Crítica sobre o filme "Adrenalina 2: Alta Voltagem":

Wally Soares
Adrenalina 2: Alta Voltagem Por Wally Soares
| Data: 06/12/2009
A crítica abaixo não é recomendada para quem não assistiu ao primeiro filme.

Lembra de “Adrenalinaâ€? Aquele insano filme de ação lançado há três anos que revelou uma dupla nada convencional de cineastas? Não trata-se de um filme difícil de recordar. A louca aventura de Chev Chelios (Jason Statham) à procura de formas de adrenalina quando este é envenenado elevou o gênero da ação à doideiras pouco vistas no cinema. Por isso, e pela condução bastante inspirada, “Adrenalina†funcionou. Mas se Chev cai de um helicóptero até a morte no filme, como é possível uma sequência? Não duvidem do implausível. Alias, para gostar de “Adrenalina 2: Alta Voltagemâ€, é preciso aceitar sem pestanejar o implausível, além de estar disposto à vivenciar o absurdo. Não traz consigo o mesmo frescor do antecessor e se perde facilmente em seu último ato, mas renova o dinamismo e novamente insere nova vertigem ao gênero tão desgastado. Por mais que se exceda e caia no desagradável muitas vezes, é um decente filme de ação por causa de sua linguagem excitante, unida ao sopro bem-vindo de novidade. E às vezes é exatamente disso que o cinema precisa.

O início do filme nos recorda dos eventos finais de “Adrenalinaâ€, quando Chev Chelios caiu do céu e morreu. Ou ao menos é o que pensamos. O herói que espalhou loucura pela cidade naquele dia e derrubou dois chefões do crime ficou infame e todos ficaram sabendo de seu coração potente que sobreviveu à dose fatal de veneno. Assim, logo após sua queda, ele é “resgatado†por uma van, que por sua vez o leva à um grupo de cientistas. Naquele local, o inimaginável acontece: o coração de Chev é substituído por um artificial (que, na verdade, realmente existe). Assim, Chev permanece vivo por intermédio de uma bateria e, quando a bendita expirar, por meio da eletricidade em si. E essa será sua fonte enquanto ele cruza a cidade (novamente) atrás de seu coração.

O início de “Adrenalina 2: Alta Voltagem†já acusa o que virá a seguir. E, por sua vez, revela um fetiche especial dos cineastas (a dupla Neveldine/Taylor, que também roteiriza): por meio de imagens de um vídeo-game clássico, insere a audiência à trama. E a linguagem do filme se torna uma complementação à esta sugestão. “Adrenalina 2: Alta Voltagem†não é como um “Velozes e Furiosos 4†e derivados, que parecem mais vídeo-game do que cinema. Na verdade, os diretores adaptam a vertigem e a loucura de um jogo para a linguagem cinematográfica. E fazem isso com desenvoltura. Cheio de dinamismo, energia pura e extremo exagero, no decorrer da metragem a audiência não possui muito tempo para respirar. Os cineastas são criativos na hora de brincar com a audiência, resgatando vários elementos do antecessor. Sejam as esquetes divertidíssimas de humor negro ou as legendas que aparecem de hora em hora (como a hilariante “9 segundos depoisâ€), o espírito do filme é bastante vívido.

“Adrenalina 2: Alta Voltagem†parece estar equipado com uma overdose de testosterona, ao colocar a audiência no encalço de um homem que é pura brutalidade. A atmosfera do filme é a de loucura e frenesi, com ação extrema e dose anormal de humor. A obra, alias, investe muito nas tiradas cômicas, e a maioria funciona muito bem. Uma cena que vem em mente é simplesmente sensacional em sua execução, ao mandar Chev furioso para dentro de uma casa e, sem revelar os acontecimentos lá de dentro, só mostra os corpos (e pedaços deles), sendo atirados pelas janelas e porta. Prima pelo ridículo, mas ganha pontos pela condução divertida. Mas nem sempre “Adrenalina 2: Alta Voltagem†acerta em suas extrovertidas. Certo momento revela Chev brigando com outro, representados por bonecos gigantes, errando feio o alvo e ultrapassando o limite do aceitável. O mesmo ocorre na sequência que tenta reviver uma cena de sexo do primeiro filme, agora em frente de uma multidão ainda mais vasta. Ao invés de divertir, a cena ofende pelo mal gosto de sua execução.

São poucas, porém, as derrapadas de “Adrenalina 2: Alta Voltagemâ€, é só no último ato que o enredo começa a se tornar um tanto inusitado demais para funcionar como cinema. Como uma junção bizarra entre “Kung Fusão†e “Missão: Impossívelâ€. Até lá, tem muito para se poder deliciar na metragem. As sacadas do filme que expõem o ridículo são ótimas (reparem no momento que inclui um carro de hispânicos ouvindo música pop clássica ou na cena super engraçada dentro de um bar, revelando o que acontece quando peitos siliconados levam tiros). Também temos o prazer da atuação desenfreada de Bai Ling, e a participação muito extasiante de Efren Ramirez como um cara que sofre da síndrome de torette corporal. A piada resulta em cenas que extraem muitos risos. Como uma que traz uma greve de astros pornôs. Em contraponto ao seus momentos de níveis mais sórdidos, onde pode desagradar mesmo quem abraça seu espírito lunático, “Adrenalina 2: Alta Voltagem†possui méritos.

A recomendação do filme é automática, mas cautelosa. É para quem curtiu o antecessor e não se importa em testemunhar uma clara overdose de adrenalina em celulóide. Nem tudo aqui dá certo, mas quando o frisson ocorre, ele é eletrizante. Ainda visualmente admirável e apresentando edição interessante, o filme de quebra traz Jason Statham, que representa a perfeição ao encarnar Chev com todos os tiques certos. Eis aqui um digno astro de ação. Statham valida até as cenas mais toscas. E “Adrenalina 2: Alta Voltagem†tem sua parcela de cenas toscas. Não tem como não ser chocado pelo uso das mulheres (que continuam a ser exploradas como objetos sexuais, como no antecessor) e pelo retorno do bandido do primeiro filme. São elementos intragáveis em um filme delicioso em seu veneno. (Wally Soares)