A origem de KILL BILL remonta à época da filmagem do antológico PULP FICTION, quando “Q†(Quentin Tarantino) e sua estrela “U†(Uma Thurman) esboçaram a história da “Noivaâ€, uma assassina profissional do grupo VÃboras Mortais, chefiado pelo misterioso Bill. No ensaio do seu casamento, grávida, ela sofre um atentado de seus ex-colegas. Ela sobrevive mas (aparentemente) perde o bebê, e depois de passar quatro anos em coma inicia sua vingança, eliminando seus antigos companheiros um a um, até finalmente confrontar Bill. Nessa trama de vingança, que foi dividida em dois filmes por ter ficado muito longa, Tarantino usa e abusa de uma série de referências pop retiradas do cinema e da TV dos anos 1960 e 1970, as recicla e o resultado é um KILL BILL VOL. 1 violento, que diferentemente dos filmes anteriores do diretor, dá mais ênfase à ação do que aos diálogos.
Se você já é um quarentão, reconhecerá facilmente as homenagens aos filmes asiáticos de samurai e kung fu, e séries de TV: de cara, o filme começa com o logo da “Shaw Bros.â€, que por anos produziu em Hong Kong centenas de filmes de baixo orçamento; o traje amarelo de Uma Thurman é uma réplica do usado por Bruce Lee, o maior astro das artes marciais, em BRUCE LEE NO JOGO DA MORTE; as máscaras dos membros da gangue 88 Loucos são iguais à que Lee utilizava na série de TV O BESOURO VERDE; a participação do ator Sonny Chiba, muito popular no Japão, como o fabricante de katanas (espadas de samurai) Hattori Hanzo; David Carradine, que encarna o Bill, era o astro da famosa série de TV KUNG FU; e as homenagens ao diretor japonês Kinji Fukasaku (a atriz Chiaki Kuriyama repete aqui praticamente o mesmo papel de assassina que viveu no último filme de Fukasaku, BATTLE ROYALE, de 2000).
Há referências a outros gêneros, até mesmo JORNADA NAS ESTRELAS é homenageada: o provérbio "klingon" que abre o filme ("A vingança é um prato que é melhor servido frio") foi retirado do melhor filme da série, JORNADA NAS ESTRELAS II: A IRA DE KHAN (1982). Tudo isso é complementado por uma profusão de mortes, cabeças e membros decepados, combates corporais e sangue espirrando em uma escala tão grande que provoca risos, ao invés de chocar. Também não faltam os cenários fake e os deliciosos diálogos tolos, tÃpicos de seus filmes. Complementando todo o arsenal de referências visuais, Tarantino (como de hábito) acentua as homenagens e referências a gêneros como os westerns spaghetti e os filmes blaxploitation, principalmente através da música. Enfim, para os “veteranos†que conhecem as inúmeras referências visuais e sonoras, KILL BILL VOL. 1 é uma delÃcia de se ver e ouvir; e para os mais jovens, revela-se um divertido filme de ação acima da média.