Crítica sobre o filme "Na Teia do Destino":

Eron Duarte Fagundes
Na Teia do Destino Por Eron Duarte Fagundes
| Data: 09/04/2010
O nascimento aristocrático determina o gesto cinematográfico do alemão Max Ophüls. Em Na teia do destino (The reckless moment; 1949), uma narrativa que está incrustada na atmosfera dos sombrios melodramas policiais noir dos anos 40, Ophüls exibe a magnificência de seu refinado estilo de filmar fazendo sua câmara passear com espantosa naturalidade pelos cenários burgueses em que ambienta sua esquiva história de problemas sentimentais e criminais que invadem os interiores duma família de classe média americana. Apesar das possíveis ligações com o policial noir, Na teia do destino difere bastante de outro alemão que andava por Hollywood naquela época, Fritz Lang; se Lang se inseria mais facilmente no recorte do gênero, Ophüls adota uma psicologia própria mais aparentada com europeus nobres como o italiano Luchino Visconti e que viria gerar uma vertente do cinema do francês François Truffaut, um de seus admiradores ilustres e que o chamou “nosso cineasta de cabeceiraâ€.

Na teia do destino começa pela indignação duma mãe com o namoro de sua filha com um galanteador madurão e sabidamente mau caráter. A mãe se intromete indo ter com o namorado de sua filha para persuadi-lo a desistir da garota de dezessete anos. O encontro na garagem dos barcos entre a garota e seu namorado tem um desfecho violento. Na manhã seguinte, a mãe descobre o cadáver do homem e, a bordo duma embarcação, leva o corpo para o pântano. Descoberto o corpo, começa o procedimento policial. Surge um chantagista: munido de cartas da garota ao namorado, ameaça a mãe pedindo dinheiro. Uma ligação estranha e apaixonada entre o chantagista e a mãe da garota é o embate psicológico aprofundado por Ophüls, e para tanto ele conta com atores tensos e intensos como James Mason e Joan Bennet. No fim do filme, solucionada a questão mas com as feridas da paixão irresolvida, a mulher está ligando, aos soluços, para seu marido que estava em viagem desde o começo do filme: a árvore de Natal está pronta esperando por ele. É uma acomodação burguesa que Ophüls executa com brilho e profundidade.

Fazendo uma espécie de equivalência com a literatura, se diria que Ophüls traz para o cinema o universo da inteligência do sombrio, aquelas mentes um tanto quanto cavernosas que o escritor inglês Aldous Huxley punha em seus livros. E Na teia do destino é um dos momentos soberanos desta grandeza de filmar. (Eron Fagundes)