Crítica sobre o filme "Terror na Antártida":

Wally Soares
Terror na Antártida Por Wally Soares
| Data: 18/02/2010
Embora muito bem fotografado e apresentando-se em meio a uma paisagem imensamente sedutora, Terror na Antártida define-se bem pelo seu título original - Whiteout (algo como blackout só que definido pela brancura espessa de uma nevasca na Antártida) - ao denotar-se como uma imensidão de vazio em meio à estética atraente. Baseado em HQ, a película já se inicia com uma sequência instigante dentro de um avião e, em seguida, com um atraente plano-sequência. A partir daí, ao sermos introduzidos pela trama policial um tanto banal, o longa-metragem começa a dispersar por meio de personagens desinteressantes, conversas maçantes e total falta de segurança por parte de um roteiro que falha lamentavelmente na hora de criar um mistério e envolver o espectador. A direção então, tão preocupada com o visual, se esquece de atmosfera e condução emocional. Com o perdão do trocadilho, mas a obra é tão fria quanto à localização de sua história.

É baseado na graphic novel sob autoria de Greg Rucka e Steve Lieber, mas o roteiro escrito a quatro mãos em momento algum dá entender que aquele conto policial poderia ter dado uma interessante história em quadrinhos. A história - que se passa na Antártida como já é sugerido explicitamente pelo título - possui como foco a policial federal Carrie Stetko (Kate Beckinsale) que, a poucos dias de ser retirada do território pela iminência do inverno, se vê envolvida pelo primeiro assassinato já registrado do local. Intrigada pelas circunstâncias e atormentada por seu passado, comanda uma investigação perigosa que tem como palco a desoladora tempestade que praticamente engole a Antártida sob uma neve densa.

Como dito, a Antártida é muito bem retratada e surge como a única virtude sólida da obra. O diretor acerta ao transformar aquele território nocivo no principal vilão. Então quando os personagens se aventuram em meio a nevascas e um frio agonizante, nos envolvemos por compreender a gravidade daquilo e por sermos atraídos pela forma “estilosa†com que Sena conduz. Por outro lado, todas as sequências de interior - ou seja, as que possuem diálogos no lugar do vento uivante - são medíocres. O roteiro é uma coleção de diálogos ruins, isso sem contar a total dedicação a formula. Terror na Antártida é terrivelmente previsível, e se dá ao luxo de fingir que não é, resultando em um clímax cuja revira-volta surge ineficiente e até banal. Principalmente se levarmos em conta a constante frieza e desconexão da trama.

Então, por mais que Sena possa embrulhar o pacote muito bem pela estética enganadora, o resto padece vergonhosamente, se tornando um exercício em aborrecimento. Não só é um longa-metragem falho em estrutura e conteúdo no geral, como se revela monótono e sem ritmo - algo fatal para um thriller. É aquele caso típico onde o roteiro já entrega tudo, o que diminui consideravelmente o papel da audiência. Assim, o suspense é ofuscado e não existe tensão. Os diálogos são expositivos e o delineamento da investigação é sórdido pela falta de fluidez e interesse. Péssimos fatores que poderiam ter sido relevados caso o script inspirasse alguma simpatia pelos personagens. O que definitivamente não acontece. Como a própria protagonista, que representa por si só um clichê irritante. Policial atormentada a todo momento por um acontecimento em seu passado, somos introduzidos a uma coleção de flashbacks fragmentados até conhecermos a verdade. Quando isso ocorre, o roteiro tem em mãos uma bela sacada, mas simplesmente não sabe utilizá-la. Ao invés de usar tal fator para criar um senso de paranóia, levianamente coloca a questão em pauta para - de forma abrupta e repentina - deixá-la de lado. Então o único elemento que poderia ter enriquecido a personagem apenas decepciona o espectador ainda mais.

Por não existir qualquer empatia por parte desses personagens, por consequência deixa de existir mistério, envolvimento ou tensão. É algo que cineastas parecem esquecer cada vez mais e mais. Sim, a estética funciona e como exercício em estilo o filme até atrai. Mas estes feitos são praticamente pulverizados pela insipidez constante com a qual todo a película é regida. Uma coleção de erros e irritantemente pragmático, é um filme que, à medida que enche os olhos, frustra e entorpece o espectador. É tão anticlimático, alias, que pretende não só criar uma sensação de desconforto ao longo da metragem, mas uma de desgosto ao fim, certamente lhe perturbando por ter seguido está oca história por quase cem minutos.

Kate Beckinsale, linda como sempre, está tão aborrecida quanto os outros elementos. Algo até difícil de esquivar já que a personagem é insossa por natureza. A assistimos em cena de forma impassível. Ela não provoca nenhum sentimento no espectador - até mesmo em uma sequência gratuita com direito à amputação. Seus parceiros de cena igualmente se tornam descartáveis. Gabriel Macht, por exemplo, surge péssimo (e seu personagem é totalmente dispensável). O resto do elenco secundário não faz mais do que o roteiro lhes permite. No todo, Terror na Antártida é do tipo de filme que merecia ter sido subjugado ao lançamento direto para as locadoras. Seu efeito tão nulo e sua falta de apelo em entretenimento são do tipo de elementos que o condenam ao completo esquecimento. Durante a sessão, somos até hipnotizados pela estética, mas assim que almejamos enxergar por entre aquela densa paisagem gélida, percebemos que existe apenas vazio e frieza. (Wally Soares)