Crítica sobre o filme "Distrito 9":

Jorge Saldanha
Distrito 9 Por Jorge Saldanha
| Data: 16/02/2010

DISTRITO 9, uma das grandes surpresas cinematográficas de 2009, teve um baixo orçamento para um filme do gênero - custou 30 milhões de dólares e arrecadou esta quantia apenas no seu fim de semana de estreia. Beneficiado por críticas e propaganda boca a boca mais do que positivas, o longa tornou-se um sucesso artístico e comercial, obtendo três indicações ao Oscar 2010: Filme, Roteiro Adaptado e Montagem. Sem dúvida, conquistas que o neozelandês Peter Jackson (trilogia O SENHOR DOS ANÉIS) e o jovem sul-africano Neill Blomkamp não imaginavam obter quando, após o projeto no qual trabalhavam – a adaptação para o cinema do game HALO – afundou e Jackson resolveu bancar um filme baseado no curta-metragem que Blomkamp co-escreveu e dirigiu em 2005, ALIVE IN JOBURG. O resultado foi este que é um dos filmes de ficção científica mais originais dos últimos anos.

Bem, o ponto de partida conceitual de DISTRITO 9 nem é tão original assim: trata do primeiro contato da humanidade com extraterrestres, que chegam à Terra aparentemente sem meios de retornar para seu mundo e acabam tendo de coexistir com a humanidade, como no filme MISSÃO ALIEN (1988). O que é original é a forma com que este argumento foi desenvolvido e mostrado ao espectador, fazendo referência direta a aspectos históricos e políticos da segregação racial que por décadas imperou na Ãfrica do Sul, o que ganha força adicional pelo fato de o filme se passar em Joanesburgo e ser dirigido por um sul-africano. Boa parte do longa adota um estilo de falso documentário, e assim descobrimos, através de depoimentos “reaisâ€, que a nave mãe dos ETs surgiu sobre Joanesburgo nos anos 1980, com seus tripulantes em péssimas condições de saúde. Como imigrantes ilegais, as criaturas foram confinadas na favela miserável chamada Distrito 9, onde vivem em condições precárias e são explorados por criminosos nigerianos.

Vinte anos depois o espectador acompanha Wikus Van De Merwe (Copley), funcionário da empresa MNU (Multi-Nacional Unida) que comanda uma operação de transferência dos alienígenas da favela onde moram para um novo assentamento. Mas as coisas acabam muito mal para Wikus, que é contaminado por uma substância extraterrestre e começa a se transformar em um dos “camarões†(como os ETs são pejorativamente chamados pelos humanos). Caçado pela MNU, ele se torna a chave para que os avançados armamentos alienígenas possam ser utilizados pelos humanos, já que eles são ativados pelo DNA dos “camarõesâ€. Desesperado, Wikus conhece o alien Christopher Johnson e seu filho, que tem um plano para retornar à nave-mãe e fazê-la funcionar novamente.

Além dos seus méritos narrativos, DISTRITO 9 é um filme tecnicamente impecável que parece ter custado muito mais do que 30 milhões de dólares. Rodado com a nova câmera de ultra definição (4K) “Red Oneâ€, possui uma imagem excelente, que coloca você bem no meio do ensolarado e estranho ambiente do Distrito 9. Aliás, a altíssima definição da imagem poderia trazer problemas para a criação de imagens realistas em computação gráfica, essenciais para a trama. Mas felizmente, graças à participação de Peter Jackson e à experiência do diretor com CGI, os efeitos visuais são estupendos – não espere aqui um deslumbre visual como o de AVATAR, mas alienígenas, a nave-mãe pairando sobre Joanesburgo, armamentos, mortes sangrentas, tudo é mostrado na tela com um fotorrealismo de cair o queixo. Não fosse o fato de estarmos vendo coisas literalmente de outro mundo, poderíamos jurar que elas foram filmadas em locação, juntamente com os atores.

DISTRITO 9 é um filme inteligente, provocante, com segmentos que não ficam nada a dever aos melhores filmes de ação de Hollywood. Se você o perdeu quando foi exibido nos cinemas, não deixe passar a oportunidade de vê-lo agora em casa, especialmente na alta definição do Blu-ray.