Crítica sobre o filme "Coração Prisioneiro":

Eron Duarte Fagundes
Coração Prisioneiro Por Eron Duarte Fagundes
| Data: 25/06/2010
O alemão Max Ophüls é um cineasta arrebatado pela paixão. A paixão de suas personagens que se incrusta em sua linguagem cinematográfica. Em vCoração prisioneiro (Caught; 1949), uma obra-prima de sua fase americana (há uma alteração de seu sobrenome nos créditos: Opuls), mais uma vez ele aprofunda o estudo da paixão no coração duma mulher. Seu novo estudo feminino revela novamente a fêmea humana como objeto de joquete nas mãos de alguns lúbricos, algo que ele exacerbaria em Lola Montès (1955); a diferença está no otimismo final de Coração prisioneiro, com a salvação pelo amor da personagem.

Em Coração prisioneiro o coração de Leonora (em interpretação antológica de Barbara Bel Geddes) balança entre seu sonho de casar com um homem rico, o perverso Smith Ohbrig (composição de Robert Ryan), e entregar-se à relação educada e delicada com Larry (um exuberante James Mason). As idas e vindas amorosas são acompanhadas com sutileza e engenho pela câmara de Ophüls, capaz de deslizar pelos cenários com uma transcendência e uma nobreza espetaculares.

Como um concerto romântico, a narrativa, extraída do romance Wild calendar, de Libbie Block, evolui em pautas musicais precisamente marcadas. As criaturas de Ophüls põem-se a serviço de sua estrutura cinematográfica e nunca dali se desgarram; o resultado é um fumo estético que põe em êxtase constante o espectador. A simbologia final (o médico diz à enfermeira que o casaco luxuoso de nada servirá à jovem em sua nova vida) caracteriza a metamorfose da personagem: sai de sua ilusão americana de luxo e riqueza e mergulha em seu espírito verdadeiro ao lado do homem que de fato ama. (Eron Fagundes)