Crítica sobre o filme "Estão Todos Bem":

Wally Soares
Estão Todos Bem Por Wally Soares
| Data: 07/06/2010
Baseado em longa-metragem italiano de 1990 dirigido por Giuseppe Tornatore (cineasta do belíssimo Cinema Paradiso), Estão Todos Bem possui todos os pilares que regem uma comovente história sobre família. O filme original, Estamos Todos Bem, foi um maravilhoso – e melancólico – retrato das decepções, dos pesares e das complexidades nem sempre triviais da vida familiar. Faltando a densidade louvável do original, Estão Todos Bem reúne um grande número de estrelas hollywoodianas para contar uma história intimista que nem sempre ressoa. Ainda que seja muito inferior, a refilmagem acerta no núcleo emocional e nas pequenas nuances que reverberam.

O filme segue os esforços de Frank Goode (Robert De Niro) ao tentar se conectar com os filhos. Viúvo, mora sozinho em uma cidade longe dos quatro filhos adultos e anualmente os recebem para uma grande ceia. Este ano, porém, todos ligaram para desmarcar. Logo, Frank decide partir em uma viagem, batendo à porta de todos para saber como estão. Ao surpreendê-los, porém, Frank acaba por descobrir que nenhum deles possuem a vida que ele imaginava que tinham. Com seu orgulho de pai ferido, precisa entrar em termos com a realidade desnudada enquanto cruza o país à procura de filhos dos quais pouco reconhece nessa altura de suas vidas.

A grande força de Estão Todos Bem – como no original – é o personagem principal. Se no filme italiano foi vivido de forma magnífica por Marcello Mastroianni, aqui De Niro não decepciona. Construindo um personagem forte que conquista nossa empatia logo nos primeiros minutos, De Niro – e seu Frank Goode – evolui gradativamente, trazendo a tona nuances significativas e revelando momentos de imensa virtuosidade. Desde 1995, ano de Cassino e Fogo Contra Fogo, que De Niro não entrega uma atuação tão vibrante. Por outro lado, os atores que interpretam os filhos de Frank possuem pouco espaço para brilhar e um texto superficial no que diz respeito o âmago de seus personagens, surgindo quase que como coadjuvantes de luxo. Kate Beckinsale está especialmente enfadonha, ao passo que Drew Barrymore possui seus momentos e o sempre digno Sam Rockwell se esforça para tirar alguma essência de seu frívolo personagem. O que dizer então de Melissa Leo, encarando uma personagem realmente gratuita e em nada essencial para o desenvolvimento da narrativa?

Muitas das virtudes de Estão Todos Bem são, na verdade, reciclagem do material original. Ainda que o filme consiga se distanciar bastante do antecessor ao realizar uma abordagem diferenciada, existem ecos muito particulares das inúmeras idéias geniais da obra italiana. Uma em especial se diz respeito a forma como Frank vê seus filhos – como crianças inocentes. Quando os visitam, primeiro os vê como crianças para depois notar que são, na verdade, adultos. É uma sacada genial do filme de Tornatore que havia sido realçada por movimentos de câmera excelentes – aqui, porém, Kirk Jones não revela a mesma habilidade. A sequência que traz todos os filhos de Frank como crianças em uma ceia, alias, simplesmente não funciona, soando superficial e faltando o tom emocional correto para ressoar. É quando Jones aposta na sutileza que Estão Todos Bem realmente dá certo. Sejam nos primeiros minutos quase silenciosos em que acompanhamos o cotidiano monótono de Frank ou nos ocasionais olhares que dizem muito mais que meras palavras cercando cenas de grande força emocional. Portanto, trata-se de uma película que equilibra faltas e virtudes, impossibilitando qualquer generalização fácil.

Recomendável preferencialmente para aqueles que não conhecem o filme italiano de 1990, Estão Todos Bem possui tudo para funcionar com um público novo. É sensível, é bonito quando precisa ser e traz consigo um forte protagonista. E, quando se tem um personagem principal consistente, o resto meio que o acompanha. É, em síntese, uma reciclagem de boas idéias, condicionadas ao teor hollywoodiano de ser dos dramas e com direito a final feliz contundente – algo que o filme original não teve. São nos detalhes que o filme nos conquista, como no fato de Frank usar telefones públicos enquanto seus filhos se comunicam via celular. É uma sacada simples, porém significativa. Traduz toda essa distância entre pai e filhos e, mais importante, o que o tempo mudou. Porque, no fim das contas, o filme é sobre as transformações que o tempo traz nos seus personagens humildemente complexos.

Humilde, alias, é uma palavra certa para definir Estão Todos Bem, que pouco ousa e se limita a canalizar os temas e sugestões do original. É um bom filme. Correto e realizado com decência. Kirk Jones é um bom diretor e o roteiro faz o possível para se esquivar dos clichês. Só não é um grande filme. E, portanto, só me resta recomendar que, ao invés de encarar este remake americano correto, visitem o original maravilhoso – feito com aquela magia inconfundível da cinematografia comovente de Tornatore. (Wally Soares)