Crítica sobre o filme "Minha Esperança É Você":

Eron Duarte Fagundes
Minha Esperança É Você Por Eron Duarte Fagundes
| Data: 09/09/2010
É bem conhecido o litígio cinematográfico entre o cineasta John Cassavetes e o produtor Stanley Kramer ao erigirem o filme Minha esperança é você (A child is waiting; 1963). Relegado injustamente a segundo plano na filmografia de Cassavetes, certamente porque o próprio diretor rejeitou a autoria depois que foi despedido da produção por Kramer, Minha esperança é você conserva muito do rigor melancólico e austero do realizador; retratando com um desabusado olhar o universo de crianças deficientes num instituto especializado, o filme em certo momento hesita entre a tese de reduzir a expecionalidade infantil a um gueto e a outra ideia segundo a qual o excepcional pode perfeitamente viver no seio da sociedade normal; as concessões melodramáticas encaminham o drama para uma posição mais conformista (a chegada no final do filme de um novo garoto recepcionado pela professora), mas mesmo assim a força de atração psicológica das personagens é a mesma que há em sua obra-prima Uma mulher sob influência (1974).

Judy Garland como a professora Jean Hansen e Burt Lancaster como o diretor da instituição Matthew Clark lideram o elenco. Mas é de sua esposa Gena Rowlands como a mãe do deficiente Reuben que Cassavetes extrai uma marcação cinematográfica extraordinária, especialmente na sequência em que ela confronta seu obscuro e afastado amor pelo filho com a dedicação direta e objetiva da professora ao garoto deficiente dentro da instituição. Exemplar muito citado das discrepâncias entre a arte e a indústria no cinema, e o mote final para que Cassavetes abandonasse Hollywood, Minha esperança é você não deve ser desprezado: é ainda elevado o nível de acuidade dramática e fílmica de Cassavetes neste filme. Como poucos, ele sabe inserir sua personalidade mesmo entre os desmanches de um produtor abelhudo. (Eron Fagundes)