Crítica sobre o filme "Shrek Para Sempre":

Edinho Pasquale
Shrek Para Sempre Por Edinho Pasquale
| Data: 06/12/2010
Todos nós nos lembramos dos dois primeiros Shreks e como eles eram inventivos, anárquicos e engraçados. Mas confesso que não lembrava direito do terceiro capítulo (e me recusei a ver o show da Broadway sobre eles, que acabou sendo um grande fracasso). Fui procurar a minha crítica original e até me assustei com o que encontrei. Eu dizia: “Não há como esconder a debilidade deste terceiro capítulo onde parece não haver mais história para contar". Repetem-se velhos truques (como tentar enxertar canções pop famosas em determinados momentos), aumenta-se o número de personagens (o burro, por exemplo, tem cinco filhos burrinhos que voam e soltam fogo como a mãe dragão). Mas conseguiram o feito de não me provocar nem uma única risada (nem mesmo quando o Gato de Botas e o Burro trocam de corpo). O melhor que se pode dizer deste quarto e, dizem, último capítulo é que melhor que o anterior, ainda que sem alcançar o nível dos primeiros. É também o primeiro a ser feito em terceira dimensão e para IMAX, e sabe aproveitar os recursos tanto da profundidade quanto da tela grande. Ou seja, ao contrário de muitos outros, vale a pena ver com os óculos!

Mas o fato é que os roteiristas estão tendo problemas de encontrar novas variantes na velha história (ao contrário do filme anterior da Dreamworks que foi o encantador Como Treinar o Seu Dragão) e acabam complicando tudo, criando o que eles mesmos chamam de “metáfora metafísica†numa espécie de universo paralelo que parece ser complicado demais para crianças. Se bem que não seja essencial entender os emaranhados do roteiro para seguir a história.

Basicamente Shrek está infeliz com sua vida de pai de família, cuidando dos filhos e suportando a vida doméstica, o que é habitualmente chamado de “angústia da meia idadeâ€! Numa festa de aniversário perde a paciência e dá um urro assustador, que acaba levando-o para um encontro com o vilão da história, que é o Rumpelstiltskin, que lhe faz assinar um acordo (fazendo as funções do diabo Mefistóteles quase vendendo sua alma, entre Fausto e A Felicidade Não Se Compra ). Em troca fica livre para o que der e viver, o que a princípio lhe diverte, porém não custa muito para se aborrecer e procurar a antiga vida. Só que nada é como antes, o burro não o reconhece, o Gato de Botas ficou gordo e preguiçoso e Fiona se tornou uma líder guerreira que comanda o batalhão dos ogros. E a quem ele tem muita dificuldade de convencer de que a ama.

O filme não é então muito comédia (que vem mais do Gato e do Burro, aliás como sempre), mas aventura, com batalhas, lutas e fugas de última hora. Além de correr para cumprir um prazo e beijar Fiona, com o amor verdadeiro, com o risco de tudo desaparecer. O diretor Mike Mitchell surpreendentemente vem de outro caminho tendo feitos antes aventuras como Super Escola de Heróis, com Kurt Russell, Sobrevivendo ao Natal, com Ben Affleck, e até Gigolô por Acidente (isto é, ele fez o caminho oposto do tradicional, já que diretores de filmes de animação têm passado para os dramáticos).

O resultado fica num meio termo. Não tem muita graça, mas também não irrita ou incomoda. Tecnicamente é muito bom, movimentado, mas nunca memorável (e como os outros continua com música durante os letreiros). É visível que a inventividade está se acabando. Por isso, parece sensato acabarem com a série, enquanto é tempo. (Rubens Ewaldo Filho na coluna Clássicos. Rubens tem um blog exclusivo no portal R7)