Não é surpresa que Atraídos pelo Crime conte com Antoine Fuqua na direção. Desde Assassinos Substitutos, de 1998 (seu filme de estréia, alias), Fuqua tem investido quase que exclusivamente no gênero policial dificilmente divergindo nas escolhas. Em meio a fitas regulares e bons filmes de ação, o ápice veio em 2001 com o ótimo Dia de Treinamento (elevado pela atuação oscarizada de Denzel Washington, claro). Com Atraídos pelo Crime, Fuqua realizou seu filme mais ambicioso. Infelizmente, porém, são poucos os elementos que correspondem e dão certo no resultado final do que é um filme definitivamente irregular recheado de altos e baixos, virtudes e problemas, interesses e futilidades. Na inquietude dos fatores, falta à audiência paciência para conciliar o que lhe é apresentada.
Originalmente intitulado Brooklyns Finest (uma menção à denominação popular da polícia de Brooklyn algo como os melhores de Brooklyn) em clara e óbvia ironia, o filme retrata três policiais distintos, formando três narrativas paralelas que por fim se convergem. Eddie (Richard Gere) é um veterano enferrujado perto de se aposentar que vive na solidão, Tango (Don Cheadle) é um policial à paisana vivendo como traficante de drogas no violento submundo de Nova York e Sal (Ethan Hawke) é um pai de família preocupado com as finanças da família e a saúde de sua mulher grávida.
Roteirizado pelo inexperiente Michael C. Martin, Atraídos pelo Crime abre sua épica história de forma extremamente pretensiosa e os primeiros 30 minutos de filmes são quase insuportáveis neste sentido. Diálogos tragicamente ostentativos, personagens expostos de formas terríveis e uma premissa verdadeiramente fraca. Para um filme sobre narrativas paralelas, não há muito cuidado estético ou inspiração na edição. Dito isso, aos poucos o longa-metragem começa a envolver. Até que, subitamente, nos vemos intrigados pelo enredo e pelos contornos provocativos que seus personagens vieram a possuir. Ainda assim, o roteiro pedestre segue cheio de frivolidades, falhas e incômodos, inibindo qualquer força emocional que poderia existir.
Fuqua, ao contrário do roteirista, não é inexperiente principalmente dentro do gênero. Portanto, exibe segurança e diversamente entrega um clima pesado e bem realista à película. Isso não ocorre sempre, porém, e falta ao filme fluidez para engatar e provar a que veio. É, em outras palavras, um filme de meios termos fica sempre na boa vontade e na dependência de que a audiência perdoará suas falhas. O elenco compensa bastante. Gere pode estar tão enferrujado quanto seu personagem, mas tem seus momentos (em especial, um ao lado de uma prostituta), ao passo que o ótimo Don Cheadle entrega credibilidade ao personagem inconstante. Quem rouba a cena, porém, é Ethan Hawke, mostrando desenvoltura e intensidade no retrato do policial que coloca seu papel como pai e marido acima da lei.
Atraídos pelo Crime quer nos vender esta idéia de que seja um épico filme policial, retratando personagens em tramas entrecortadas e tocando em feridas importantes. Quer tanto vender esta idéia que muitas vezes tenta nos enfiar goela abaixo. Como já foi dito, possui uma abundância de diálogos pretensiosos e sequências forçadas. Nos envolve adequadamente ao longo de suas mais de duas horas de duração, mas nunca realmente convence ou conquista. Isto, porém, até o clímax. O xeque-mate final do filme é um embate sanguinário e violento, cheio de mortes e movimentos de câmera frenéticos incluindo até um excelente plano-sequência. Tudo ia espetacularmente bem até os últimos segundos da metragem, que ofendem pela estupidez dos realizadores. No que poderia ter sido uma ousada escolha entre vida ou morte, o roteiro não só faz a escolha errada, como ainda é complementado por uma tomada final vergonhosamente ruim por parte de Fuqua que termina o filme no mesmo vácuo com o qual o começou.
Entre o início entediante e o final estúpido, há muita coisa boa escondida por trás de personagens promissores, tramas provocativas e idéias fortes mas tudo aqui foi realizado preguiçosamente, para que o rendimento fosse o mínimo e o mais decepcionante possível. O que permanece com a audiência ao final é aquela imagem final tosca, e toda aquela irregularidade incômoda de um filme que poderia muito mais.