se conformar com o fato de que ele é nosso único autor de sucesso mundial (sou testemunha do êxito dele inclusive no Festival de Cannes, onde todos o tratam com o maior respeito e admiração). Um best-seller absoluto. Mas, como sempre, ninguém é profeta em sua própria terra, ou santo de casa não faz milagres. Na sessão de imprensa o filme foi recebido com frieza.
Confesso que penso diferente. Eu gosto de Paulo Coelho, nos poucos contatos que tive com ele (sua biografia está na minha cabeceira, mas tenho o hábito de ler vários livros ao mesmo tempo!), o achei inteligente, educado e sabendo do que fala, é do ramo. Mas deixei de acompanhar seu trabalho, em parte porque tenho resistência a ler ficção, me fixando mais em biografias e não-ficção. Ganhei o livro na pré-estréia e, folheando, me pareceu que a adaptação é bastante fiel, ainda que com orçamento pequeno e rodado em Yonkers e arredores de Nova York (em vez da Eslovênia, como no livro, onde ela mora numa espécie de pensionato; aqui não se mostra muito onde vive). Sarah Michelle Gellar, a Buffy da TV, substituiu Kate Bosworth, e tem o trabalho mais sério e competente de sua carreira. A diretora inglesa fez antes um desconhecido “Kiss of Life†(2003), com Peter Mullan e não aparenta ter nenhum estilo particular.
Também o roteiro me pareceu engenhoso, seguindo a indicação do livro. Veronika já começa determinada a morrer, tomando pÃlulas. Mas é socorrida a tempo e levada para uma clÃnica alternativa, dirigida por um médico misterioso (o inglês David Thewlis, de “Naked“ e “Harry Potterâ€), onde lhe dizem logo ao recobrar os sentidos de que, infelizmente, foi afetada por um aneurisma no coração, e que pode morrer a qualquer momento. Isso, aos poucos, vai lhe devolvendo o interesse em viver intensamente cada momento, lhe dando vontade de viver, de tocar piano como quando criança, e se relacionando com um rapaz que, até então, se mantinha calado (Jonathan Tucker). É verdade que a história pode ser previsÃvel, e os mais experimentados matarão a charada. Mas também sinto que, muitas vezes, é o cinismo da imprensa que faz com que se rejeite filmes que tenham alguma lição de vida, ou procurem dar exemplos positivos. Ou seja, simplesmente mais humanos. E louvem a baixaria, o grosso, o vulgar.
E no fundo é a isso que se propõe a história que, antes de tudo, é muito bem interpretada (inclusive por atrizes que, até agora, ainda não tinha convencido, como Erika Christensen, que faz uma das pacientes). Não sei se vai fazer sucesso, até pela aridez do tema, e a fala de glamourização da empreitada. Não é um filme obviamente comercial. Esperemos que o público do autor o aprove. (Rubens Ewald Filho na coluna Clássicos de 4 de setembro de 2009)