Crítica sobre o filme "Alien Anthology":

Jorge Saldanha
Alien Anthology Por Jorge Saldanha
| Data: 19/11/2010
A franquia cinematográfica ALIEN marcou época em vários gêneros - ficção científica, terror, suspense e ação -, com cada um dos quatro filmes até agora lançados buscando trazer ao público a visão pessoal de seu diretor. Dentre eles, temos dois que são clássicos absolutos e outros dois que, em virtude de problemas variados, não atingiram tal patamar, mas que, a seu modo, não deixam de ser experiências interessantes e por vezes fascinantes. Aproveitamos este lançamento da antologia em alta definição (que para alívio de muitos não inclui os dois crossovers com PREDADOR) para fazermos uma breve retrospectiva de cada produção. Mas atenção: apesar de saber que dificilmente alguém que esteja lendo esta resenha ainda não tenha assistido a estes filmes, fica o alerta de que o texto a seguir contém “Spoilersâ€:

ALIEN - O OITAVO PASSAGEIRO (1979), além de ser o primeiro exemplar da popular cinessérie, é o filme que consagrou o diretor Ridley Scott (BLADE RUNNER, GLADIADOR) e revelou a então novata Sigourney Weaver, que interpretou a tenente Ellen Ripley. Nele tudo funciona: a direção perfeita, os efeitos visuais de Brian Johnson (maquetes) e Carlo Rambaldi (efeitos da cabeça do monstro), a atmosférica trilha de Jerry Goldsmith, o elenco afiado, os cenários sinistros e, principalmente, o Alien em si, fruto da imaginação (doentia?) do artista plástico suíço H. R. Giger. O terror começa quando os sete tripulantes do cargueiro espacial Nostromo investigam uma transmissão vinda de um desolado planeta, e lá, em uma nave alienígena abandonada há séculos, descobrem ovos de uma forma de vida que se reproduz dentro de um hospedeiro. Levada para o Nostromo na forma que ficou conhecida como facehugger, agarrada ao rosto de um dos tripulantes, a criatura começa a se metamorfosear em um pesadelo que apenas é visto de relance quando ataca para matar. O ponto alto do filme é o conceito à época inovador, criado pelo roteirista Dan O´Bannon, de que formas de vida alienígenas podem se apresentar em diferentes formas e estágios no seu ciclo vital, adaptando-se a qualquer meio ambiente. Outro aspecto no qual o filme inovou foi mostrar uma mulher (Ripley) como uma líder forte, uma personagem bem mais consistente do que as figuras meramente decorativas, comuns em tantas produções do gênero. E melhor ainda, fazendo dela o único sobrevivente capaz de enfrentar o monstro. Mas como ninguém é de ferro, Ridley Scott incluiu no momento climático o afamado “strip-tease às avessas†de Sigourney Weaver. Assim como no lançamento da QUADRILOGIA ALIEN em DVD, temos a opção de assistir a Versão de Cinema ou a Versão do Diretor/Estendida de cada filme. Para a Versão do Diretor de ALIEN, Ridley Scott optou por manter praticamente a mesma duração original (na verdade, ele reduziu o filme em um minuto), subtraindo curtas cenas da versão de 1979 e adicionando algumas das que, no lançamento original em DVD, estavam disponíveis nos extras. Elas incluem a tripulação ouvindo a transmissão alienígena na ponte do Nostromo, Kane ajustando sua arma antes de olhar o interior do ovo do Alien na nave abandonada, alguns novos takes de Brett procurando pelo gato Jonesy e uma curta cena do Alien batendo na gaiola de Jonesy. Mas há principalmente duas cenas que tornam a Versão do Diretor efetivamente diferente da original. Na primeira, do lado de fora da enfermaria onde Ash (Ian Holm) e Dallas (Tom Skerrit) examinam o facehugger em Kane (John Hurt), Lambert (Verônica Cartwright) esbofeteia Ripley (Sigourney Weaver) por esta não ter permitido que a equipe de exploração entrasse na nave trazendo o Alien. Ficamos sabendo nos extras, pela própria Cartwright, que ela de fato acertou o rosto de Weaver. Esta cena marca o início da tensão que existe entre as duas mulheres durante boa parte do filme, e que ficou sem explicação na versão final. Já a segunda sequência de destaque foi por muitos anos comentada pelos fãs. Nela, após encontrar os corpos sem vida de Lambert (Cartwright) e Parker (Yaphet Kotto), Ripley (Weaver), em seu caminho de fuga, descobre o ninho do Alien, no qual estão os corpos de Dallas (Skerrit) e Bret (Harry Dean Stanton), dentro de casulos, impregnados pela criatura. Dallas, agonizante, implora a Ripley que o mate. Chorando e com relutância, ela o incinera com o lança-chamas. Interessante notar que, nos extras, a opinião generalizada, inclusive do próprio Scott, é que a sequência quebra o ritmo alucinado da fuga de Ripley, e mesmo assim o diretor optou por incluí-la na Versão do Diretor. Além disso, a inserção desta cena gera uma contradição com o que foi estabelecido no filme seguinte, já que no Nostromo não havia uma Rainha Alien para botar ovos e, consequentemente, não haveria novos facehuggers para impregnar as vítimas.

ALIENS - O RESGATE (ALIENS, 1986) é bem diferente do filme original de Ridley Scott. Estruturalmente é um thriller de ação com a cara do diretor James Cameron (O EXTERMINADOR DO FUTURO, AVATAR), que co-escreveu o roteiro com David Giler e Walter Hill (produtores da série). Tecnicamente superior a ALIEN, podemos destacar nesta continuação o incrível trabalho de Stan Winston e sua equipe na criação dos vários monstros (em especial da Rainha Alien), e do compositor James Horner, que criou uma de suas melhores trilhas sonoras. O elenco é integrado por muitos coadjuvantes de talento como Michael Biehn, hoje infelizmente relegado a produções classe B, Lance Henriksen, que após muitos papéis de vilão estrelou a série de TV MILLENIUM e retornou em ALIEN VS. PREDADOR, e Bill Paxton, que posteriormente trabalhou nos sucessos de bilheteria TWISTER e TITANIC. Na trama Sigourney Weaver retorna como Ripley, que após sobreviver ao primeiro encontro com o monstruoso Alien, é resgatada de um sono criogênico que durou mais de 50 anos. Suas explicações sobre o alienígena e o destino da tripulação do Nostromo são recebidas com ceticismo, até o misterioso desaparecimento de colonos em LV-426, o planeta onde tudo começou. Decidida a acabar com o pesadelo, ela se junta a uma equipe de fuzileiros altamente equipados, que são enviados para investigar o sumiço dos colonizadores. Chegando ao planeta eles encontram uma única sobrevivente, a menina Newt (Carrie Henn), que lhes revela que todas as pessoas foram colocadas em casulos pelos Aliens. Os fuzileiros não tardam a descobrir, da pior maneira possível, que agora existem centenas de alienígenas, gerados por uma enorme Rainha. No clímax da história, Ripley tem de reviver todo o seu horror para salvar Newt das garras da Rainha Alien. A Versão Estendida de ALIENS resgata 17 minutos de cenas retiradas da Versão de Cinema, e há algumas que se destacam, como a que se passa dentro da estação espacial, em um parque terrestre simulado. Burke (Paul Reiser) encontra Ripley (Weaver) e lhe dá a notícia de que a sua filha, Amanda Ripley, já uma velha senhora, morrera há dois anos. Chocada, Ripley começa a chorar, dizendo que prometera voltar a tempo de comemorar o 11º aniversário da filha. Comenta-se que Sigourney Weaver nunca perdoou James Cameron por ter eliminado esta sequência da Versão de Cinema, já que ela contém um elemento vital da história: Ripley tivera uma filha com a qual pouco conviveu, o que explica o seu forte instinto maternal em relação a Newt. Sem dúvida, a sequência mais interessante (e longa) é a que mostra a colônia antes da chegada dos fuzileiros. Temos uma visão geral das instalações de processamento atmosférico e de alguns veículos. Após alguns diálogos sem maior importância, vemos Newt, seus pais e irmão encontrarem a nave abandonada que continha os ovos da criatura em ALIEN. Enquanto os pais entram nela para explorar, as crianças ficam à espera no veículo. Algum tempo depois, a mãe retorna desesperada, trazendo consigo o pai com um facehugger agarrado ao rosto. Segundo Cameron, este trecho não foi incluído na versão original porque tirava o suspense do que os fuzileiros estavam por encontrar em LV-426. Em outra cena adicionada, Ripley e os fuzileiros, agora comandados por Hicks (Michael Biehn), examinam os mapas da instalação e fazem barricadas para impedir o avanço dos Aliens. Nelas são instaladas sentinelas robôs, na verdade poderosas metralhadoras acionadas por sensores de movimento. Mais adiante essas metralhadoras entram em ação, e vários Aliens são despedaçados pelas armas. Com ansiedade crescente os fuzileiros veem, através de monitores, as sentinelas, uma a uma, ficarem sem munição. Sem dúvida é uma sequência tensa, mas é prejudicada pela repetição da mesma cena de um Alien sendo destroçado. Exclusivamente para o Blu-ray o diretor Cameron, usando CGI, corrigiu uma falha notória na cena em que o androide Bishop, cortado pela metade, evita que Newt seja ejetada da nave. Na cena original, quando o ator Lance Henriksen se espicha para agarrar a mão da menina, dá para notar claramente que a parte inferior de seu corpo está em um buraco no chão do set.

ALIEN³ (1992), apesar do enorme sucesso do filme anterior, demorou para sair em virtude de vários contratempos de produção, e infelizmente não foi bem recebido nem pela crítica e nem pelo público. Se no primeiro filme a intervenção criativa de várias pessoas resultou em sucesso, no terceiro as diferentes visões contrastantes causaram vários problemas. As dificuldades começaram já na definição da história e consequente elaboração do roteiro, e ao final Vincent Ward (NAVIGATOR - UMA ODISSEIA NO TEMPO), que fora inicialmente contratado para escrever e dirigir o filme, foi creditado como autor da história, e como roteiristas David Giler, Walter Hill e Larry Ferguson. Porém, a verdade é que muito pouco do roteiro inicial de Ward foi aproveitado. O diretor David Fincher (SEVEN - OS SETE PECADOS CAPITAIS, O CURIOSO CASO DE BENJAMIN BUTTON) teve sérias desavenças com a Fox, e a versão final foi profundamente alterada pelo estúdio. Chegando às telas, nem o grande visual, a direção de arte, a ótima trilha de Elliot Goldenthal ou a interessante versão quadrúpede do Alien foram suficientes para agradar os fãs e atrair o público em geral. Após a fuga ao final de ALIENS, a nave de Ripley (Weaver) cai em Fiorina 161, um inóspito planeta cujos únicos habitantes são ex-condenados vindos de prisões de segurança máxima. Ripley é a única que sobrevive à queda, passando a conviver com os ex-detentos, que são uma espécie de monges do espaço que fizeram voto de castidade. Ou seja, a “paz de espírito†da turma é quebrada pela chegada da tenente. O medo de Ripley de que um Alien estivesse a bordo de sua nave é confirmado quando corpos mutilados começam a surgir nos túneis da primitiva instalação. E pior, além de careca (o planeta é infestado por piolhos e todos tem que raspar a cabeça) ela descobre que está impregnada com uma Rainha Alien, e que uma equipe da Weyland-Yutani está a caminho para levá-la à Terra e utilizar a Rainha para fins bélicos. Há alguns anos, quando soube do lançamento em DVD das versões estendidas destes filmes, a primeira coisa que me veio à cabeça foi: trinta minutos a mais em ALIEN³, vai ficar muito chato... Por anos se falou dos conflitos que David Fincher teve com o estúdio e das muitas cenas que ficaram na sala de edição. Dado o resultado final - um filme de produção caótica que frustrou criativamente o diretor e, também, os fãs da série, havia a esperança de que, algum dia, o filme fosse lançado em uma nova montagem, mais fiel à visão original de Fincher. Bem, isso eventualmente aconteceu e agora temos também aqui, em alta definição, duas versões separadas do filme - a original de 114 minutos e uma Versão Estendida de 144 minutos que, ressalte-se, foi feita à revelia do diretor. Fincher até foi convidado para montar a nova versão, mas numa demonstração de que certos eventos não foram esquecidos, ele não quis se envolver no projeto. Dizem, contudo, que ele aprovou a versão que o produtor da antologia, Charles de Lauzirika, montou em 2003 com base no roteiro original, em uma primeira cópia de trabalho, notas do diretor e do montador e outros registros da produção. Ou seja, essa versão inclui todas as cenas que constavam na primeira montagem de Fincher e que posteriormente foram cortadas pelos executivos do estúdio. Determinadas cenas foram finalizadas com efeitos visuais em CGI, utilizando-se storyboards e outras referências deixadas por Fincher, a fim de obter o resultado que o cineasta pretendia. O filme chega de fato a melhorar um pouco, não fica mais chato e possibilita que tenhamos uma ideia do que o diretor originalmente queria fazer: a atmosfera é mais densa, os personagens são melhor explorados e há mais tensão. Nos trinta minutos de cenas inéditas, há novas e detalhadas tomadas logo ao início, mostrando Clemens (Charles Dance) encontrando o corpo de Ripley na praia e o resgate da cápsula de fuga. Segue a versão original do “nascimento†do Alien, na qual ele sai de um boi e não de um cão, e uma nova sub-trama, na qual os apenados conseguem capturar a criatura, que posteriormente é libertada por Golic (Paul McGann), e uma outra versão do final, mais longa e na qual não vemos o “parto†da Rainha Alien. Há também algumas adições e extensões de cenas menores.

ALIEN - A RESSURREIÇÃO (ALIEN RESURRECTION, 1997) foi a tentativa da Fox de, após as críticas recebidas por ALIEN³, retomar a franquia com um novo capítulo mesclando as melhores qualidades dos dois primeiros filmes, e foi com isso em mente que Joss Whedon (criador de BUFFY, A CAÇA-VAMPIROS) escreveu o roteiro. Buscando manter as distinções visuais e de estilo da série, Jean-Pierre Jeunet (DELICATESSEN) foi escolhido para dirigir o que até então era chamado de ALIEN 4. O diretor não abriu mão de trabalhar com a sua equipe habitual francesa, fazendo com que no mesmo filme trabalhassem duas equipes distintas, sem que nenhuma falasse a língua da outra. O roteiro de Whedon tomou certas liberdades com o conceito já estabelecido na série, e o resultado, somado a algumas cenas excessivamente violentas e às excentricidades típicas do diretor, tornou este o filme mais polêmico da série, e também o que fez menos sucesso. Duzentos anos após Ripley ter morrido no final do longa anterior, um grupo de cientistas a bordo da nave de pesquisa Auriga consegue clonar a ela e a Rainha Alien, a partir de amostras de seu sangue. A intenção era criar uma arma biológica definitiva, mas a nova Ripley lhes reservava algumas surpresas, já que seu corpo também possuía DNA alienígena. Um grupo de mercenários da nave Betty, entre os quais está a jovem mecânica Call (Winona Ryder), chega à Auriga com mais um carregamento de seres humanos para serem utilizados como hospedeiros dos Aliens. Porém, não demora muito para que os monstros nascidos dos ovos da Rainha escapem e passem a caçar os tripulantes da Auriga, da Betty e a própria Ripley. No entanto, entre ela e os alienígenas se estabelece uma estranha conexão, que culmina com o aparecimento de um grotesco e sanguinário híbrido humano/alienígena. A Versão Estendida de ALIEN - A RESSURREIÇÃO é oito minutos mais longa que a do cinema, inclui uma abertura alternativa que assistimos durante os créditos iniciais e um final onde a nave Betty pousa na Terra, próxima a uma Paris em ruínas. Jeunet colocou versões mais longas de algumas cenas, e outras que dão uma nova dimensão aos personagens. A melhor é uma sequência quase no início do filme, onde os cientistas mostram à renascida Ripley a fotografia de uma criança, o que lhe traz de volta as tristes memórias da menina Newt. Também, a cena de Ripley e Call na Catedral recebeu inserções. As melhorias nessa versão não são grandes, mas são curiosas e até ajudam a delinear melhor a história - pena que o “inseto alien†da abertura alternativa recebeu uma finalização pobre em CGI. Cabe destacar que, na introdução da Versão Estendida, Jeunet explica que ela não é uma verdadeira “versão do diretorâ€, mas apenas uma nova edição que irá divertir os fãs.

Após dois fracassos consecutivos, não é de se admirar que a cinessérie ALIEN tenha sido por muito tempo considerada morta e enterrada, e os medíocres crossovers ALIEN VS. PREDADOR, apesar de terem lá seus bons momentos, pareciam ter sido o último prego no caixão dos bichos gosmentos. Mas na realidade elas reforçaram o que os fãs realmente queriam: ver novos filmes solo com as criaturas. Assim a Fox deu o sinal verde para PREDADORES, lançado em 2010, e para o próximo filme de ALIEN que, pelo menos até o momento em que escrevo esta resenha, foi transmutado numa prequel em duas partes do longa original de 1979, ambas com direção de Ridley Scott. Vamos torcer para que, com Scott novamente no comando, a franquia reviva seus tempos de glória.