Pierre Morel fez fama a partir de sua estreia cinematográfica o competente filme de ação francês B13: 13° Distrito revelando ao mundo o talento do cineasta em conduzir ação. Alguns anos depois, fez seu primeiro filme americano, o também eficiente longa-metragem de ação Busca Implacável. Ambos filmes tinham em comum a ação elevada à máxima potência, mas também o roteiro fraco. Seu novo filme, Dupla Implacável, surge como o mais ambicioso orçamento maior e atores mais renomados e traz consigo dois pontos em comum com seus outros filmes: se passa na França e conta com um roteiro fraco que, desta vez, ultrapassa o nível de tolerância, abandonando o terreno inofensivo. O problema maior da película, porém, é que nem mesmo Morel parece estar seguro na condução, dirigindo preguiçosamente sequências de ação sem qualquer estilo ou textura. Assim, fica difícil.
Na história, James Reece (Jonathan Rhys-Meyers) é um agente especial à paisana infiltrado no escritório de um embaixador americano. É considerado o melhor no que faz e está preparado para ser promovido, ao passo que acaba de ficar noivo da linda Caroline (Kasia Smutniak). Sua rotina muda drasticamente quando é enviado para escoltar Charlie Wax (John Travolta), um agente nada ortodoxo enviado para o país cumprindo ordens ainda menos politicamente corretas. Preso entre o conforto do escritório e a adrenalina perigosa recém-descoberta da ação em campo, James precisará encarar problemas pessoais para cumprir sua missão até o fim.
O primeiro agravante de Dupla Implacável se diz respeito ao envolvimento de Luc Besson, francês poderoso na indústria cujos projetos há muito tempo deixaram de ser inspirados. Aqui, ele idealiza a história roteirizada por Adi Hasak que não assina um roteiro há 13 anos já. Eis aqui um filme que começa bastante curioso, com um decente personagem colocado nas mãos do sempre competente Jonathan Rhys-Meyers. Com a entrada de John Travolta, extremamente caricato com sua mistura do Vincent Vega de Pulp Fiction com o Ryder de vO Sequestro do Metrô 123 a espirituosidade do primeiro com o visual do segundo o longa-metragem começa a se tornar uma fita de ação fria e calculada. Diálogos vergonhosos e personagens secos predominando a metragem já eram naturalmente esperados, mas aqui até a própria ação soa mal utilizada, em sequências terrivelmente mal editadas e sem qualquer noção de estilo (Morel até tenta desajeitadamente empregar câmera lenta em certo momento, mas não vinga).
Como o próprio titulo nacional manjado, Dupla Implacável funciona como uma mixagem enfadonha de outros filmes muito superiores. Se o título original, From Paris With Love, já faz referência ao James Bond de From Russia With Love, a direção nos remete a estilos diversos de obras de espionagem e de pura ação, entrecortando tudo em filmagem sem vida própria. Diálogos ocasionais ainda nos lembram de Karate Kid e do próprio Pulp Fiction (em brincadeira com o hambúrguer royale with cheese bem desnecessária). Alias, o humor do filme surge totalmente deslocado, quebrando a tensão de momentos importantes e rivalizando com a própria tolerância da audiência. O personagem de Travolta sintetiza o espírito excessivo e irregular da própria obra não se levando muito a sério, mas mesmo assim não oferecendo qualquer material digno de nota, realmente decepcionando.
É lamentável, por sua vez, a forma como Pierre Morel retrata a França, em uso de locações desinteressante nem parece que o filme se passa na cidade das luzes, tão bonita e empolgante. É quase certo que Morel se vendeu aqui para um bem maior, algo evidente na rigidez das sequências de ação, que contrapõem-se com suas realizações anteriores. Ainda assim, há uma palpitação energética no clima da película e Jonathan Rhys-Meyers segura boa parte da história com seu personagem instigante em boa atuação. Virtudes que são devoradas por todo o resto, especialmente quando o filme chega a seu ato final medíocre.
Acontece que o roteiro reserva uma revira-volta surpreendente para o clímax que é tudo menos inesperada. Portanto, além de culminar em embate anti-climático em seu ato final, o roteirista ainda executa uma resolução muito pedante para os dilemas propostos até então, desvirtuando seus personagens e os transformando em completas caricaturas transparentes e secos diante de qualquer um dos temas humanos que foram superficialmente abordados ao longo da metragem. Um total desapontamento, não há quase nada que se salva em Dupla Implacável que deveria ter sido relegado ao lançamento direto para DVD. (Wally Soares)