Crítica sobre o filme "Cinema Paradiso":

Eron Duarte Fagundes
Cinema Paradiso Por Eron Duarte Fagundes
| Data: 03/12/2009

Apesar da melancolia de sua mensagem final (os pequenos cinemas do interior estão sendo fechados pelo desinteresse do público), Cinema Paradiso (Nuovo Cinema Paradiso; 1989), filme realizado pelo italiano Giuseppe Tornatore, é uma obra cheia de vida, cheia de amor ao cinema. A paixão pela arte da tela é o que anima a estrutura íntima da narrativa de Giuseppe Tornatore; em todos os momentos da vida de Totó, desde os tempos de sua meninice como coroinha e amigo do velho operador Alfredo, que fica cego e lhe ensina a projetar os filmes e com quem o garoto obtém os pedaços de celulóide cortados das fitas pela censura do padre local, até a época em que ele, já adulto, se torna cineasta em Roma e volta para o enterro de Alfredo, evocando tudo o que se passou em sua existência, o cinema é companheiro inseparável.

A autenticidade das emoções do filme faz com que se pense que Cinema Paradiso tenha muito de autobiográfico, tenha muito das experiências (senão factuais, pelo menos afetivas) do diretor Tornatore. Senão, como explicar aquele belíssimo instante de cinema em que Totó adulto está diante de seu quarto de infância, decorado por sua mãe com cacarecos da época, fotografias várias (algumas com o operador Alfredo) e cartazes de cinema? Enquanto a câmara descreve uma breve panorâmica pelo cenário e a música invade nossos sentidos, o olhar de Totó, que é o olhar da câmara, se confunde com o nosso próprio olhar. Nós somos Totó, cinemeiros inveterados.

Cinema Paradiso resgata a grandiosidade e a objetividade do melhor cinema italiano. Fartamente influenciado pelas concepções estéticas do neo-realismo, adaptadas à forma narrativa dos anos 80, este trabalho de Tornatore é uma sensível homenagem aos amantes do cinema no mundo inteiro. Também o alemão Wim Wenders falava da decadência dos cinemas do interior em Com o passar do tempo (1975), só que tudo era feito à sombra do expressionismo que marca a arte alemã. Em Cinema Paradiso a alegria, o caráter extrovertido dos italianos não deixam sombra alguma. Só uma ponta de amargura. Melancolia é com a península.