Crítica sobre o filme "Kill Bill Vol. 2":

Jorge Saldanha
Kill Bill Vol. 2 Por Jorge Saldanha
| Data: 24/12/2009

Após o impacto provocado por KILL BILL VOL. 1, uma enorme expectativa passou a rondar a chegada da sua conclusão nos cinemas – e quando ocorreu confirmou-se o que já se comentava lá fora: não temos aqui exatamente “mais do mesmoâ€, e por esta razão o filme decepcionou alguns daqueles que alçaram a primeira parte à condição de clássico instantâneo. De fato, não há cenas de ação da magnitude do confronto da “Noiva†contra os 88 Loucos e O-Ren, e muito menos aquele banho de sangue todo. Na verdade o VOL. 2 apresenta apenas uma grande sequência de luta e violência, entre Uma Thurman e Daryl Hannah, e mesmo assim ela está mais para vale-tudo do que para artes marciais.

Há longos flashbacks, mostrando o dia fatídico na capela (este em preto-e-branco), e o divertido treinamento da “Noiva†com o sádico mestre de kung fu Pai Mei (Gordon Liu, que no VOL. 1 era o líder dos 88 Loucos), que se mostrará decisivo em pelo menos duas complicadas encrencas enfrentadas por nossa heroína. Numa delas a “Noiva†é enterrada viva por Budd, numa situação aparentemente sem saída e magistralmente filmada por Tarantino. O cineasta segue com suas referências a clássicos das artes marciais e aos westerns spaghetti – Carradine aparece tocando uma das flautas de bambu que utilizou na série KUNG FU, e o personagem de Pai Mei era recorrente nos filmes da “Shaw Bros.â€. A ação do filme desloca-se da Ãsia para o sul dos EUA e México, dando à produção um sabor de faroeste contemporâneo.

O diretor também dá uma guinada rumo a um estilo mais próximo ao dos seus filmes anteriores, e o VOL. 2 passa a sustentar-se mais em situações irônicas, drama e longos diálogos pop/filosóficos, do que em cenas de ação regadas a sangue. Neste sentido, o confronto final da “Noiva†(de quem, afinal, descobrimos o nome real) e Bill é uma espécie de anticlímax - ao contrário do que se poderia esperar, o filme ruma para um final emocionante e terno. Mas não imaginem que Tarantino perdeu a mão e fez o filme descambar para um dramalhão água-com-açúcar. A “Noiva†finalmente obtém a sua vingança completa, mas não da maneira que muitos esperavam e desejavam. E isto, sob determinado ponto de vista, pode ser considerado um acerto do filme.

O pior talvez seja mesmo a seleção musical feita por Tarantino, que não é tão inspirada como a do primeiro filme. O fato é que é injusto avaliar os dois volumes de KILL BILL em separado, quase que de forma estanque como muitos fizeram. No conjunto, revela-se uma obra coesa que foi a resposta à altura para aqueles que já consideravam Tarantino como coisa do passado. Ele realizou um longo filme repleto de drama, ação, humor e emoção, na maior parte do tempo uma delícia de se ver e ouvir e que também é, além de uma declaração de amor ao cinema, sua homenagem à maternidade de Uma Thurman.