Crítica sobre o filme "Código de Conduta":

Wally Soares
Código de Conduta Por Wally Soares
| Data: 26/03/2010
O conceito que rege Código de Conduta, bombástico e promissor, poderia ter rendido uma obra de imensa relevância social (e psicológica, dependendo do alcance). Infelizmente, não é algo que ocorra. Apesar das promessas que o roteiro faz e a condução segura do diretor ao longo da primeira metade do filme, a “idéia“ que a película poderia ter representado se torna um mero artifício para o verdadeiro filme que o cineasta F. Gary Gray quer realizar: o típico suspense de ação gratuito. E é lamentável acompanhar Código de Conduta enquanto vai se transformando, de um intrigante suspense, em um exercício tão fútil e aborrecido.

O roteiro, escrito pelo irregular Kurt Wimmer (dos distintos O Novato e Ultravioleta), traz consigo uma tragédia como o pontapé para uma série de ocorrências drásticas. Inicia-se a partir de um roubo doméstico que deixa Clyde Shelton (Gerard Butler) viúvo e sem filha. A tragédia, violenta e desumana, é testemunhada por Clyde em primeira mão. O assassino de sua família vai a julgamento, mas recebe um acordo ao incriminar seu parceiro inocente. Ao se deparar com tamanha ilógica judicial, Clyde revolta-se e, tempos depois, retorna com um plano meticuloso. Além de ir atrás do assassino, buscando justiça, pretende colocar abaixo o sistema judiciário estadunidense, atacando principalmente o promotor responsável pelo acordo, Nick Rice (Jamie Foxx).

Quando Código de Conduta tem início, sente-se a segurança do cineasta F. Gary Gray, que envolve a audiência de forma eficiente por uma trama instigante. Os personagens parecem significar algo e a história parece querer dizer algo poderoso. Infelizmente, porém, o filme acaba se consolidando como aquilo que pode denominar-se como enganação. Nada do que é prometido é de fato cumprido. Os personagens não delongam a se transformar em tolas caricaturas óbvias e a narrativa se entrega ao exagero, mais interessada em ser explosiva do que necessariamente inteligente. Aspirações alçadas ao ar para que Gray consiga criar o entretenimento costumaz. Com a diferença de que, apesar de nos segurar atenciosamente ao longo dos mais de cem minutos, o cineasta fracassa na hora de contemplar à película a aura atmosférica de suspense, prendendo-se à ostentação trivial de absurdos narrativos.

A grande decepção fica por conta da transparência eventual do filme, que de início parece querer abraçar uma idéia; um propósito. Um comentário ácido sobre as perigosas falhas de um sistema corrompido, ou mesmo um retrato denso sobre a obsessão humana. Temas de certa forma sugeridos, mas nunca desenvolvidos. O script de Wimmer mantém-se covarde diante do que poderia ter almejado. Portanto, Código de Conduta se perde no pensamento com o qual tem início, abandona o raciocínio e parte para a brutalidade da ação e do que é explosivo. Assim, o filme acaba se tornando uma obra exclusivamente sobre vingança. Um fator que é trabalhado da forma mais superficial possível.

Artificial mesmo é o personagem de Clyde, que vai se moldando com um caráter irregular e um tanto contraditório - sem contar que possui ações e atitudes que beiram o implausível. Graças à atuação competente de Butler, quase se torna um ser verossímil. Por outro lado, o promotor vivido por Jamie Foxx é absurdamente entediante e raso. Foxx o interpreta com zero convicção e nenhuma naturalidade, nos fazendo questionar para onde foi aquele ator que já foi tão brilhante. O resto do elenco parece estar no piloto automático (como a obra em si, fria e ríspida). Com exceção de uma ótima Viola Davis, que aparece muito pouco.

Entregando-se ao teor ilógico da obra e deixando para trás as expectativas iniciais, talvez dê para aproveitar Código de Conduta pela diversão banal que foi arquitetada para ser. Mas é difícil que isso ocorra tendo em vista o acúmulo de frivolidades que enfraquecem a obra de forma incontestável. Impossível não sentir-se enganado pelas trapaças do roteiro e pelo rumo que os fatos tomam ao clímax - incrivelmente decepcionante. Apesar das virtudes do longa-metragem (que não podem ser totalmente desmerecidas), é realmente um filme que não merece qualquer recomendação, especialmente por trair a si mesmo na expedição tola que se submete à procura de estilização e ostentação em prol do debate moral. Então, não só esquiva-se da recomendação, mas condena-se ao esquecimento. (Wally Soares)