Crítica sobre o filme "Dia dos Mortos":

Jorge Saldanha
Dia dos Mortos Por Jorge Saldanha
| Data: 12/10/2010
George A. Romero é o pai do moderno filme de zumbis. Ele praticamente definiu o gênero com a trilogia A NOITE DOS MORTOS VIVOS (1968), ZOMBIE – O DESPERTAR DOS MORTOS (1978) e este DIA DOS MORTOS (1985). A partir de seus filmes, tudo o que se realizou sobre zumbis seguiu, em maior ou menor grau, o padrão estabelecido pelo cineasta, inclusive a nova série de TV THE WALKING DEAD, de Frank Darabont. A diferença é que muitas dessas produções se prenderam apenas ao aspecto “trash†da obra do diretor – entenda-se: cabeças de zumbis explodindo, humanos sendo eviscerados pelos mortos-vivos, etc. Porém, o que sempre diferenciou as realizações de Romero foram a ironia e o comentário social por ele empregados, abordando temas como o racismo no primeiro filme, o materialismo / consumismo no segundo, e por fim o militarismo no terceiro.

Quando estreou em 1985, DIA DOS MORTOS, que da trilogia é o preferido de Romero, não foi bem recebido nem mesmo pelos fãs, que estranharam a falta de humor e, principalmente, de personagens humanos capazes de criar empatia com o público. De fato, seja entre os “bons†e os “mausâ€, nenhum personagem cativa, para o que possivelmente colaborou o desempenho medíocre, para dizer o mínimo, do elenco. Já do lado dos zumbis, Bub, a cobaia do Dr. Logan (Richard Liberty), é quem concentra as atenções e merece a torcida do espectador. De qualquer modo, o que para muitos é uma falha vem ao encontro da proposta do cineasta: ao mostrar um grupo isolado de civis dominados pela tirania militar, a mensagem do filme fica bem clara: o pior inimigo dos humanos são eles mesmos.

Apesar de ser a produção mais refinada de Romero até então, o longa mostra seus problemas a partir de um roteiro sem inspiração, prejudicado que foi pela mudança de rumos que o filme tomou. Originalmente ele seria bem mais ambicioso e o roteiro era bem mais longo, porém os cortes de orçamento limitaram bastante as pretensões de Romero, que teve de fazer várias alterações na história. Também não ajudaram o elenco de segunda linha e a troca de uma trilha sonora inspirada, como a de Goblin para O DESPERTAR DOS MORTOS, por um equivocado score de sintetizadores (ao invés de satírica, a música de John Harrison é pura e simplesmente ruim). A crítica ao militarismo fica esvaziada pela caracterização clichê e caricata dos soldados, o que até poderia funcionar se o filme não se levasse tão a sério.

Problemas à parte, um filme de Romero sempre terá algo para agradar a quem curte o gênero, e para isso colaboram e muito os excelentes efeitos de maquiagem criados pelo magistral Tom Savini, que não economizou no uso de tripas bovinas para criar algumas das mais memoráveis – e nojentas – cenas já mostradas no gênero. E ao final, quando vemos o zumbi Bub (Howard Sherman) perseguir a tiros o despótico Capitão Rhodes (Joseph Pilato), não temos como deixar de pensar que mais uma vez o Mestre, ainda que aos trancos e barrancos, deixou o seu recado.

Após um longo recesso Romero retornou ao mundo dos zumbis em 2005 com TERRA DOS MORTOS, e de lá para cá também realizou DIÃRIO DOS MORTOS (2007) e SURVIVAL OF THE DEAD (2010), sendo que estes dois últimos foram lançados diretamente em vídeo em quase todo o mundo. Sinal de que Romero deixou de fazer filmes considerados revolucionários? Acredito que sim, até pelo simples fato de que ele já os fez…