Crítica sobre o filme "Vingança Entre Assassinos":

Wally Soares
Vingança Entre Assassinos Por Wally Soares
| Data: 18/02/2010
A arte é flexível. Uma obra de arte não conhece limites e o Cinema é totalmente mutável. O que os cineastas desaprendem, porém, é que nem toda bobagem incitada em celulóide se atribuiu o direito de ser chamado de Cinema - e tampouco de arte. Não trata-se só de bolar um enredo, criar personagens e elaborar um desenvolvimento que apele - de alguma forma - para as massas. Vingança Entre Assassinos possui certos elementos que provavelmente lhe elevaria ao status de filme-B - muita violência, trama banal, personagens unidimensionais e ação desenfreada. Em certos filmes, é uma fórmula que funciona (ainda que de certa forma corriqueira), mas aqui não existe textura, fluidez ou qualquer senso de humor que o possa dignificar como ao menos um entretenimento trash. O pior de tudo, porém, é a forma com que o filme se dá o direito de subestimar a audiência. A todo momento, o roteiro envereda-se por caminhos dolorosamente óbvios. Ao fim, a canastrice da produção é tamanha que o espectador dificilmente não ficará indiferente ao resultado.

O longa-metragem é, na verdade, tão sutil quanto o seu título nacional. Em outras palavras, é exagerado, excessivo e óbvio. O título original, que se traduz como O Torneio, não é mais digno - mas ao menos não apela. O tal torneio lembra outra fita de ação terrivelmente boba chamada Os Condenados. Trata-se, em suma, de um jogo. Os melhores assassinos ao redor do mundo são contratados para participar deste jogo - no qual dos 30 iniciais só sobrará um ao fim. Tudo faz parte de uma rica corporação que lucra com as apostas de bilionários que adoram testemunhar violência e matança generalizada. Neste meio surge Joseph MacAvoy (Robert Carlyle), um padre decadente que aparece no lugar errado e na hora errada. Possui a sorte de se deparar com Lai Lai Zhen (Kelly Hu), uma das assassinas com passado sombrio que resolve protegê-lo. Ela desconhece, porém, que Joshua Harlow (Ving Rhames) - antigo vencedor do torneio - está atrás dela por vingança. Enquanto isso, a matança os rodeia.

Quando a película inicia-se, até cogitamos que aquele enredo bobo poderia até gerar uma espécie de divertimento passageiro. Mas não é o que acontece. O problema maior é que os cineastas realmente levaram a sério o que estavam fazendo. Se Vingança Entre Assassinos fosse um filme de ação B assumidamente trash, poderia ter resultado em alguma diversão - ainda que superficial. Só que o diretor Scott Mann acredita estar fazendo um grande filme e, no processo, acabar por subestimar a inteligência de quem está assistindo. Portanto, ele - e os roteiristas irregulares - transformam o longa-metragem em um aborrecimento. Não é desenvolvido nenhum interesse porque a história surge pouco atraente, acompanhada por personagens que são caricaturas dolorosas. Ainda pior é a forma com que o filme retrata a violência. Não só de forma completamente gratuita, mas a banalizando. Os cineastas então ultrapassam um limite que os colocam à beira do desastre.

Como, alias, nutrir alguma empatia por assassinos que entraram em um jogo mortal - que diversamente os levam a sacrificar a vida de pessoas inocentes - apenas por dinheiro? Não é fácil se envolver com o filme, pois ele se mantém excepcionalmente frio. A salvação seria o personagem do padre MacAvoy, mas os roteiristas desperdiçam um personagem que teria a chance de elevar o conteúdo da obra - talvez até oferecendo um contraponto ao espírito deselegante da trama principal. Mas o personagem não só é composto por meio de tolos clichês e imensa previsibilidade, como ganha um tratamento artificial de Robert Carlyle, um ator que já realizou papéis muito bons. O resto do elenco vai pelo mesmo caminho. Seja na inexpressividade de Kelly Hu ou no desempenho vergonhoso de Ving Rhames - que ao final provoca até risos involuntários.

Com personagens mal escritos e atuações fracas, a desconexão da película com a audiência torna-se mais lúcida. Vingança Entre Assassinos é do tipo de filme que foi feito unicamente para quem consegue apreciar uma fita de ação sem qualquer compromisso (ou veracidade) com o Cinema em si. Talvez assim o longa-metragem possa ser apreciado; com seus pouco mais de noventa minutos de ação, sangue e revira-voltas estupidamente previsíveis. Não há um bom filme aqui. Todo enquadramento, diálogo ou expressão surge como um desafio ao bom senso. Jogando para fora a lógica e desligando o cérebro, talvez o filme faça sentido e consiga ser absorvido sob alguma visão distorcida do que é entretenimento. Na verdade, é uma colcha de retalhos de tiros, pancadaria, explosões e artifícios gratuitos. Tudo em uma reação de cadeia pra lá de entendiante.

Estranhamente, o filme fez parte da seleção do Festival de Cannes (ainda que surja fora de competição). Sua fragilidade denota-se pelo que ocorreu após a exibição: Nada. Ninguém quis adquirir os direitos do filme. Passando de festival em festival, ao fim de 2009 obteve o lançamento direto em DVD nos Estados Unidos - o mesmo, alias, que ocorre aqui no Brasil. O óbvio foi atestado: Vingança Entre Assassinos é Cinema de mais baixa qualidade. Se seus oitenta minutos iniciais não são capazes de provar isto, basta testemunhar seus últimos 10 minutos, vergonhosos na falta de percepção artística (ou mesmo lucidez narrativa). Com o desfecho sob uma palestra em uma igreja, não tem como - novamente - segurar o riso. Ao passo que surge como péssimo Cinema, é - ao menos - uma boa comédia involuntária. (Wally Soares)