Por Wally Soares
| Data: 21/08/2010
Não há nada o que dizer sobre Caçador de Recompensas que já não tenha sido dito antes – da mesma forma que o filme não apresente nada que já não tenha sido exaustivamente repetido nos similares do gênero. Em outras palavras, o novo filme de Andy Tennant é apenas a repetição da repetição. A regurgitação de uma fórmula que há muito deixou de ser inflamável. Mesmo sem chama, a mistura de ação com comédia romântica exercida nesta pelÃcula ainda é chamariz de público – especialmente quando acompanhado por duas estrelas em alta. Não espere, porém, o fervor e a sagacidade de Sr. e Sra. Smith, que revitalizou a guerra dos sexos há cinco anos. Este Caçador de Recompensas é dolorosamente comum.
O foco do filme são os divorciados Milo Boyd (Gerard Butler) e Nicole Hurley (Jennifer Aniston), cujo fim de relacionamento conflituoso deixou ambos em polvorosa – e empolgados com seus respectivos trabalhos. Nicole é uma jornalista ambiciosa que não hesita na hora de se arriscar pela carreira e Milo é um caçador de recompensas. Quando um mandato de prisão é emitido diante do delito de trânsito de Nicole quando esta falta ao julgamento, é Milo quem é chamado para levá-la à prisão. Se deliciando ao ter que algemar a mulher pela qual guarda tanto rancor, o que Milo não esperava era que Nicole estivesse no olho do furacão de uma situação delicada envolvendo suicÃdio e corrupção.
Repetindo mais ou menos o que havia realizado em Um Amor de Tesouro – mas sem as locações maravilhosas – o diretor Andy Tennant liga no piloto automático e permanece no módulo até o fim. O roteiro, escrito por Sarah Thorp (A Marca) é especialmente sem graça. Uma comédia pode ser previsÃvel e batida que ainda assim pode funcionar (vide o recente A Proposta), mas se além da obviedade ainda falha na entrega da diversão – fator essencial de sua existência – então tudo está perdido. Para tornar a experiência de se assistir Caçador de Recompensas tão mais desconcertante, o diretor ainda comete o monumental erro de estender a duração da pelÃcula para quase duas horas de comprimento (ao que parece, mais um padrão do cineasta). Filmes de longa duração não são um problema – contanto que tenham conteúdo para discursar ao longo dos 120 minutos. Algo que, como seria de se esperar, não acontece aqui. E chegar ao fim deste longa-metragem é por si só um exercÃcio de paciência.
Frustrante é uma palavra que resume muito bem Caçador de Recompensas – em todos os aspectos. O mais surpreendente de todos, porém, envolve o casal de protagonistas. Esperava-se que Butler e Aniston soltassem faÃscas – como notadamente ocorreu durante as filmagens – mas o que vemos em celulóide é um casal enfadonho e irritante. A tensão sexual que deveria existir entre ambos é praticamente inexistente e ao longo da metragem cada um vai se revelando mais sem graça que o outro. Se a personagem de Aniston promete de inÃcio ser uma espécie de moça forte e independente, revela-se posteriormente como uma mulher chata e frÃvola – e sua insistência em correr de salto alto é simplesmente patética. Gerard Butler, por sua vez, encarna um perfeito babaca – e não, isso não foi elogio. Repetindo quase que exatamente o que tinha feito no ainda pior A Verdade Nua e Crua, o carismático ator encarna o brutamonte grosso e robusto que vai revelando sensibilidade ao passo que o roteiro vai ficando mais previsÃvel e a história, mais nauseante.
Sem qualquer timing cômico (ou mesmo decência nas piadas) e seguindo o manual de instruções no desenvolvimento do romance, o filme revela-se um verdadeiro fiasco enquanto comédia romântica. O que resta para a audiência a ação. Dizer que Caçador de Recompensas é desestimulante seria um eufemismo, mas o filme consegue ser monótono até na tÃpica sequência de corrida com tiroteio. Existem alguns agrados espalhados pelas quase duas horas de duração em forma de sorrisos amarelos, mas não estamos falando de um filme meramente inofensivo. Trata-se do pior tipo de comédia romântica que poderia existir: aquela que realmente acredita ser substancial.
Se Caçador de Recompensas evita o tÃtulo de tragédia instantânea, é por causa de duas participações impagáveis: Christine Baranski rouba a cena como a mãe de Nicole, em papel divertido, sagaz e ácido, enquanto Siobhan Fallon domina todas as cenas nas quais surge, revelando uma veia cômica promissora. São duas divas em um filme de vergonha absoluta para todos os envolvidos. A imagem que conclui a pelÃcula é uma delÃcia na forma como sintetiza a própria história, mas até ali nossos sensos básicos já haviam sido deturpados, e tudo que ansiávamos era que os créditos de abertura anunciassem logo o término da frustração. (Wally Soares)