Por Eron Duarte Fagundes
| Data: 13/08/2010
Diz-se que em Porto (Hamnstad; 1948) o realizador sueco Ingmar Bergman flertou com o neorrealismo italiano. Mas não é um flerte-cópia: a forte marca das inquietações Ãntimas do cineasta e sua própria expressividade plástica sobrepairam sobre a influência neorrealista, que era uma influência, determinada pela grandeza do cinema do italiano Roberto Rossellini, quase geral no cinema que se fazia nos anos 40 na Europa, como se depreende de Aniki-Bobó (1942), do português Manoel de Oliveira.
No inÃcio de Porto uma garota tenta o suicÃdio jogando-se no mar. Um marinheiro a salva. Começa um relacionamento entre eles. A perturbada personalidade da jovem se vai esclarecendo ao calor da narrativa: as complicadas relações de infância com seus pais, os anos de reformatório, os casos amorosos frustrados, revelados em flashbacks tensos ao atual namorado. Numa determinada cena a mulher escreve o espelho com batom uma palavra: “solitáriaâ€. O estado depressivo dos dramas bergmanianos está presente, embora uma ingenuidade melodramática o permeie. O final, todavia, é otimista, pois, apesar dos imensos obstáculos, os amantes estão juntos para enfrentá-los; mas não tem a densidade plástica do passeio ao sol no final de Gritos e sussurros (1972). É somente o namoro do grande cineasta com o melodrama social. (Eron Fagundes)