Crítica sobre o filme "Lobisomem, O":

Rubens Ewald Filho
Lobisomem, O Por Rubens Ewald Filho
| Data: 18/06/2010
Joe Johnston, diretor norte-americano, não teve pique para manter acesa a atenção do espectador em O lobisomem (The wolfman; 2010). Nos primeiros dez ou quinze minutos da narrativa Johnston põe em cena um curioso cenário gótico filmado em adequadas obscuridades que endereça sua história a um universo estético que chega a chamar a atenção do observador. Mas logo este visual rebuscado mas ingênuo vai tornar-se estático ou repetitivo e não é suficiente para segurar a barra narrativa diante do amontoado de trivialidades e bobagens que se espalham interminavelmente ao longo do filme.

Apesar de contar com bons e característicos atores (Benicio Del Toro e Anthony Hopkins), O lobisomem desanda na obviedade de seus precários efeitos de maquiagem e metamorfoses visuais; a tentativa de resgatar enredos clássicos de monstros se perde nas brumas do próprio visual gótico que no princípio interessa. Hesitando entre a opção pelo sensorial (acentuada no começo do filme) e algumas sacadas finais pretensiosamente filosóficas (coisas meio darwinianas, como a relação entre homem e animal), O lobisomem perde integralmente sua credibilidade da metade para o fim do filme. Entre as curiosidades, a aparição da atriz americana Geraldine Chaplin (cuja fase áurea foi nos tempos em que foi casada e trabalhou com o cineasta espanhol Carlos Saura) como uma fantasmagórica vidente é outro elemento gótico não aproveitado em toda a sua extensão pelo realizador. (Eron Fagundes)

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Este ainda não é o definitivo filme de Lobisomem. Assumido como refilmagem do clássico B dos anos 40 (a ponto de creditar o roteiro original de Curt Siodmak), ele resulta genérico, sem brilho ou maior criatividade. Não é especial nem mesmo na maquiagem e efeitos de Rick Baker (que fez melhor em Lobisomem Americano em Londres (1981) e lhe rendeu um Oscar de maquiagem) e nem na escolha do elenco.

Em boa parte do filme, Benicio del Toro está fora de cena, substituído por dublês ou efeitos. Na outra parte, aparece com dez anos a mais do que o personagem deveria ter, 20 quilos extras (para não falar das tequilas, porque ele está inchado e com aquela habitual cara de ressaca, de quem tem úlcera no estomago e não acha graça na vida). Sua interpretação chega a ser ridícula em alguns momentos. Não fica muito atrás Anthony Hopkins, num de seus momentos mais fracos. E a coitada da Emily Blunt, perdida no infeliz personagem de heroína romântica (para o qual ela não nasceu). Todos parecem aborrecidos certamente porque o filme passou por muitas mudanças (são vários os boatos sobre cenas refilmadas e interferência do estúdio, o que pode explicar as mudanças na data de estréia).

O resultado é francamente medíocre, com determinadas pretensões de roteiro (obviamente freudiano) e que insiste numa moral de história que finge ser profunda (ou seja, que dentro de todo homem, está adormecida uma besta assassina). Não dá nem mesmo para cobrar um conto gótico (a moda de Jane Eyre, com incêndio do castelo e tudo) nesta história muito mal contada, que repete os clichês com o acréscimo de um vilão novo (não vou dizer qual, embora pareça evidente). O clímax é uma luta (outra bobagem) entre ele e um policial (Hugo Weaving, de Matrix) que teria investigado Jack, o Estripador e agora suspeita que o herói seja o assassino.

Enfim, embora a direção de arte tenha certos cuidados, o filme tem uma montagem apressada, uma trilha musical igual a todas de Danny Elfman e uma tentativa de apresentar cenas de violência explícita (estilo cabeças voando) para justificar a censura. Ou seja: a incapacidade do diretor Joe Johnston (Jumanji, Jurassic Park III) fica comprovada. Dá para ver e se esquecer rápido. Nada mais. (Rubens Ewald Filho na coluna Clássicos. Leia a coluna de REF no portal R7).