Crítica sobre o filme "DUNA":

Jorge Saldanha
DUNA Por Jorge Saldanha
| Data: 29/10/2010
DUNA, do escritor Frank Herbert, é um incontestável clássico da moderna ficção científica. O livro foi lançado em 1965, e tentativas de levá-lo ao cinema começaram a partir de 1971. Durante toda a década nomes como Arthur P. Jacobs, Alejandro Jodorowsky, Dan O’Bannon e Ridley Scott envolveram-se no projeto, considerado por muitos infilmável devido à trama longa e complexa – algo semelhante ao que aconteceu por muito tempo com a trilogia O SENHOR DOS ANÉIS, de Tolkien. Finalmente, em 1981 o produtor Dino De Lauretiis dispensou Scott, que queria (sabiamente) fazer dois filmes, e contratou David Lynch, que apesar de nunca ter lido o livro e não ter interesse em ficção científica, topou em não apenas ser o diretor, mas também a escrever o roteiro.

Com um orçamento alto para a época – 40 milhões de dólares – DUNA foi filmado no México com um gabaritado elenco norte-americano e europeu. Lançado em 1984 após grande expectativa, o filme foi massacrado pela crítica e fracassou nas bilheterias, tendo faturado menos da metade do que foi gasto em sua produção. Hoje, ao rever DUNA, é fácil perceber porque ele foi tão criticado. Talvez em razão de uma conturbada produção, na qual Lynch afirmou ter havido excessiva interferência dos executivos, o longa alterna momentos brilhantes com outros frustrantes, muitas vezes parecendo ser uma mera sinopse da obra de Herbert. Para tentar preencher os vazios da trama e explicá-la aos espectadores, há um excesso de narração e seguidamente ouvimos os pensamentos dos personagens, o que acaba tirando a expectativa do que está para acontecer.

O ótimo elenco (no qual se inclui Patrick Stewart, futuro Capitão Picard e Professor Xavier) dá o melhor de si, mas muitas vezes a caracterização ridícula ou grotesca de alguns personagens, originada no gosto de Lynch pelo bizarro, acaba prejudicando seus esforços. Apesar do grande orçamento e do ótimo trabalho com miniaturas, alguns efeitos visuais, especialmente os que empregaram técnicas de combinação de imagens e de controle de movimentos, mesmo para a época já deixavam a desejar. Por fim a trilha sonora instrumental da banda Toto, misturando pop com orquestra, muitas vezes soa deslocada (salva-se o ótimo tema principal de Brian Eno, majestoso e à altura da épica aventura). De qualquer forma o criativo desenho de produção retro-futurista, as criaturas do especialista Carlo Rambaldi (ALIEN, E.T.), o belo figurino e um ótimo trabalho de pinturas de fundo ajudam a criar algumas imagens realmente memoráveis.

Hoje DUNA é considerado uma curiosidade, talvez a maior das excentricidades da filmografia de David Lynch. Apesar de ser unanimemente considerado uma adaptação fraca, o filme é cultuado inclusive por muitos fãs da saga de Herbert. Que, por sinal, prossegue com sua sina, já que posteriormente foi adaptada em duas minisséries do Sci Fi Channel. Se por um lado, graças à maior duração, elas puderam ser mais fiéis aos livros que as inspiraram (DUNA e OS FILHOS DE DUNA), também sofreram com as precariedades típicas das produções do canal. Uma nova esperança é a versão que está sendo desenvolvida pelo diretor Pierre Morel (BUSCA IMPLACÃVEL) e o roteirista Chase Palmer, que já anunciaram que serão os mais fiéis possíveis ao material original. Desejemos a eles boa sorte, já que vão precisar, e muito, dela.