Crítica sobre o filme "Sinais":

Jorge Saldanha
Sinais Por Jorge Saldanha
| Data: 25/02/2010

Não sou o que se poderia chamar de fã do diretor e roteirista M. Night Shyamalan, mas aprecio as qualidades, inclusive as hitchcockianas, de seus trabalhos mais valorizados. Com especial predileção por narrativas de cunho fantástico, em cada um dos seus filmes ele busca homenagear os gêneros que provavelmente são os de sua predileção – como histórias de fantasmas em SINAIS, super-heróis em CORPO FECHADO, contos de fadas em A DAMA NA ÃGUA e ficção científica neste SINAIS. E como bom apreciador de sci fi que sou, é exatamente o filme de alienígenas de Shyamalan o meu preferido entre a sua polêmica filmografia. Subvertendo o subgênero “invasão alienígenaâ€, SINAIS é uma espécie de versão intimista de filmes como GUERRA DOS MUNDOS ou INDEPENDENCE DAY, onde não vemos destruição ou batalhas contra os extraterrestres: a invasão é acompanhada pela pequena e interiorana família Hess principalmente através da TV.

Dando um tom diferenciado ao filme, temos um elemento religioso/sobrenatural centrado no personagem de Gibson, ex-pastor cuja esposa morreu em um brutal atropelamento – tragédia que o leva a perder a fé em Deus e a abandonar seu clero. Neste sentido o elemento alienígena do filme, além de servir para propiciar as necessárias cenas de suspense e sustos, é um caminho para a retomada da fé perdida pelo protagonista, a partir da constatação de que tudo na vida tem um propósito, de que não existe o acaso. Assim, os sinais do título se referem não apenas aos desenhos feitos pelos alienígenas nas plantações, mas principalmente às várias pistas de um enigma que Hess terá de solucionar, a fim de salvar sua família em um clímax surpreendente.

Além de ser muito bem escrito e dirigido (apesar do seu ritmo inegavelmente lento), o filme apresenta outros grandes trunfos, como o excelente desempenho de Gibson e Joaquin Phoenix como os irmãos Hess, e dos então pequenos Rory Culkin e Abigail Breslin (PEQUENA MISS SUNSHINE) como os filhos do ex-reverendo. Até mesmo o diretor não decepciona, na sua pequena mas decisiva aparição como o veterinário que atropelou a esposa de Graham. O trabalho de câmera é excelente, e os efeitos CGI, usados discretamente e apenas com maior relevância no final (e ainda assim em poucas tomadas), se não possuem o foto-realismo das produções atuais, são muito eficazes.

Mas se há um valor de produção que merece meu maior destaque, é a trilha sonora original do colaborador habitual do diretor, James Newton Howard, uma das melhores (se não a melhor) de sua carreira. Assim como Shyamalan segue a escola de Hitchcock, Howard aqui busca inspiração na obra do compositor das maiores obras do diretor inglês, Bernard Herrmann. E ele o faz, sem que seu tema principal e a música incidental do filme soem como meras imitações. Sua partitura é praticamente a espinha dorsal do filme, gerando tensão e suspense, transmitindo delicadeza nos momentos certos, e finalmente construindo o palco sonoro para o memorável confronto final. É essa música, por vezes hipnótica, a maior responsável pela força das sensações que o filme transmite ao espectador. Enfim, é elemento decisivo para que SINAIS seja uma moderna e tocante parábola sobre a superação baseada na fé e no amor à família.