Crítica sobre o filme "Aprendiz de Vampiro":

Wally Soares
Aprendiz de Vampiro Por Wally Soares
| Data: 15/05/2010
Se não fossem pelos efeitos especiais mais polidos e os rostos conhecidos do elenco, Circo dos Horrores: O Aprendiz de Vampiro poderia se passar muito bem como uma daquelas películas trash de horror infantil dos anos 80 cujos títulos me escapam. É a impressão com a qual ficamos ao longo de uma história bizarra cheia de magia, esquisitices e muita incoerência. Com um desenvolvimento um tanto desequilibrado, O Aprendiz de Vampiro acaba se limitando à exclusividade. O filme funcionará tão somente para a faixa etária da série de livros na qual se baseia. E não exatamente pelo tema, personagens e conteúdo em geral, mas pela falta de criatividade da direção e falta de consistência do roteiro. Trata-se de um filme tão bagunçado em sua condução que só o público alvo poderá apreciá-lo adequadamente.

Circo dos Horrores: O Aprendiz de Vampiro é baseado na primeira trilogia de uma série de livros composta por 12 exemplares. Escrita por Darren Shan, a saga começa com a história de Darren (Chris Massoglia) e Steve (Josh Hutcherson), dois amigos que visitam um circo de aberrações apenas para encontrarem lá uma aranha fascinante e um vampiro curioso; as obsessões de cada um, respectivamente. Envolvidos pelas figuras, realizam escolhas fundamentais para ingressá-los em um mundo mágico e perigoso. Após uma série de incidentes, Darren é forçado a abandonar sua vida, tornando parte do circo de aberrações e provocando inimizade por parte de seu antigo amigo.

A inconsistência do roteiro é claramente explicada pela escolha de adaptarem três livros em um só filme, nunca uma boa escolha. A película transforma-se em uma confusa colcha de retalhos cujas ocorrências e personagens são tão perdidos nas entrelinhas da história que falta à audiência a boa vontade de se envolver com os acontecimentos. A obra torna-se automaticamente fria. Não ajuda também o fato dos personagens serem terrivelmente unidimensionais. Faltam cenas mais íntimas, ao invés de uma narrativa tão apressada e trivial. Na sequência onde o personagem de Steve chega bem perto da morte, por exemplo, não há emoção ou suspense – já que os sentimentos dos personagens não são atenuados. A amizade de Darren diante de Steve fica transparente, visto que a cena é cortada antes que qualquer envolvimento emocional possa ser fundamentado.

Todo esse envolvimento entre audiência e personagens é ainda fragilizado pela falta de talento (ou mesmo carisma) do protagonista. O personagem de Darren já é um tanto enfadonho e o ator Chris Massoglia o deixa ainda menos interessante. Por outro lado, seu amigo Steve é interpretado pelo admirável Josh Hutcherson com a devida dedicação – mesmo que o roteiro o submeta a momentos vergonhosos. O resto do elenco da obra é bastante interessante. John C. Reilly cria um bom vampiro, mas esperava-se um toque mais bem humorado a sua persona. Salma Hayek, por sua vez, está verdadeira bizarra com uma barba, ao passo que Ken Watanabe assusta pelo seu tamanho e Willem Dafoe se diverte em ponta quase inexistente. O elenco todo parece sintonizado com o clima apropriadamente bizarro e trash da película, principalmente os que interpretam vilões (os encarnando da forma mais canastra possível).

Circo dos Horrores: O Aprendiz de Vampiro tem uma ou outra boa idéia e alguns momentos inspirados. Em seu núcleo, existe uma boa história. Há alguma criatividade no enredo e na narrativa. O problema é como tudo foi desenvolvido, em uma condução frágil e implausível (mesmo para o gênero). O script, escrito pelo vencedor do Oscar® Brian Helgeland e por Paul Weitz (o diretor) é cheio de diálogos bobos, cenas intragáveis e carregado com um teor altamente prejudicial para qualquer um com mais de doze anos de idade. Faltou dinamismo, síntese e, sim, envolvimento emocional. Não nos importamos pelos personagens, no final das contas. Portanto, não nos envolvemos com a história. Como um escapismo barato e banal sobre o mundo sempre divertido dos vampiros, a obra apetece aos mais jovens. Mas é só.

Este é o primeiro trabalho de Paul Weitz sem qualquer ajuda de seu irmão, Chris Weitz (com o qual dividiu uma indicação ao Oscar® pelo roteiro de Um Grande Garoto). Seus dois filmes anteriores, Tudo Pela Fama e Em Boa Companhia, foram bons exemplares dentro de seus gêneros: comédia e drama, respectivamente. Ambos baseado em um roteiro original seu. O consenso é claro: Weitz se perdeu ao adaptar três livros em um só filme e, mais que isso, se perdeu em um gênero que não é seu. Existem pitadas de fascínio em Circos dos Horrores: O Aprendiz de Vampiro, mas elas nunca somam a nada. A obra termina sem muita resolução, por fazer parte de uma série, e não se segura como um longa-metragem conciso e independente. Sempre será incompleto. Pior: não fez sucesso o suficiente para que os próximos da série de livros sejam adaptados para o Cinema. No jogo chamado Hollywood, quem sai perdendo é a audiência. (Wally Soares)