Crítica sobre o filme "Lunar":

Jorge Saldanha
Lunar Por Jorge Saldanha
| Data: 04/05/2010
LUNAR (MOON, 2009), considerado pela crítica como um dos melhores filmes de ficção científica do ano passado ao lado de DISTRITO 9, foi muito mais comentado do que visto. O próprio diretor britânico Duncan Jones (filho do astro do rock David Bowie) reclamou muito da distribuição limitada feita pela Sony Classics, que adquiriu os direitos desta produção independente. Como resultado ele foi esquecido pelas grandes premiações como Globo de Ouro e Oscar, ganhando um BAFTA (o Oscar britânico) e outros prêmios / indicações em festivais de cinema independente ou de ficção científica, como o de Sitges. Muito pouco para um filme que muitos críticos disseram rivalizar com 2001 – UMA ODISSEIA NO ESPAÇO e BLADE RUNNER. Bem, eu não vou tão longe.

De fato LUNAR é um dos mais promissores filmes de um diretor estreante, e indiscutivelmente um dos melhores do gênero vistos recentemente, ousando em uma trama intimista que dispensa os tiros e as explosões que andam dominando as produções de ficção científica – e aí se inclui até mesmo o ótimo DISTRITO 9. Mas o jovem Duncan Jones ainda vai ter que comer muito feijão para realizar um clássico à altura das obras primas de Stanley Kubrick e Ridley Scott. De qualquer maneira seu primeiro e ótimo longa-metragem é a prova de que ele começou com o pé direito, com talento e desenvoltura de fazer inveja a boa parte de seus colegas veteranos.

Os grandes trunfos deste pequeno filme (que por vezes parece grande graças aos excelentes desenho de produção, cenários e efeitos visuais – estes privilegiando o tradicional uso de maquetes no lugar da computação gráfica, usada principalmente para a adição de detalhes às tomadas), são basicamente um ótimo roteiro de Nathan Parker (baseado em história criada pelo diretor) que aborda temas caros ao gênero, à direção surpreendentemente firme do jovem cineasta e uma interpretação estelar do sempre ótimo Sam Rockwell, que atua durante todo o filme ou sozinho, ou com o robô Gerty ou consigo mesmo. A este respeito espero não estar entregando o grande segredo da trama, já que a maior pista aparece mesmo no trailer: seu personagem, após um acidente, encontra um clone que pensa ser o Sam Bell original.

Jones soube realizar um filme que, sem afastar as convenções sci fi, consegue inovar sem ser demasiado “cabeça†ao mesmo tempo em que homenageia os dois clássicos já mencionados acima. De 2001, as referências mais óbvias são o robô Gerty, com sua voz macia que lembra o computador HAL-900, e o design clean, branco dos cenários da base lunar e mesmo os displays dos computadores. Já a trama lida com ideias comuns a BLADE RUNNER, no que se refere à questão da humanidade de formas de vida criadas através da engenharia genética. Também merece destaque a trilha incidental de Clint Mansell, uma pequena jóia musical que consegue traduzir perfeitamente o isolamento da vida na base lunar e a melancolia do personagem de Rockwell. LUNAR infelizmente não foi lançado nos cinemas do Brasil (de fato, Jones tem razão ao criticar a Sony), saindo por aqui diretamente em DVD e Blu-ray. Só posso recomendar a você que não perca a oportunidade de conhecer este pequeno / grande filme.