Crítica sobre o filme "Encontro de Casais":

Wally Soares
Encontro de Casais Por Wally Soares
| Data: 10/05/2010
Ao som da sensacional “Modern Loveâ€de David Bowie, os créditos iniciais de Encontro de Casais fazem rima ao tema do filme, retratando casais e relacionamentos por fotos em preto e branco. Esse clima genuíno de romance e leveza, elevado pelo dinamismo da música, não vinga. Encontro de Casais até se esforça, possui um ou outro momento válido e alguns atores com bom timing cômico – no fim das contas, porém, é mais do mesmo. Um tanto pretensioso, o longa-metragem se prolonga por duas maçantes horas em uma tentativa desajeitada de analisar relacionamentos e conferir algum peso mais dramático. Falhando imensamente neste quesito, a obra também não é suficientemente engraçada para valer o tempo gasto. Excessivamente dependente de fórmulas, clichês e piadas prontas, nem mesmo a improvisação perceptível de grande parte dos atores almeja salvar o filme da obviedade.

A história gira em torno de quatro casais amigos. Dave (Vince Vaughn) e Ronnie (Malin Akerman), que possuem dois filhos; Jason (Jason Bateman) e Cynthia (Kristen Bell), cujo casamento está em crise; Joey (Jon Favreau) e Lucy (Kristin Davis), cada vez mais distantes um do outro; e Shane (Faizon Love), que acaba de se separar da mulher, iniciando um namoro descomprometido com a jovem Trudy (Kali Hawk). Tentando salvar o casamento, Jason e Cynthia decidem ir para uma ilha paradisíaca, cujo pacote promocional só é possível com quatro casais. Convidam os amigos, partem para o que imaginam como uma viagem inesquecível. O porém é que o pacote inclui um intenso acompanhamento para cada um dos casais, onde a terapia é obrigatória.

Encontro de Casais foi roteirizado pelos próprios atores Vince Vaughn e Jon Favreau, amigos que trabalham juntos desde Rudy, de 1993. Ao lado de Dana Fox, construíram um texto que incita muitos argumentos interessantes, abordando os relacionamentos de seus personagens com um “quê†de análise e – claro – muito humor. O problema é que tudo é muito superficial. Apesar de abordarem os relacionamentos com um olhar mais crítico, em nenhum momento validam seus argumentos com consistência, bons argumentos ou mesmo qualquer emoção mais exemplificada. Portanto, o filme é frio em sua tentativa de se tornar uma comédia sobre relacionamentos, no sentido de que a audiência nunca vem a se importar de fato pelos personagens, cujos conflitos são introduzidos artificialmente. Vaughn foi autor da história que deu origem ao roteiro de Separados pelo Casamento, essa sim uma comédia que vai além, tornando-se um drama esperto sobre as dinâmicas de um casal. Soa como se Vaughn tivesse forçado a barra desta vez – e a pretensão apenas enfraquece o filme ainda mais.

O longa-metragem parece ter sido um projeto muito pessoal de Vaughn, levando parte da filmagem para a cidade onde cresceu e até escalando seu próprio pai para o papel do avô de seus filhos. Filhos, aliás, que protagonizam as cenas mais forçadas do filme. A última cena, por exemplo, é completamente dispensável, não adicionando em nada à história e apenas pegando emprestada a idéia de uma gag anterior. Assistindo ao filme, percebe-se que o elenco realmente está se divertindo em Bora-Bora (o paraíso tropical onde o filme foi filmado em sua maior parte) e a improvisação rola solta. Toda essa leveza não se concretizou na película em si, que abandona o clima leve e solto de descompromisso diante de pretensões ambiciosas (e mal definidas). Denota-se, portanto, que no meio de um projeto pessoal, faltou objetividade.

O diretor do filme, alias, é outro colaborador usual de Vaughn, o ator Peter Billingsley, que estreia aqui atrás das câmeras. Sua falta de experiência é evidente. Seja na falta de inspiração na hora de filmar um lugar tão bonito e exótico – simplesmente não existe vida na fotografia do filme – ou mesmo em cenas muito mal concebidas como a que acompanha um duelo do jogo Guitar Hero, uma sequência terrivelmente irregular. A salvação do filme diante do completo fracasso fica por conta de alguns nomes do elenco. O próprio Vince Vaughn está muito bem, como de costume, ao passo que Jon Favreau rouba todas as cenas. O timing cômico dos dois é quase infalível. A película também traz participações inspiradas de Ken Jeong e John Michael Higgins, como terapeutas. Por outro lado, conta com um patético Jean Reno e atuações especialmente fracas como a de Kristin Davis e Kristen Bell.

Encontro de Casais possui boas intenções, um enredo promissor e bons elementos em jogo, mas o pacote final é lamentavelmente fraco. O humor, fraquíssimo, espalha poucas risadas sinceras ao longo da metragem. O resultado é uma sessão de quase duas horas um tanto enfadonha e mal resolvida. Ao clímax, surgindo uma bela oportunidade para o roteiro tornar-se realista e intrigante na sua pretensiosa abordagem de relacionamentos, os escritores covardemente decidem trilhar pelo caminho mais fácil, finalizando a sessão da forma mais previsível possível. Um filme dispensável, para dizer o mínimo. (Wally Soares)