Crítica sobre o filme "Todo Volume, A":

Wally Soares
Todo Volume, A Por Wally Soares
| Data: 08/05/2010

David Guggenheim, diretor do consagrado documentário Uma Verdade Inconveniente – um retrato sobre aquecimento global e os dilemas do meio ambiente em pleno século XXI – novamente tenta fazer um bem ao mundo. A Todo Volume, seu novo filme, coloca em cena três dos maiores gênios do rock, criando um documentário tão vibrante quanto é fascinante, intrigante e sonoro. Fazendo jus ao título, a música aqui é elevada à máxima potência, dissecando o valor artístico do rock n’roll em suas diversas facetas – personalizadas aqui por três ícones da música mundial que eclodiram em tempos diferentes. Seja no denso rock pesado dos anos 70, no fervor das baladas de rock dos anos 80 ou no punk rock enraizado no folk dos anos 90, a película registra e ressoa. A Todo Volume termina como muito mais do que apenas um documentário sobre três artistas, mas como uma ode ao furor da música.

Os gênios aqui retratados são Jimmy Page, The Edge e Jack White – guitarristas e compositores de bandas de sucesso. Page pertenceu ao Led Zeppelin, banda cultuada que surgiu no final dos anos 60, gravando por 10 sólidos anos. The Edge, por sua vez, é do U2, banda de sucesso desde o início dos anos 80. E, finalmente, Jack White – de longe o mais novo dos três – que fez fama ao lado da irmã com The White Stripes no fim dos anos 90. Hoje, faz parte das bandas The Raconteurs e The Dead Weather. Cada um dos três, em suas respectivas épocas, ofereceram algum elemento imprescindível para a música (e para a humanidade, convenhamos) e A Todo Volume realiza um introspectivo retrospecto de suas carreiras e influências. Enquanto isso, seguimos o dinâmico relacionamento entre os três ao passo que debatem entre si o valor da música, suas histórias de rock e a paixão mútua pela guitarra.

Guggenheim acertou em cheio no formato documental estabelecido. Enquanto vemos a interação dos três artistas reunidos em um estúdio, acompanhamos paralelamente as histórias de cada um – convergindo para formar uma só visão do valor inexorável da música. Visão implacável e única apenas sobre a paixão que os movem e a fascinação que os envolve, já que cada um vê o rock de sua forma especial. A complementação que realizam entre si, aliás, culmina em um imenso prazer para qualquer espectador que seja fã do trio – ou mesmo do próprio rock que idolatram. A estrutura do filme oscila então entre depoimentos dos artistas, apresentações suas, filmagens antigas e o delicioso encontro dos três enquanto tocam riffs um do outro.

O principal mérito de Guggenheim é não cair no óbvio. Não se prendendo a fórmulas e não se limitando apenas ao registro, ele realmente mergulha na música. O objetivo dele é esmiuçar exatamente esse fascínio em torno da música e do rock, representado por sua vez pelos depoimentos sempre densos e afetivos dos músicos. Destaque para um momento especialmente singelo no qual Jack White revela sua música preferida, escutando-a com emoção perceptível. Excelente também a metáfora construída por The Edge para uma epifania particular. Divertido, por sua vez, é Jimmy Page, que realiza uma analogia gratificante entre música e orgasmo.

Em um ótimo trabalho de arquivo, Guggenheim traz a tona gravações raras. Seja um momento particularmente brega do U2 antes do sucesso, o show arrasador de Jack White em que literalmente sangra em sua guitarra ou apresentações belas em preto e branco do Led Zeppelin. Tudo muito bem editado em uma metragem enxuta e bem rítmica – imprescindível para qualquer documentário que se preze – que finaliza-se antes dos 100 minutos lhe deixando ainda com um gostinho de quero mais.

Ainda que não seja perfeito, A Todo Volume é um documentário tão ressoante e bem trabalhado que ocasionais tropeços e limitações soam como pecadilhos irrelevantes em uma obra que encontrará seu público e certamente será cultuada futuramente. A análise contundente do poder irrefutável da música é estupefante, e acompanhar estes três ídolos em ação é um prazer a parte. Mais do que um tour de force musical, porém, é ótimo Cinema. E por meio de sonoridade excitante, imagens impactantes e um intimismo notável, a obra alcança o êxtase. Seja qual for tua paixão -–"Música ou Cinema"–- A Todo Volume corresponde.