Crítica sobre o filme "Dupla Implacável":

Wally Soares
Dupla Implacável Por Wally Soares
| Data: 19/08/2010

Pierre Morel fez fama a partir de sua estreia cinematográfica – o competente filme de ação francês B13: 13° Distrito – revelando ao mundo o talento do cineasta em conduzir ação. Alguns anos depois, fez seu primeiro filme americano, o também eficiente longa-metragem de ação Busca Implacável. Ambos filmes tinham em comum a ação elevada à máxima potência, mas também o roteiro fraco. Seu novo filme, Dupla Implacável, surge como o mais ambicioso – orçamento maior e atores mais renomados – e traz consigo dois pontos em comum com seus outros filmes: se passa na França e conta com um roteiro fraco – que, desta vez, ultrapassa o nível de tolerância, abandonando o terreno inofensivo. O problema maior da película, porém, é que nem mesmo Morel parece estar seguro na condução, dirigindo preguiçosamente sequências de ação sem qualquer estilo ou textura. Assim, fica difícil.

Na história, James Reece (Jonathan Rhys-Meyers) é um agente especial à paisana infiltrado no escritório de um embaixador americano. É considerado o melhor no que faz e está preparado para ser promovido, ao passo que acaba de ficar noivo da linda Caroline (Kasia Smutniak). Sua rotina muda drasticamente quando é enviado para “escoltar” Charlie Wax (John Travolta), um agente nada ortodoxo enviado para o país cumprindo ordens ainda menos politicamente corretas. Preso entre o conforto do escritório e a adrenalina perigosa recém-descoberta da ação em campo, James precisará encarar problemas pessoais para cumprir sua missão até o fim.

O primeiro agravante de Dupla Implacável se diz respeito ao envolvimento de Luc Besson, francês poderoso na indústria cujos projetos há muito tempo deixaram de ser inspirados. Aqui, ele idealiza a história roteirizada por Adi Hasak – que não assina um roteiro há 13 anos já. Eis aqui um filme que começa bastante curioso, com um decente personagem colocado nas mãos do sempre competente Jonathan Rhys-Meyers. Com a entrada de John Travolta, extremamente caricato com sua mistura do Vincent Vega de Pulp Fiction com o Ryder de vO Sequestro do Metrô 123 – a espirituosidade do primeiro com o visual do segundo – o longa-metragem começa a se tornar uma fita de ação fria e calculada. Diálogos vergonhosos e personagens secos predominando a metragem já eram naturalmente esperados, mas aqui até a própria ação soa mal utilizada, em sequências terrivelmente mal editadas e sem qualquer noção de estilo (Morel até tenta desajeitadamente empregar câmera lenta em certo momento, mas não vinga).

Como o próprio titulo nacional manjado, Dupla Implacável funciona como uma mixagem enfadonha de outros filmes muito superiores. Se o título original, From Paris With Love, já faz referência ao James Bond de From Russia With Love, a direção nos remete a estilos diversos de obras de espionagem e de pura ação, entrecortando tudo em filmagem sem vida própria. Diálogos ocasionais ainda nos lembram de Karate Kid e do próprio Pulp Fiction (em brincadeira com o hambúrguer “royale with cheese” bem desnecessária). Alias, o humor do filme surge totalmente deslocado, quebrando a tensão de momentos importantes e rivalizando com a própria tolerância da audiência. O personagem de Travolta sintetiza o espírito excessivo e irregular da própria obra – não se levando muito a sério, mas mesmo assim não oferecendo qualquer material digno de nota, realmente decepcionando.

É lamentável, por sua vez, a forma como Pierre Morel retrata a França, em uso de locações desinteressante – nem parece que o filme se passa na cidade das luzes, tão bonita e empolgante. É quase certo que Morel se vendeu aqui para um “bem maior”, algo evidente na rigidez das sequências de ação, que contrapõem-se com suas realizações anteriores. Ainda assim, há uma palpitação energética no clima da película e Jonathan Rhys-Meyers segura boa parte da história com seu personagem instigante em boa atuação. Virtudes que são devoradas por todo o resto, especialmente quando o filme chega a seu ato final medíocre.

Acontece que o roteiro reserva uma revira-volta “surpreendente” para o clímax que é tudo menos inesperada. Portanto, além de culminar em embate anti-climático em seu ato final, o roteirista ainda executa uma resolução muito pedante para os dilemas propostos até então, desvirtuando seus personagens e os transformando em completas caricaturas – transparentes e secos diante de qualquer um dos temas humanos que foram superficialmente abordados ao longo da metragem. Um total desapontamento, não há quase nada que se salva em Dupla Implacável – que deveria ter sido relegado ao lançamento direto para DVD. (Wally Soares)