Crítica sobre o filme "Assalto ao Carro Blindado":

Wally Soares
Assalto ao Carro Blindado Por Wally Soares
| Data: 26/04/2010
Existe uma grande diferença entre simples e simplista. Depois do razoável Temos Vagas, filme de suspense feito sob medida com alguns acertos e alcance limitado, o cineasta Nimród Antal volta a explorar a tensão em um roteiro que, seguindo uma abordagem das mais simples, se entrega ao simplismo covardemente na hora de propor resoluções para as armações que constrói. E, convenhamos, um filme sobre assalto não se pode dar ao luxo de ser simples. Nos melhores exemplares do gênero, a virtuosidade pode ser medida pela complexidade da trama. O Plano Perfeito, de Spike Lee, que o diga. Desenvolvendo inúmeros dramas interessantes e armações intrigantes em sua primeira metade, Assalto ao Carro Blindado aos poucos assume sua postura de suspense simples – o que não é demérito. A simplicidade, porém, culmina em um decepcionante avalanche de escolhas implausíveis por um roteirista que – em seu primeiro trabalho em longa-metragem – transparece amadorismo.

A trama da obra gira em torno do grupo de seguranças de um carro-forte que decidem encenar um assalto para roubarem todo o dinheiro contido no cofre (estimados US$ 42 milhões). Quando o jovem veterano de guerra Ty Hackett (Columbus Short) se junta ao grupo de guardas, seu amigo e colega de trabalho Mike Cochrone (Matt Dillon) o aborda com a oportunidade de dar uma virada em sua vida – Ty cuida de seu irmão sozinho após a trágica morte dos pais, precisando arcar com dívidas e despesas.

De início, é admirável a atenção do roteiro ao desenvolvimento prévio dos personagens principais, inserindo bem a audiência em seus dilemas – e, consequentemente, em suas dúvidas. Por outro lado, ao passo que o longa-metragem começa a desenvolver sua trama, personagens secundários diversos começam a entrar em cena. Quando o assalto toma conta da metragem, a tensão é praticamente inexistente. Isso porque não fazemos a mínima idéia quem são estes inúmeros personagens que agora decidiram roubar a cena. Não nos importamos por eles e não entendemos suas motivações. Aqui ou ali o roteiro joga uma dica ou uma deixa, mas nada que denote qualquer relevância verdadeira.

O elenco, por sua vez, até realiza um trabalho competente dentro das limitações de seus personagens. Columbus Short, cuja filmografia foi um erro até surpreender com ótima atuação em Cadillac Records, é vítima de um personagem muito mal escrito, mas ainda que nunca realmente emplaque, almeja nos envolver por boa parte do tempo. Matt Dillon está muito bem – como de costume – mas também não evita cair na armadilha do roteiro, que transforma seu personagem de uma forma totalmente rasa. De resto, vale destacar Skeet Ulrich e Milo Ventimiglia, em meio a atuações um tanto instáveis de Laurence Fishburne e Amaury Nolasco – sem contar a participação fútil de Jean Reno (completamente sem lugar).

Por trás de todos estes seus defeitos gritantes, Assalto ao Carro Blindado tem trabalhando a seu favor o formato do gênero que Nimród Antal retrata com segurança. É um filme curto, ágil e violento. Portanto, apesar da ausência de tensão e interesse, trata-se de um filme que almeja segurar sua atenção até o último segundo. Mesmo que, chegando lá, você perceba o quanto foi um desperdício de tempo. O mais frustrante na obra é como os personagens são desenvolvidos no ato final. Eles tomam posturas implausíveis e escolhas totalmente inverossímeis – ao menos para uma audiência que, desprovida de um script mais elaborado, desconhece a natureza de cada uma dessas figuras. No final das contas, tudo acaba soando terrivelmente forçado e artificial, mantendo o espectador cético até os créditos rolarem.

Como se o roteiro já não fosse medíocre o bastante, alias, ainda vale mencionar a absurda quantidade de furos. Começando pela falta de preparo absurda do grupo de seguranças – e é difícil acreditar que possuíam um plano – terminando nos eventos demasiadamente bobos do desfecho, que é fácil e previsível. Ignorando todos estes defeitos, se desligando para as inconsistências e simplesmente enxergando no filme um escapismo simplista (porque é a palavra que melhor o define), talvez até dê para sair ligeiramente entretido. Isso, porém, requer certo esforço. Antal tenta segurar as rédeas e possui bons momentos de condução, deixando a audiência envolvida – nem que seja para esperar por uma revira-volta que nunca chega. Com o material em mãos, porém, realmente não há muito que o cineasta pudesse realizar que não fosse duvidoso e limitado. (Wally Soares)