Crítica sobre o filme "Atraídos Pelo Crime":

Wally Soares
Atraídos Pelo Crime Por Wally Soares
| Data: 10/08/2010

Não é surpresa que Atraídos pelo Crime conte com Antoine Fuqua na direção. Desde Assassinos Substitutos, de 1998 (seu filme de estréia, alias), Fuqua tem investido quase que exclusivamente no gênero policial – dificilmente divergindo nas escolhas. Em meio a fitas regulares e bons filmes de ação, o ápice veio em 2001 com o ótimo Dia de Treinamento (elevado pela atuação oscarizada de Denzel Washington, claro). Com Atraídos pelo Crime, Fuqua realizou seu filme mais ambicioso. Infelizmente, porém, são poucos os elementos que correspondem e dão certo no resultado final do que é um filme definitivamente irregular – recheado de altos e baixos, virtudes e problemas, interesses e futilidades. Na inquietude dos fatores, falta à audiência paciência para conciliar o que lhe é apresentada.

Originalmente intitulado Brooklyn’s Finest (uma menção à denominação popular da polícia de Brooklyn – algo como “os melhores de Brooklyn”) em clara – e óbvia – ironia, o filme retrata três policiais distintos, formando três narrativas paralelas que por fim se convergem. Eddie (Richard Gere) é um veterano enferrujado perto de se aposentar que vive na solidão, Tango (Don Cheadle) é um policial à paisana vivendo como traficante de drogas no violento submundo de Nova York e Sal (Ethan Hawke) é um pai de família preocupado com as finanças da família e a saúde de sua mulher grávida.

Roteirizado pelo inexperiente Michael C. Martin, Atraídos pelo Crime abre sua “épica” história de forma extremamente pretensiosa – e os primeiros 30 minutos de filmes são quase insuportáveis neste sentido. Diálogos tragicamente ostentativos, personagens expostos de formas terríveis e uma premissa verdadeiramente fraca. Para um filme sobre narrativas paralelas, não há muito cuidado estético ou inspiração na edição. Dito isso, aos poucos o longa-metragem começa a envolver. Até que, subitamente, nos vemos intrigados pelo enredo e pelos contornos provocativos que seus personagens vieram a possuir. Ainda assim, o roteiro pedestre segue cheio de frivolidades, falhas e incômodos, inibindo qualquer força emocional que poderia existir.

Fuqua, ao contrário do roteirista, não é inexperiente – principalmente dentro do gênero. Portanto, exibe segurança e diversamente entrega um clima pesado e bem realista à película. Isso não ocorre sempre, porém, e falta ao filme fluidez para engatar e provar a que veio. É, em outras palavras, um filme de “meios termos” – fica sempre na boa vontade e na dependência de que a audiência perdoará suas falhas. O elenco compensa bastante. Gere pode estar tão enferrujado quanto seu personagem, mas tem seus momentos (em especial, um ao lado de uma prostituta), ao passo que o ótimo Don Cheadle entrega credibilidade ao personagem inconstante. Quem rouba a cena, porém, é Ethan Hawke, mostrando desenvoltura e intensidade no retrato do policial que coloca seu papel como pai e marido acima da lei.

Atraídos pelo Crime quer nos vender esta idéia de que seja um “épico filme policial”, retratando personagens em tramas entrecortadas e tocando em feridas importantes. Quer tanto vender esta idéia que muitas vezes tenta nos enfiar goela abaixo. Como já foi dito, possui uma abundância de diálogos pretensiosos e sequências forçadas. Nos envolve adequadamente ao longo de suas mais de duas horas de duração, mas nunca realmente convence ou conquista. Isto, porém, até o clímax. O xeque-mate final do filme é um embate sanguinário e violento, cheio de mortes e movimentos de câmera frenéticos – incluindo até um excelente plano-sequência. Tudo ia espetacularmente bem até os últimos segundos da metragem, que ofendem pela estupidez dos realizadores. No que poderia ter sido uma ousada escolha entre vida ou morte, o roteiro não só faz a escolha errada, como ainda é “complementado” por uma tomada final vergonhosamente ruim por parte de Fuqua – que termina o filme no mesmo vácuo com o qual o começou.

Entre o início entediante e o final estúpido, há muita coisa boa escondida por trás de personagens promissores, tramas provocativas e idéias fortes – mas tudo aqui foi realizado preguiçosamente, para que o rendimento fosse o mínimo e o mais decepcionante possível. O que permanece com a audiência ao final é aquela imagem final tosca, e toda aquela irregularidade incômoda de um filme que poderia muito mais.