Crítica sobre o filme "Idas e Vindas do Amor":

Wally Soares
Idas e Vindas do Amor Por Wally Soares
| Data: 09/06/2010
Depois do ótimo Simplesmente Amor e do bom Ele Não Está Tão Afim de Você, Idas e Vindas do Amor volta a abordar a narrativa de múltiplas histórias centradas no amor. Sem a sensibilidade magnífica do primeiro e a diversão sagaz do segundo, o filme dirigido pelo tiete de comédias românticas Garry Marshall (Uma Linda Mulher) aposta mais na fórmula e no elenco de renome do que nos próprios personagens. A natureza de Idas e Vindas do Amor é por si só burocrática. Além de contar com um elenco composto por pelo menos 17 grandes estrelas, foi feito sob medida para o dia dos namorados. Não só teve sua estreia marcada para o tal dia em terras estadunidenses, como também denomina-se, originamente, como “Dia dos Namoradosâ€. Em um filme cujo orçamento deve ter sido unicamente dedicado a preencher os cachês do vasto e importante elenco, rostos conhecidos aparecem de segundo a segundo, enquanto a narrativa se dilacera em arcos dramáticos relâmpagos.

O roteiro, escrito por Katherine Fugate e idealizada por Abby Kohn e Marc Silverstein (os roteiristas de Ele Não Está Tão Afim de Você), persegue então 21 personagens que se cruzam no tumultuado dia dos namorados americano (data que é levada muito a sério nas terras gringas). Pedidos de casamento, revelações chocantes, infidelidade, virgindade, sexo, casamento... o filme percorre a vasta planíce que é o Amor. E nem sempre ele. Em síntese, os relacionamentos em si, que chegam com suas parcelas de desilusões, decepções e amarguras. Idas e Vindas do Amor não trata suas histórias como se fossem tiradas de um cartão comemorativo da data. Pelo menos não até o desfecho, em que seus personagens surgem devidamente cobertos de chocolate e com a embalagem sofisticada não mais que apropriada para satisfazer sua natureza burocrática inequívoca.

Idas e Vindas do Amor se divide em momentos que oscilam em qualidade e atributos, quase que como uma coletiva de curtas-metragens. Com a exceção de que, ao invés de surgirem um atrás do outro (como em Paris, Eu Te Amo e similares), aqui os contos se misturam por meio de uma edição dinâmica e ágil. A irregularidade, portanto, é incontestável – e inevitável. Afinal, são 21 personagens principais que formam casais direto ou indiretamente. E, mesmo que praticamente todos se cruzem em algum ponto da metragem, a relação uns com os outros surge na maior parte fria e em vezes até forçada (só para suprir a necessidade de ter que haver uma conexão). No decorrer de suas duas horas de duração, porém, o longa-metragem apresenta bem seu vasto número de personagens e aos poucos vamos nos instigando nas histórias de cada um. Enquanto alguns revelam surpresas interessantes, outros ficam relegados aos clichês habituais do gênero. Ao passo que alguns personagens surgem muito interessantes, outros surgem aborrecidamente enfadonhos.

Neste misto de sensações, a obra se desequilibra. A regularidade era chave para fazer Simplesmente Amor dar tão certo e ainda que particularmente falho, Ele Não Está Tão Afim de Você ao menos apresentava uma personagem única como liga e núcleo para o tema. Aqui não há muita liga ou regularidade. São como esquetes. E mesmo que quase todas provoquem algum divertimento (por mais banal), as histórias são tão curtas e repetinas em seu desenvolvimento que o gosto ao fim é artficial ao invés de doce. Trata-se do típo de película, portanto, que – cumprindo sua natureza burocrática – serve como uma pastilha de chiclete. Você curte enquanto o gosto dura, depois joga fora e esquece completamente.

O elenco é tão instável quanto o próprio roteiro. Se Anne Hathaway, Julia Roberts, Kathy Bates, Topher Grace, Queen Latifah, Shirley MacLaine, Jessica Biel e Bradley Cooper surgem em desempenhos agradáveis, o mesmo não pode ser dito pelos fracos Patrick Dempsey, Jamie Foxx, Jennifer Garner, Ashton Kutcher e Emma Roberts. Isso sem contar os péssimos Jessica Alba, Taylor Lautner e Taylor Swift. São, de fato, muitos atores. Muitos nomes e muitos personagens. Ao fim da metragem, você não sente que realmente conheceu nenhum deles. Como se cada um apenas fizesse parte de um comercial conferido casualmente. E é casualmente e sem muito compromisso que se deve abordar o filme. Só assim que podemos ao menos tentar curtir a experiência enquanto dura – e vale dizer que as duas horas passam voando.

Entre diálogos bobinhos e histórias água com açucar, há algum espaço para se reconhecer pontos de verdadeiro interesse. Seja o casal divertido formado por Grace e Hathaway ou no casal veterano de MacLaine e Hector Elizondo (que só decepciona mesmo no desfecho superficial). Os verdadeiros atributos, porém, ficam mesmo por conta dos personagens de Bradley Cooper e Julia Roberts – que se conhecem no avião – e nos personagens nos quais se entrelaçam após pousarem (em verdadeiras surpresas). Estes pontos de agrado existem, mas não evitam que Idas e Vindas do Amor seja o que é: uma vinheta burocrática que nos vende o amor sem qualquer pudor. Sua natureza falha e seu conjunto equívocado relevam, infelizmente, qualquer virtude que poderia conter. (Wally Soares)