Crítica sobre o filme "Crise":

Eron Duarte Fagundes
Crise Por Eron Duarte Fagundes
| Data: 09/03/2010
Foi o início de umas das filmografias mais festejadas da história do cinema. Crise (Crisis; 1945) foi rodado por um jovem Bergman de 27 anos a partir de um texto teatral de Leck Fischer. As características literárias e teatrais da narrativa de Bergman emperram bastante a possível fluidez cinematográfica do filme, embora o cineasta já demonstre que sabe usar com senso fílmico a fotografia (aqui assinada por Gösta Rooslind). Mas aquela voz-over narrativa que abre e fecha o filme, certo jeito dos diálogos e a inexperiência de encenador do diretor amarram o drama numa austeridade que com o passar dos anos Bergman aprofundaria como ninguém; demais, Crise padece de uma ingenuidade romântica que está mais ultrapassada do que nunca.

O que pode tornar Crise um pouco vivo é o erotismo sutil e inteligente que Bergman, nordicamente, já ia semeando pelas imagens. Mas seu vigor erótico-cinematográfico ainda estava distante do grau alcançado em Mônica e o desejo (1953), seu hino de amor a uma das mulheres de sua vida, a atriz Harriet Andersson.

Crise utiliza uma história simples e direta, antes primária que primitiva em suas formulações. É a vida de Nelly, jovem que vive no interior com sua mãe adotiva, Ingeborg; ao receber a visita de sua mãe biológica, Jenny, é cooptada por esta para acompanhá-la à cidade, onde o namorado da mãe, Jack, vai seduzir Nelly. O confronto entre mãe e filha com um homem no meio (ele se suicida no clímax da ação dramática) não tem a densidade que Bergman atingiria em seus grandes filmes.

Cuido que Crise não deixava ainda muito antever o gênio que estava por vir, embora o filme, visto hoje e apesar de envelhecido, não deixa de conter os embriões bergmanianos. (Eron Fagundes)