Crítica sobre o filme "Contatos de 4º Grau":

Wally Soares
Contatos de 4º Grau Por Wally Soares
| Data: 21/04/2010
Contatos de 4° Grau, de Olatunde Osunsanmi, é um embuste. Uma farsa mal elaborada que, faltando a proeza de filmes que se tornaram trapaças eficientes como o recente Atividade Paranormal, tentou fazer sucesso em cima de uma mentira por um marketing viral que se revelou um verdadeiro fiasco. O que Osunsanmi não parece ter compreendido é que estes filmes de câmera subjetiva como A Bruxa de Blair foram bons e se tornaram sucesso porque a verdade era implícita. Contatos de 4° Grau a todo momento tenta validar a história que está contando, lembrando o espectador de minuto a minuto que aquelas ocorrências baseiam-se em duros fatos. Essa obsessão se torna um artifício frívolo que causa exatamente a impressão oposta.

A obra já começa errando, com Milla Jovovich surgindo artificialmente ao se introduzir como atriz e constatando a veracidade dos fatos que veremos a seguir. No enredo, ela interpreta a psicóloga Abbey Tyler, que mora na cidade de Nome, no Alaska, com sua família. Seu marido acaba de sofrer uma morte misteriosa atribuída como homicídio. Tyler retoma o trabalho do marido, fazendo sessões com certos cidadãos daquela pacata cidade cujas experiências incomuns aos poucos se tornam motivo para as mais diversas especulações. Tentando montar um quebra-cabeças complicado, Tyler usa o hipnotismo nas suas sessões, o que traz a tona nos pacientes reações fortíssimas. No decorrer do processo, Tyler se vê mais e mais inclinada a aceitar que a população de Nome tem sido vítima do contato de 4° grau. Ou seja, foram literalmente abduzidas por alguma raça alienígena.

Apesar da abordagem inconsistente e inadequada, Contatos de 4° Grau não é um total fracasso. As “imagens de arquivo†que permeiam a metragem são perturbadoras o suficiente para te deixar com frio na espinha. O que nos leva à constatação de que, se Osunsanmi tivesse abraço a câmera subjetiva como linguagem única – como o próprio Atividade Paranormal – a mentira que ele tanto tenta vender como verdade teria nos deixado uma impressão mais forte. Mas é difícil sentir alguma coisa quando o diretor divide a tela em dois extremos – a simulação e o arquivo. Certo momento de grande peso dramático surge completamente leviano, diante da escolha irregular do cineasta em dividir sua tela em não dois, mas quatro espaços. O split-screen é muito mal utilizado e quebra completamente o drama. Osunsanmi precisava decidir qual filme ele queria fazer: o longa de ficção que simularia os tais fatos verídicos, ou o documentário farsante que utilizaria as filmagens em arquivo. O desequilíbrio na hora de mesclar estes dois estilos deixa a película impessoal, forçada e desintegra qualquer emoção mais forte que a audiência poderia vir a ter.

Apesar da imensa autenticidade que as imagens “verídicas†possuem, muitas vezes nos envolvendo para dentro daquele enredo com imensa facilidade, o mesmo não pode ser dito pela parte “ficcional†do projeto. Jovovich até faz alguns esforços muito perceptíveis, mas ela não consegue transformar Abbey Tyler em uma mulher de carne e osso intensamente perturbada pelas ocorrências a sua volta. É o de menos, porém, em um elenco que conta com a performance desastrosa de Will Patton, praticamente um canastrão assumido. As emoções que envolvem os personagens desta história, sejam os pacientes de Abbey ou mesmo sua conexão com os filhos, nunca evoluem da forma que esperaríamos. Talvez porque a narrativa de Osunsanmi é fragmentada demais. Ou talvez porque a força do drama realmente é mínima, relegada a diálogos fraquíssimos e drama superficial.

Não precisa acreditar em alienígenas, porém, para se sentir ao menos um pouco envolvido pelas ocorrências sinistras ao longo da película. Como dito, a parte dramática falha completamente, mas as imagens de arquivo surgem sempre curiosas e interessantes (até pelo ponto de vista técnico). A sequência mais eficiente do filme, alias, é uma em que ouvimos uma gravação. O poder daquela gravação esmiúça qualquer emoção barata que os atores e o roteiro artificial tentam nos vender pela maior parte da metragem. Tal fato reforça ainda mais a idéia de que, caso o diretor tivesse optado por realizar um só filme – e não dois em um – ele teria sido bem mais eficiente – e, quem sabe, obtido um sucesso maior.

Por meio de vícios estéticos, narrativa irregular e roteiro pedestre, Contatos de 4° Grau invalida a história fictícia que tenta nos vender como verdade. Realmente não ajuda quando, ao término da película, Jovovich e Osunsanmi surgem a diante do espectador para comentar mais uma vez sobre a veracidade dos fatos. Parece que, temendo tanto a fraqueza do material em mãos, Osunsanmi tivesse que frisar a todo momento que o abordado era real. Pois vai ser difícil enganar as pessoas com essa sua farsa. (Wally Soares)