Crítica sobre o filme "Príncipe da Pérsia: As Areias do Tempo, O":

Rubens Ewald Filho
Príncipe da Pérsia: As Areias do Tempo, O Por Rubens Ewald Filho
| Data: 18/09/2010

Esta é a nova aventura do produtor Jerry Bruckheimer, veterano mestre do gênero, mas que foi relativamente mal de bilheteria na primeira semana de exibição nos EUA (talvez por bater de frente com o novo Shrek e Sex and the City 2). Isso fez com que surgisse a dúvida sobre o destino de uma possível série e de Jake Gyllenhaal como astro de filmes de ação (particularmente acho que o moço de Brokeback Mountain, embora grandão e forte, tem uns olhos mortiços, preguiçosos que não o qualificam para grandes lances). Mas a verdade é que, como adaptação de uma série de jogos de vídeo-game, fica até bem acima da péssima média do gênero (curiosamente, o jogo foi lançado durante a Guerra do Golfo). Pensando bem, não deixa de ser um risco fazer uma aventura das Mil e uma Noites, hoje em dia, quando os americanos estão envolvidos em ao menos duas fronteiras do Oriente Médio, ou seja, estão em guerra no Afeganistão e Iraque e loucos para começar outra no Irã. Não seria exatamente a temática favorita para eles (e o filme foi rodado no mesmo Marrocos que Sex and the City 2).

As primeiras imagens do longa mostram o protagonista ainda criança e chegam a lembrar a história de Aladim. O herói é um garoto de rua chamado Dastan, adotado por um rei Sharaman que admira sua coragem e bravura e o cria junto com seus dois filhos de sangue real, Tus (Richard Coyle) e Garsiv (Toby Kebbell). Anos depois, já adultos, eles, sob falso pretexto, resolvem atacar uma cidade muito rica que, segundo eles, estaria produzindo armas perigosas e não permitidas. O que é mentira. Mesmo que para nós seja absolutamente clara a analogia com os fatos recentes, a história ganha contornos políticos (o filme seria uma parábola sobre a invasão dos EUA no Iraque com um pretexto mentiroso de que o país tinha armas nucleares). Mas aqui se trata de uma acusação semelhante que se refere a uma adaga com poderes místicos. Ela solta areia mágica capaz de fazer o tempo parar, melhor ainda, voltar atrás, dando chance para que as pessoas refaçam tudo e corrijam os erros.

É curioso que, embora seja tudo evidente, a crítica americana, como sempre pouco atenta, não percebeu nada. Mas isso pode ter concorrido para o relativo fracasso do filme, que não chega a cair no genérico do gênero, porque é conduzido pelo competente inglês Mike Newell, de Quatro Casamentos e um Funeral e Harry Potter. O diretor consegue lhe dar ritmo e senso de humor (principalmente na figura do bom ator Molina, que, aliás, eu acabei de ver na Broadway em Red). Menos feliz é participação de outro bom ator britânico, Kingsley, que faz um ministro de honra duvidosa, mas desta vez carrega demais nas tintas. Também não me impressionei com a heroína, a inglesa Gemma Aterton, que é a mesma de Fúria de Titãs em que novamente passou em branco (é agradável à vista, mas igual a dezenas de garotas brasileiras, inclusive que poderiam fazer igual, ou melhor). Só para lembrar, a atriz fez Strawberry Fields em Quantum of Solace.

Com enorme quantidade de efeitos digitais ou especiais, o filme é movimentado, fácil de assistir e nem mais, nem menos ofensivo aos árabes do que muitos outros. Acho melhor conduzido do que Fúria, por exemplo, e, como disse, o passado de vídeo-game não é um bom pedigree.