Por Jorge Saldanha
| Data: 03/07/2010
Steven Spielberg e Tom Cruise gostaram tanto de trabalhar juntos em MINORITY REPORT - A NOVA LEI (2003), que se comprometeram a repetir a experiência assim que possÃvel. A oportunidade perfeita pareceu surgir quando a Paramount decidiu filmar uma nova versão da clássica novela de ficção cientÃfica de H. G. Wells, Guerra dos Mundos. Afinal Spielberg, o maior diretor do cinema comercial americano atual, consolidara sua fama exatamente com dois filmes sobre alienÃgenas – CONTATOS IMEDIATOS IMEDIATOS DO TERCEIRO GRAU (1977) e E. T. - O EXTRATERRESTRE (1982), e Cruise era o astro perfeito para atrair o público. Spielberg colocou a Dreamworks como parceira do projeto, que necessitou ser concluÃdo num prazo curto (para um filme destas proporções) a fim de que ele pudesse ser encaixado nas agendas do diretor e do astro.
O resultado é este GUERRA DOS MUNDOS, que presta suas homenagens à primeira versão cinematográfica, de 1953, produzida por George Pal e dirigida por Byron Haskin (inclusive, no final há pontas do seu casal de protagonistas, o falecido Gene Barry e Ann Robinson), mas aborda a invasão alienÃgena de um modo mais próximo ao do livro de Wells. A trama é toda contada através do ponto de vista de um sujeito comum, no caso um trabalhador da classe média baixa americana, não dando espaço a cientistas, militares ou polÃticos. Deste modo, Spielberg evitou as cenas de destruição de monumentos e grandes cidades ao redor do mundo, mostradas em outros filmes já feitos sobre o tema, em especial INDEPENDENCE DAY (1996), que foi uma adaptação não assumida de Guerra dos Mundos. Esta visão mais intimista de um ataque alienÃgena torna o filme por vezes semelhante ao subestimado SINAIS (2002), de M. Night Shyamalan.
Obviamente muitos conceitos do livro e do filme original foram revisados - por exemplo, os aliens (aliás, agora muito parecidos com os de INDEPENDENCE DAY) não são mais identificados como marcianos - e Spielberg incluiu na realização muitos dos temas que lhe são caros, como o núcleo familiar e a busca pela figura paterna. Mas a essência do livro de Wells está lá, inclusive o final, algo que chegou a ser muito criticado. De fato, hoje nos parece muito ingênuo que inteligências avançadas do espaço planejem uma invasão por séculos e, chegando aqui, ajam de forma tão descuidada. É certo que, ao atualizar alguns conceitos e deixar intocados outros, o roteiro de David Koepp criou lacunas que prejudicam um pouco a trama. Provavelmente, se houvesse mais tempo disponÃvel para a produção, isso poderia ser melhorado. De qualquer forma, com a ajuda de colaboradores habituais como o diretor de fotografia Janusz Kaminski, o compositor John Williams e a empresa de efeitos visuais ILM, Spielberg criou uma série de sequencias memoráveis. Os Tripods, se comparados à s Máquinas de Guerra Marcianas da versão de 1953, ganharam “personalidade†graças à concepção visual mais fiel à quela imaginada por Wells, e a efeitos sonoros fantásticos. O som que eles emitem, parecido com o de uma vuvuzela gigantesca, é genuinamente assustador (por outro lado, é uma pena que não foram utilizados, para seus raios de calor, os mesmos sons do antigo filme, simplesmente antológicos). Apesar de vermos apenas de relance os combates do exército com os invasores, o filme apresenta algumas cenas de destruição fortes, onde Spielberg demonstra, mais uma vez, a excelência formal que lhe é tÃpica.
O elenco é firmemente conduzido pelo diretor, e ao contrário do que muitos poderiam temer, o astro Cruise esteve genuinamente empenhado em convincentemente passar-se por um trabalhador e pai de famÃlia fracassado. E Dakota Fanning se reafirmou como a melhor atriz infanto-juvenil em atividade à época. Enfim, GUERRA DOS MUNDOS ocupa um lugar interessante na filmografia de Spielberg, formando com os já citados CONTATOS IMEDIATOS DO TERCEIRO GRAU e E. T. uma memorável "trilogia alienÃgena". Ironicamente os esforços do diretor nos dois primeiros filmes, para mudar a imagem dos aliens (tradicionalmente mostrados como criaturas ameaçadoras), cai por terra com esta nova versão do filme que exatamente deu origem à sua “má famaâ€. Se no filme de 1953 os invasores personificavam a ameaça dos comunistas "comedores de criancinhas", em pleno século 21 eles explicitamente evocam os terroristas e a tragédia do 11 de setembro. Ou seja, continuam sendo o mal encarnado.