Crítica sobre o filme "Percy Jackson e o Ladrão de Raios":

Wally Soares
Percy Jackson e o Ladrão de Raios Por Wally Soares
| Data: 10/06/2010
Apesar de firmar sua história fortemente na mitologia grega, é na série de livros escrita por Rick Riordan na qual Percy Jackson e o Ladrão de Raios se baseia. Portanto, não seria leviano encarar a obra como uma espécie de Fúria de Titãs Jr., voltado de forma um tanto exclusiva para o público infantil/familiar. Ao colocar adolescentes frente a deuses e monstros, o longa-metragem enfrenta, por sua vez, um tom que oscila a grandeza por vezes impressionante de efeitos especiais com um clima simplório de sessão da tarde. Dirigido por Chris Columbus, cujo ápice se deu nos dois primeiros filmes da série Harry Potter (e, por mais convencional e infantil que fossem suas adaptações, elas eram fiéis ao espírito de aventura do livro), Percy Jackson e o Ladrão de Raios mescla então uma parte técnica decente com uma história frívola, onde mitologia e aventura se perdem nos conflitos banais de um roteiro demasiadamente bobo.

Interpretado pelo carismático Logan Lerman, o herói da história – e quem dá nome à série – Percy Jackson é um adolescente do colegial abandonado pelo pai que começa a descobrir um mundo inteiramente novo quando começa a ser visitado por criaturas bizarras à procura do raio de Zeus. Acontece que Percy é o filho do deus do mar – Poseidon – e está sendo acusado de roubar o raio que dá o poder para Zeus. Como um filho mestiço do cruzamento entre um deus e uma humana, Percy é consolidado como um semi-deus – como muitos antes dele – e é logo enviado para um acampamento, onde é instruído na arte da luta. Ainda que suas intenções estejam reservadas á procura do Zeus para tentar se inocentar, sua expedição acaba o levando para inferno quando sua mãe é sequestrada por Hades.

Com praticamente US$100 milhões investidos, Percy Jackson e o Ladrão de Raios pode não ser uma produção do patamar das aventuras prévias de Columbus no mundo dos magos, mas reserva para si um ar de grandeza sintetizado por momento onde efeitos abundantes tomam por assalto sequências e realmente instigam a efervescência da audiência – mas é tudo tão artificial e nosso envolvimento com os personagens beira tanto o banal que, no fim das contas, nem as cenas recheadas de ação e efeitos cheios de pompa almejam transformar a obra em algo mais que uma limitadíssima sessão para crianças (com um futuro promissor na sessão da tarde). A mitologia grega é um verdadeiro tesão, mas aqui é usada como mero artifício para as aventuras juvenis pontuadas por diálogos ruins de ranger os dentes e um foco familiar que rouba da película diversas oportunidades. Em um encontro com os deuses no Olympo de muito potencial, por exemplo, os personagens decidem bater um papo enfadonho sobre abandono familiar. Em filmes como este, é preciso abraçar completamente o descompromisso – qualquer tentativa de dramatizar demais soa pedante, já que o roteirista simplesmente não possui talento (é só ver sua filmografia).

Os momentos dramáticos enfadonhos poderiam ter passado batido, porém, caso o filme ao menos conseguisse manter a diversão em cheque. O grande problema é que, fora uma ou outra sequência de ação (e os deuses e monstros são mesmos os únicos atrativos do longa-metragem), não há nenhum elemento que compreende diversão. O próprio humor, alias, infere à película um clima terrivelmente ingênuo. Os diálogos tolos unem-se a personagens intragáveis, com destaque para o irritante amigo e protetor de Percy, o fauno Grover (Brandon T. Jackson). Representando o típico alívio cômico da história, suas piadas são insolentes e seu excesso, incômodo. Nunca soa necessário e sempre almeja constranger a audiência com seu humor deslocado.

A exceção sendo Logan Lerman, que cumpre seu papel e reserva para Percy bons momentos – e é triste constatar que a melhor cena do filme é uma com ele debaixo d’água nos créditos iniciais – nenhum integrante do elenco convence. Seja o já mencionado Brandon T. Jackson ou veteranos como Pierce Brosnan e Sean Bean, todos soam superficiais em seus respectivos papéis, como se declamassem falas – o que por sua vez tira a audiência completamente da história. E se Uma Thurman prova mais uma vez que precisa de Tarantino para sobreviver, a fantástica Catherine Keener encara um papel tão seco que imaginamos que ela só pode ter aceitado participar desta festa por causa do cachê. E ainda temos um fraquíssimo Steve Coogan interpretando Hades não como o deus do inferno, mas como uma criatura cômica broxante.

É injusto atacar Percy Jackson e o Ladrão de Raios solenemente pelo simples motivo de que certamente traz consigo aventura e humor suficiente para envolver seu público alvo e criar uma base de fãs que poderá apreciar os próximos capítulos da série – os quais, por sinal, ainda não foram confirmados. Mas como Cinema, não há como negar que falta ao filme emoção e, especialmente, textura. Alias, em retrospecto, falta quase tudo. Conteúdo transparente, personagens rasos e trama desinteressante. Fora o alvo, Percy Jackson não vai encantar ninguém, permanecendo enterrado na infame glória de sessão da tarde dispensável. (Wally Soares)