Clássico irrefutável do início dos anos 80 (a década mais saudosista do cinema), Fúria de Titãs de Desmond Davis marcou época com sua tecnologia em stop-motion avançada. Usufruindo dos talentos de Ray Harryhausen na concepção dos efeitos especiais, o longa-metragem é metade dele, tendo alcançado seu sucesso na época não exatamente pela narrativa incoerente ou pelos personagens um tanto bregas, mas pela experiência cinematográfica de puro escapismo proporcionada por uma criatividade estética primorosa.
O roteiro fraquinho de Beverly Cross retratou a mitologia grega em enredo levemente cafona centrado em Perseus (Harry Hamlin), semideus filho de Zeus que descobre ser o único capaz de sanar uma maldição terrível. Em termos de personagens, diálogos e narrativa em si, Fúria de Titãs é muito ruim. Não só excessivamente brega e piegas, mas forçado. Seus personagens faltam textura e motivações envolventes. Em síntese, não nos importamos por seus destinos. O elenco caricato também não colabora, incluindo a frígida performance de Hamlin.
O que torna a obra especial para os saudosistas dos anos 80 e para os fãs do gênero no geral, é mesmo o teor fantástico e instigante proposto pela história enraizada na mitologia grega de deuses e monstros. A contribuição de Harryhausen foi imprescindível para a sobrevivência da obra, que chega ao século XXI completamente datada, mas ainda assim sóbria na mente de tantos cinéfilos e amantes do Cinema em especial, os que viveram os anos 80 ao lado de Steven Spielberg e George Lucas. Seja pela nostalgia ou pelo puro prazer do escapismo, Fúria de Titãs ainda vai persistir por um bom tempo. O público novo, porém, terá certa dificuldade ao encarar este longa-metragem de tantas peculiaridades.