Crítica sobre o filme "Fringe – 1ª Temporada":

Jorge Saldanha
Fringe – 1ª Temporada Por Jorge Saldanha
| Data: 01/09/2010
A série FRINGE estreou na Fox norte-americana em 2008 já com a morte anunciada de LOST, deixando o público ansioso por uma nova série de J.J. Abrams repleta de mistérios. Após a exibição do piloto de nível cinematográfico, com suas duas horas de suspense centradas em um incidente grotesco com a tripulação e os passageiros de um avião comercial, não restaram dúvidas – vinha muito mistério por aí, porém mais na linha de ARQUIVO X do que de LOST. Contando na produção com Abrams e seus colaboradores habituais Alex Kurtzman e Roberto Orci (roteiristas de STAR TREK), em sua primeira temporada FRINGE não se esforçou muito para esconder a inspiração na série de Chris Carter. Desde a abertura, com o nome de fenômenos paranormais acompanhados na tela por um inspirado tema musical do próprio Abrams, passando pelos episódios "monstro da semana", pela mitologia que inclui metamorfos, a tensão sexual existente entre o casal de protagonistas e até mesmo pelas cenas de ARQUIVO X que vemos, em determinado episódio, sendo exibidas em uma TV, o programa com frequência transita por aquela zona nebulosa que fica entre a homenagem e a imitação.

No que se refere à dinâmica e inter-relacionamento dos personagens, qualquer um que já tenha assistido a alguma série ou filme de Abrams sabe da importância que tem suas relações privadas e familiares nas tramas. Aqui, primeiramente, temos como mola propulsora a perda amorosa de Olivia, e logo em seguida a introdução do conturbado relacionamento pai-filho entre Walter e Peter. Posteriormente temos a introdução da irmã e sobrinha de Olívia, mas sem dúvida são os momentos que envolvem o patriarca da família Bishop que atraem nossa maior atenção. Walter, numa personificação magnífica de John Noble (da trilogia O SENHOR DOS ANÉIS), é um personagem adorável, que com seu jeitão de cientista louco, por vezes ingênuo como uma criança, tenta reconquistar o carinho do filho em meio às suas excentricidades. Mas, além disso, ele esconde um passado sombrio.

O arco de fundo de FRINGE é estabelecido já de início, e por várias vezes remete às pesquisas que Walter realizava antes de seu colapso mental. A equipe acaba descobrindo uma ligação entre vários fenômenos incomuns, o que leva à constatação de que alguém está por trás de uma série de experimentos científicos avançados, num procedimento batizado de "O Padrão". Ao longo da temporada Dunham e seus colegas trabalham diligentemente para descobrir o propósito de tais experimentos, e quem seria seu responsável. As pistas frequentemente os levam à poderosa multinacional Massive Dynamic, por coincidência presidida pelo ex-colaborador de Walter, William Bell (Leonard Nimoy, o eterno Sr. Spock de JORNADA NAS ESTRELAS). A certa altura da temporada somos apresentados ao conceito dos universos paralelos, e a partir daí FRINGE passa a ser também uma ficção científica hardcore. Adicionando mais mistério à trama somos apresentados aos Observadores, sujeitos carecas vestidos em ternos escuros estilo anos 1960, que surgem em diversos períodos do tempo para testemunhar acontecimentos relevantes – e não raro catastróficos. O excelente gancho de final da temporada mostra Olivia finalmente encontrando William Bell nas Torres Gêmeas de Nova York – não, você não leu errado...

Como seria de se esperar em um produto da grife J.J. Abrams/Bad Robot, FRINGE possui excelentes valores de produção, e algo raro para uma série de TV aberta – mostra em detalhes sangue e mutilações, como pessoas e cérebros se dissolvendo e corpos sendo partidos pela metade. Sem dúvida, essa representação do horror e da violência em um meio high tech é um dos fatores que ajuda a distanciar a série de outras imitações de ARQUIVO X. Mas para mim, continua sendo a busca pela paternidade perdida a mola propulsora da série, responsável que é por seus melhores momentos e que terá seu clímax na segunda – e superior – segunda temporada, já exibida também aqui pela Warner. Não há duvida de que FRINGE, cuja terceira temporada estreia nos EUA no final de setembro, é hoje uma das melhores opções da ficção científica televisiva, e que vem mostrando méritos próprios e suficientes para que deixe de ser taxada como uma mera cópia de ARQUIVO X. Além disso, a série traz a beleza serena da australiana Anna Torv, infelizmente considerada canastrona por parte da crítica. É, vivemos em um mundo injusto…