Por Wally Soares
| Data: 16/09/2010
Ao abordamos um filme como Caso 39 em pleno século XXI, já podemos descartar completamente o elemento surpresa. Lançado em época onde filmes são condensados miseravelmente no ato de sua divulgação, a revira-volta pequena (mas impressiva) contida em algum momento de Caso 39 não é surpresa nenhuma para quem viu qualquer material do filme antes de conferi-lo. Só por aÃ, o novo filme de Christian Alvart já perde muito. Infelizmente, porém, este não é o único problema da obra, um thriller sobrenatural inconsequente e irregular que abusa da paciência da audiência ao introduzir elementos estapafúrdios e conceber resoluções intragáveis, resultando em um anti-clÃmax tão leviano quanto o restante do longa-metragem.
O tal caso 39 do tÃtulo é o desafio que a assistente social Emily Jenskins (Renée Zellweger) precisa enfrentar. Dedicada, Emily dá a vida pelo trabalho e segue firme com seus ideais ao abordar famÃlias estilhaçadas em busca (ou não) de recuperação. O caso 39 é o de uma garota de 10 anos sendo assediada pelos pais. Ao investigar o caso mais a fundo, Emily se dá conta de que o abuso é muito mais perigoso do que o normal, tendo que tomar medidas drásticas com suas próprias mãos, abordando um caso delicado onde a ausência de provas concretas descarta qualquer investigação criminal mais politizada.
Como já foi dito, a obviedade do elemento-surpresa (que farei o possÃvel para não abordar nesta crÃtica), anula todas e quaisquer tentativas de Christian Alvart de imprimir suspense no primeiro ato de Caso 39, onde tudo ainda é um mistério nebuloso e instigante. Os melhores momentos do filme estão aqui, em sequências curiosas e envolvimento atmosférico. Tudo, porém, em vão. Já que – e isso é fato – a maior parte das pessoas que forem conferir a obra já sabem muito bem do que se trata todo o conflito. Para os que não souberem, porém, a primeira meia hora de Caso 39 pode ser proveitosa e eficiente para o que o gênero propõe. Quando o grande mistério começa a ser “desvendadoâ€, porém, o que deveria ser chocante e tenso se revela banal e frÃgido. Pouca coerência para uma dramaturgia inconsistente, cujos diálogos risÃveis nos tiram do clima proposto e apenas iluminam as vulnerabilidades tão grandes da obra.
Se já é meio bizarro ter que aceitar um momento envolvendo um forno – que passa muito perto do incrédulo, mas é levemente justificado por alguns pontos – os eventos que tomam conta da maior parte da metragem não envolvem por sua constante transparência e implausibilidade. Não afirmo nem por sequências especÃficas, mas por ações e diálogos provenientes de personagens que deveriam saber melhor. Seja pela falta de verossimilhança ou mesmo pela consistência dramática, após uma hora de filme não há nada que possa segurar minimamente sua atenção para os eventos chatos que tomam conta do filme. Não há foco aqui. A direção carece vitalidade e o roteiro desanda completamente, sem saber exatamente que tipo de história quer contar e – pior – perdendo totalmente qualquer senso de humanidade para com seus personagens a partir do momento que estes passam a agir com inconsequência.
Dito isso, chegamos a um dos maiores problemas de Caso 39: Renée Zellweger. Atriz que já foi um dia excepcional e adorável, nos últimos anos parece que Renée tem feito questão de aceitar papéis cada vez piores, no meio tempo deturpando suas expressões faciais com cirurgias estéticas. Atingiu o ápice da ruindade em Recém-Chegada e abre Caso 39 mais contida, com um rosto mais polido (?) e maior distinção. Porém, a partir do momento que a obra começa a requerer algo a mais dela, sua performance desaba – e, acompanhando, o filme também. Um amontoado de expressões falsas, clamores irritantes e gritaria ofegante, a atuação de Renée bem que sintetiza todo o filme em si, que é uma bagunça colossal.
Em contraponto à Zellweger, a jovem Jodelle Ferland até que oferece um desempenho notável como Lilith. Ela é claramente enfraquecida, porém, pela irregularidade do texto. Se em momentos ela soa genuÃna, em outras surge artificial. Culpa do roteirista Ray Wright, que dá continuidade ao péssimo seu Pulse com um filme que é um erro de cálculo tão grande quanto aquele havia sido. Caso 39 tem um apuro estético até adequado – apesar da péssima montagem e dos cortes frenéticos desnecessários de Alvart – e inclui uma sequência longa de terror que poderia ter sido memorável. No entanto, apostando excessivamente nos efeitos especiais e esquecendo completamente da criatividade, o filme vai ruindo pouco a pouco, até atingir a completa mediocridade em seu desfecho burocrático. (Wally Soares)