Crítica sobre o filme "Fantástico Sr. Raposo, O":

Viviana Ferreira
Fantástico Sr. Raposo, O Por Viviana Ferreira
| Data: 30/05/2010
Quando Wes Anderson resolveu adaptar a obra de Roald Dahl O Fantástico Senhor Raposo eu sabia que o resultado seria no mínimo original. O que eu não imaginava é que teríamos um longa tão encantador e charmoso, destacado pelas ótimas dublagens e a trilha fenomenal do sempre genial Alexandre Desplat.

A história gira em torno do Senhor Raposo (dublagem original de George Clooney), onde inicialmente adora roubar comida nas fazendas da região. Mas quando ele está com sua namorada e futura esposa Senhora Raposa (dublagem original de Meryl Streep) e uma das caçadas dá errado (e a senhora raposa conta pra ele que está grávida), ele decide se tornar um raposo de respeito. O filme então salta para anos depois onde senhor e senhora raposa são um casal de raposas de classe média e tem um filho - Ash (dublagem original de Jason Schwartzman) que é “diferente†e sofre por nunca conseguir satisfazer o pai. Em meio a tudo isso alem da mudança da família para uma arvore perto de tentações como galinhas e feijões para o papai raposo, chega Kristofesson (Eric Anderson) que é tudo que o Senhor Raposo gostaria que o filho fosse, para mais conflitos na família.

Principalmente pela sua historia, O Fantastico Sr. Raposo já seria digno de no mínimo, um filme satisfatório. Mas é o cuidado, o capricho, e o amor que Anderson tem para o longa que fazem do filme uma pequena jóia. Os cenários, todos uniformemente em cor sépia, com uma fotografia de Tristan Oliver de encher os olhos, é que fazem do longa, em “stop motionâ€, ser tão especial.

Claro que não posso deixar de destacar as dublagens, que além dos protagonistas contam com artistas do calibre de Michael Gambon, Bill Murray, Owen Wilson, William Defoe, Brian Cox e Adrien Brody. E George Clooney está um arraso na dublagem de Mr. Fox, é uma das melhores dublagens que já vi na vida, como Eddie Murphy como o burro do Shrek e Robin Williams como o gênio da lâmpada do Aladdin (pra mim até hoje a melhor dublagem da historia da animação). E que trilha é aquela? Sou fã incondicional de Alexandre Desplat, e seu trabalho no filme é nada mais que fantástico. As faixas lúdicas misturadas à temas que lembram Ennio Morricone, dão um ar chique e divertido ao longa, trazendo mais a relação de ambigüidade existente no filme (animação com problemas da vida real).

Assim como em Coraline e o Mundo Secreto temos aqui conflitos que envolvem os personagens, e questões que, embora pareçam inocentes à certo modo, são profundas a reflexivas como: a sensibilidade de Ash que deixa no ar uma possível homossexualidade e sua dificuldade em agradar o pai sempre insatisfeito; os conflitos internos de Kristoffeson que sofre com a doença da mãe (motivo que o levou à morar com os tios); a vontade sem controle do Sr. Raposo de caçar comida mesmo sabendo que isto é ilícito. Todos estes conflitos fazem do longa um complexo facilitado, pela diversão e inteligência que o mesmo proporciona.

Por ultimo então, vale destacar a direção de Wes Anderson, diretor promissor e criativo que consegue fazer deste longa o seu melhor trabalho, pelo simples fato de conseguir passar de modo equilibrado situações que remetem ao dia-a-dia do expectador, mas de modo tão leve que consegue alcançar o objetivo da diversão.

Uma grande obra, um dos melhores longas de 2009, que me faz pensar cada vez mais como foi injusta a vitória de Up - Altas Aventuras na categoria de melhor animação no Oscar® deste ano. De qualquer modo, merece o sucesso nas locadoras, por ter um elemento crucial para um bom filme: a alma. (Viviana Ferreira)