Crítica sobre o filme "Nevoeiro, O":

Jorge Saldanha
Nevoeiro, O Por Jorge Saldanha
| Data: 30/01/2010

O diretor e roteirista Frank Darabont, com UM SONHO DE LIBERDADE e À ESPERA DE UM MILAGRE, comprovou ser um dos melhores adaptadores de obras do escritor Stephen King para as telas. No entanto, ainda faltava a Darabont a experiência de lidar com o material que tornou King célebre – seus livros e contos de horror / ficção científica. A oportunidade chegou em 2007 quando Darabont escreveu e dirigiu O NEVOEIRO, e adivinhe – o filme acabou sendo a melhor adaptação de Darabont de uma obra do escritor, combinando os inevitáveis sustos com uma trama solidamente escrita e ajustada, que discute a essência da natureza humana.

No interior do mercado onde as pessoas se refugiam para escapar das indizíveis criaturas que se ocultam na névoa, temos um microcosmo social norte-americano, mas que também se presta para a análise mais ampla dos defeitos e virtudes da humanidade. De um lado temos Drayton (Thomas Jane), o sujeito decente, pai de família, capaz de qualquer sacrifício para proteger seu filho e, porque não, todos os refugiados; do outro, a beata Carmody (Marcia Gay Harden), que usa sua pregação eloquente sobre o Fim dos Tempos – que, como seria de se esperar, carrega o que de pior pode haver em matéria de intolerância e preconceito – para conquistar a parcela mais desesperada do grupo. É a estes dois personagens que cabe a tarefa de tocar o filme, e felizmente seus intérpretes, Jane e Harden, estão simplesmente excelentes nos papéis.

O filme gasta pouco tempo em sua introdução, e logo estamos dentro do mercado cercado pelo nevoeiro. É ali que, sem abrir mão de horripilantes criaturas de computação gráfica que parecem saídas dos livros de H. P. Lovecraft, Darabont cria monstros humanos tão ou mais assustadores que aquelas. É interessante notar que O NEVOEIRO presta tributo aos clássicos filmes de ficção científica dos anos 1950, além de empregar elementos de dois dos melhores filmes de John Carpenter, A BRUMA ASSASSINA e O ENIGMA DE OUTRO MUNDO (este homenageado no início do filme, quando vemos seu pôster entre as pinturas de Drayton). Mas se o filme se revela acima da média até seu final, é ali que ele passa para uma categoria bem superior. Darabont não teve medo de alterar o final do texto de King, criando para seu filme um desfecho cruel totalmente anti-Hollywoodiano. Palmas para a coragem do diretor.