Por Rubens Ewald Filho
| Data: 07/09/2010
Martin Scorsese tem um passado ilustre como diretor de shows musicais: foi montador de “Woodstock” (1970), dirigiu o famoso “O Ăšltimo Concerto de Rock” (´The last Waltz´ - 1978), realizou o clip “Bad” (1987) com Michael Jackson, No “Direction Home: Bob Dylan”, um episĂłdio de “The Blues” (2003), o que o qualifica para ser chamado a registrar este show dos ´Rolling Stones´, que foi o primeiro documentário a abrir uma edição do ´Festival de Berlim´ - este ano. Gravado com 16 câmeras, em duas noites consecutivas, no relativamente pequeno e Ăntimo teatro Beacon Theatre de Nova York, em beneficio de uma causa do ex-presidente Clinton (que aparece cumprimentando os roqueiros e fazendo uma pequena introdução ao show, no palco).
Não se pode dizer que o filme tenha alguma coisa de pessoal do diretor. Tanto que ele já começa falando que fez o set pensando que era isso que os ´Stones´ queriam (mas nenhum deles gostou), recebeu a lista e ordem das canções em cima da hora (ou seja, embora tenha tido muito pouco tempo para estudá-la, o resultado é impecável). E o que faz de mais interessante é uma longa caminhada ao final, com câmera subjetiva, quando saem do palco e vão para a rua, com uma virada para os luminosos (acho que é o único ´tour de force´ do filme). Sem dúvida, a fotografia é esplêndida, com os melhores do gênero e a ajuda de Albert Maysles, que fez o lendário “Gimme Shelter” (1970) com os ´Stones´. Fora disso, obviamente, é preciso gostar do grupo para curtir o show, que traz seus maiores sucessos (até ´As Tears Go By´). As câmeras não perdem um instante, registram tudo com precisão, sem se preocupar muito com a platéia, que aparece de background.
Há poucos testemunhos e, ainda assim, antigos, no começo e no final do documentário, quando Mick Jagger diz, para o entrevistador Dick Cavett, ser capaz de se imaginar fazendo shows aos 60 anos. E ele em cena Ă© um demĂ´nio, sem parar um minuto, num show de vitalidade e garra, difĂcil de igualar. É curioso como eles todos estĂŁo muito envelhecidos, principalmente de rosto, pagando o preço pela vida de sexo, drogas e rock n´roll. Mas isso nĂŁo interfere no resultado, que nĂŁo Ă© bem um documentário; Ă© mais um show filmado (e muito bem). (Rubens Ewald Filho na coluna Clássicos de 4 de abril de 2008)
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Diretor de alguns maiores documentários de mĂşsica da histĂłria do cinema, como O Ăşltimo concerto de rock (1978), Feel like going home (2003) e No direction home: Bob Dylan (2005), o norte-americano Martin Scorsese chega agora a nova realização do gĂŞnero, acompanhando muito de perto com sua câmara as evoluções no palco do Beacon Theatre do grupo de rock Rolling Stones em The Rolling Stones: shine a light (Shine a light; 2008). Scorsese Ă© um mestre de filmar e une admiravelmente mĂşsica e cinema em seu novo documentário; discreto e preciso, nĂŁo faz pirotecnia cinematográfica para amaciar os efeitos de sua objetividade documental sobre as cabeças que nĂŁo curtem o rock e possam eventualmente aborrecer-se com a musicalidade constante e trĂŞfega que se apresenta em cena; tambĂ©m nĂŁo se apaga como diretor, a despeito do estrelismo enĂ©rgico de Mick Jagger, Keit Richards e sua turma, mostrando sua perĂcia em captar a essĂŞncia do espetáculo que se está encenando (o espetáculo Ă© tanto o show musical dos Stones quanto o filme musical de Scorsese).
Feito para atingir mais diretamente os sentidos do observador, Shine a light Ă© um luminoso reencontro com o cinema de Scorsese; e certamente aqui o cineasta Ă© mais inventivo e inquieto que em seus mais recentes filmes de ficção, os quadradões O aviador (2004) e Os infiltrados (2006). Sem chegar ao delĂrio fĂlmico de No direction home: Bob Dylan, este Shine a light Ă© mesmo assim portador de densas emoções musicais e cinematográficas. Inserindo na montagem basicamente centrada no show cenas antigas dos Stones bem mais jovens fazendo declarações provocativas e irĂ´nicas, Shine a light estabelece o contraste aparente entre a juventude e a velhice dos roqueiros, mas mostra que o conceito de velhice parece ter mudado depois dos anos 60, pois há ainda as mesmas almas jovens que impulsionam os já degenerados corpos. Scorsese, o diretor, aparece dirigindo as cenas no prĂłlogo e no epĂlogo do filme.
Enfim, um prato cheio para quem se delicia com mĂşsica e com cinema. (Eron Fagundes)
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Os 12 primeiros minutos do filme mostram as divergĂŞncias entre Scorsese e Mick Jagger, onde um queria uma coisa e outro queria outra coisa, a começar pelo set list de mĂşsicas onde Scorsese montou uma lista de mĂşsicas que ele achava serem as mais apropriadas e Mick Jagger montou outra, mas sĂł na hora que o show começou foi que Scorsese recebeu a lista completa das canções. TambĂ©m teve um momento de tietagem, onde Bill Clinton, famĂlia e amigos de Clinton, foram antes do show começar para cumprimentar a todos, e o prĂłprio Clinton foi quem abriu o espetáculo. Finalmente entĂŁo começa o show no Beacon Theater, um lugar muito legal, com uma produção belĂssima. A banda dispensa qualquer apresentação e sĂŁo acompanhados de backing vocals, metais e outros instrumentos. Entre algumas canções aparecem gravações muito antigas de entrevistas com Mick Jagger e os outros integrantes. Vale sempre comentar todo o pique que eles ainda tĂŞm, pois esses sessentões se apresentam como se ainda tivessem 20 anos de idade, incrĂvel!
No show tem sucessos como “Jumpin Jack Flash”; a excelente “As Tear Goes By” (que Mick Jagger disse que deram para outro gravar quando compuseram pois tinham vergonha dela); “Just My Imagination (Running Away With Me)” do Temptations; a clássica “Sympathy for The Devil” com direito a Jagger caminhando em meio Ă galera que canta em coro com ele; a animadĂssima “Start Me Up”; e para finalizar a mais conhecida deles “Satisfaction”. Os convidados foram Jack White III do White Stripes cantando em “Loving Cup”; Buddy Guy cantando e tocando guitarra no blues ”Champagne and Reefer” (antiga de Muddy Waters); e por Ăşltimo a cantora Chirtina Aguilera na mĂşsica “Live With Me”. (Robson CandĂŞo)